Mad Caddies, a festa da Amizade em Lisboa
2023-10-29, RCA Club, LisboaQuatro anos depois da sua última passagem por Portugal, um RCA Club a rebentar pelas costuras recebeu os Mad Caddies numa noite daquelas que fica na memória.
Os Mad Caddies voltaram a Lisboa de novo em versão tributo. Da formação original só resta o vocalista e guitarrista Chuck Robertson. Já não há Sascha Lazor, Todd Rosenberg nem Carter Benson. E nem sequer aquela que foi, para mim, possivelmente a melhor dupla de metais de todas as bandas de 3rd wave ska, Ed Hernandez e Keith Douglas. Ainda assim, continua a valer muito a pena vê-los ao vivo.
Os músicos que acompanham o Chuck Robertson cumprem com tudo o que lhes é pedido e fazem jus às músicas que marcam os já 28 anos de carreira da banda. Na minha opinião, o grande destaque vai para o baterista Sean Seller, uma máquina! Desconheço os motivos de tantas trocas de alinhamento, mas acredito que a vida não seja fácil para bandas fora do mainstream. Por cada estrela pop que canta com auto-tune por cima de música pré-gravada em troca de um cachê milionário, existem milhares de músicos que tocam por prazer e fazem uma ginástica tremenda para pagar contas.
O concerto arranca com três músicas do álbum de 2007, “Keep it Going”, “Lay your head down”, “Backyard” e “Tired Bones”. Estão abertas as hostilidades e o público responde com fervor. Segue-se o cover de Green Day “She”, a única tirada do álbum “Punk Rocksteady”, e duas de “Dirty Rice”, “Brand new scar”, dedicada à cicatriz que o guitarrista Brandon Dion tinha feito na atribulada noite anterior em Madrid, e “Love Myself”. Com o público em perfeita sintonia com a banda, seguiu-se uma música com 20 anos, “Leavin” seguida de duas novas músicas do álbum que será editado brevemente, “Beautiful bed” e “Arrows”.
Depois de uma referência ao facto de todos os elementos da banda serem pais, os Dad Caddies, e um agradecimento a todos aqueles que ficaram a tomar conta das crianças, grandes ou pequenas, para que os pais pudessem ir ao concerto deste domingo, seguiu-se uma sequência de autênticos clássicos da banda, “Contraband”, “Road Rash”, “Weird beard” e “Villains”. Antes de saírem para a pausa tempo ainda para “Shoot out the lights”, “Drinking for 11” e “Coyote”, esta última um bom exemplo do que faz os Mad Caddies tão interessantes: não nos servem apenas shots de ska concentrado, pegam no ska e misturam-no com vários estilos, punk, reggae, ragga, dixieland jazz, cumbia, etc. Conseguem manter as músicas sempre dinâmicas e interessantes.
No encore, de novo duas músicas do tal álbum que estará para sair, “Run” e “Palm tree & pines”. Segue-se o intemporal “Monkeys” de 1998, que não estava de todo prevista na setlist e que a banda, com exceção do trompetista, aprendeu a tocar no momento, e final apoteótico com “Mary Melody”.
Pelo meio do concerto, juras de amor a Portugal, dedicatórias ao Barbas na Costa da Caparica, onde a banda aparentemente vai passar o dia de folga amanhã, e em palco um grupo de amigos genuinamente contentes pelo momento que estavam a viver no RCA Club.
Pelo meio do concerto, juras de amor a Portugal, dedicatórias ao Barbas na Costa da Caparica, onde a banda aparentemente vai passar o dia de folga amanhã, e em palco um grupo de amigos genuinamente contentes pelo momento que estavam a viver no RCA Club. O Chuck Robertson chegou mesmo a comentar que se isto fosse um jogo de futebol, considerando o ambiente da noite anterior em Madrid, se Lisboa fosse o Barcelona, tinha acabado de dar 7 ao Real no Clássico.
Em pleno concerto dou por mim a olhar em volta e a adorar aquele caos controlado. Muito crowd surfing, pessoas a cantar em plenos pulmões, cerveja e braços no ar. É uma festa de amigos que não se conhecem, mas que se recebem de braços abertos e sem quaisquer julgamentos. Pergunto-me se, enquanto espécie, estaríamos no ponto em que estamos se mais gente ouvisse Mad Caddies por esse mundo fora.
Muito grato à Hell Xis por continuar a trazer bandas destas a Portugal, muito grato ao RCA Club por continuar a abrir as suas portas para estes concertos e muito grato aos Suspeitos do Costume pela primeira parte energética. Muito grato, também, por ver que ainda existe público que faz com que compense o esforço que as bandas fazem para se desviar do seu caminho e virem até ao nosso cantinho à beira-mar plantado para nos darem uma das melhores coisas que podemos ter: música ao vivo.
[Este texto é dedicado ao meu amigo Chico. De todas as vezes que vi os Mad Caddies por aí nos últimos 15 anos, esta foi a primeira vez que não o tive ao meu lado a cantar e saltar. Ele está vivo e está bem. Só não veio por compromissos de adulto.]
SETLIST
- Lay your head down
Backyard
Tired bones
She
Brand new scar
Love myself
Leavin
Beautiful bed
Arrows
Contraband
Road Rash
Weird beard
Villains
Shoot out the lights
Drinkin for 11
Coyote - – Encore –
Run
Palm trees & pines
Monkeys
Mary Melody