mad caddies 2

Mad Caddies, a festa da Amizade em Lisboa

30/10/2023

Quatro anos depois da sua última passagem por Portugal, um RCA Club a rebentar pelas costuras recebeu os Mad Caddies numa noite daquelas que fica na memória.

Os Mad Caddies voltaram a Lisboa de novo em versão tributo. Da formação original só resta o vocalista e guitarrista Chuck Robertson. Já não há Sascha Lazor, Todd Rosenberg nem Carter Benson. E nem sequer aquela que foi, para mim, possivelmente a melhor dupla de metais de todas as bandas de 3rd wave ska, Ed Hernandez e Keith Douglas. Ainda assim, continua a valer muito a pena vê-los ao vivo.

Os músicos que acompanham o Chuck Robertson cumprem com tudo o que lhes é pedido e fazem jus às músicas que marcam os já 28 anos de carreira da banda. Na minha opinião, o grande destaque vai para o baterista Sean Seller, uma máquina! Desconheço os motivos de tantas trocas de alinhamento, mas acredito que a vida não seja fácil para bandas fora do mainstream. Por cada estrela pop que canta com auto-tune por cima de música pré-gravada em troca de um cachê milionário, existem milhares de músicos que tocam por prazer e fazem uma ginástica tremenda para pagar contas.

O concerto arranca com três músicas do álbum de 2007, “Keep it Going”, “Lay your head down”, “Backyard” e “Tired Bones”. Estão abertas as hostilidades e o público responde com fervor. Segue-se o cover de Green Day “She”, a única tirada do álbum “Punk Rocksteady”, e duas de “Dirty Rice”, “Brand new scar”, dedicada à cicatriz que o guitarrista Brandon Dion tinha feito na atribulada noite anterior em Madrid, e “Love Myself”. Com o público em perfeita sintonia com a banda, seguiu-se uma música com 20 anos, “Leavin” seguida de duas novas músicas do álbum que será editado brevemente, “Beautiful bed” e “Arrows”.

Depois de uma referência ao facto de todos os elementos da banda serem pais, os Dad Caddies, e um agradecimento a todos aqueles que ficaram a tomar conta das crianças, grandes ou pequenas, para que os pais pudessem ir ao concerto deste domingo, seguiu-se uma sequência de autênticos clássicos da banda, “Contraband”, “Road Rash”, “Weird beard” e “Villains”. Antes de saírem para a pausa tempo ainda para “Shoot out the lights”, “Drinking for 11” e “Coyote”, esta última um bom exemplo do que faz os Mad Caddies tão interessantes: não nos servem apenas shots de ska concentrado, pegam no ska e misturam-no com vários estilos, punk, reggae, ragga, dixieland jazz, cumbia, etc. Conseguem manter as músicas sempre dinâmicas e interessantes.

No encore, de novo duas músicas do tal álbum que estará para sair, “Run” e “Palm tree & pines”. Segue-se o intemporal “Monkeys” de 1998, que não estava de todo prevista na setlist e que a banda, com exceção do trompetista, aprendeu a tocar no momento, e final apoteótico com “Mary Melody”.

Pelo meio do concerto, juras de amor a Portugal, dedicatórias ao Barbas na Costa da Caparica, onde a banda aparentemente vai passar o dia de folga amanhã, e em palco um grupo de amigos genuinamente contentes pelo momento que estavam a viver no RCA Club.

Pelo meio do concerto, juras de amor a Portugal, dedicatórias ao Barbas na Costa da Caparica, onde a banda aparentemente vai passar o dia de folga amanhã, e em palco um grupo de amigos genuinamente contentes pelo momento que estavam a viver no RCA Club. O Chuck Robertson chegou mesmo a comentar que se isto fosse um jogo de futebol, considerando o ambiente da noite anterior em Madrid, se Lisboa fosse o Barcelona, tinha acabado de dar 7 ao Real no Clássico.

Em pleno concerto dou por mim a olhar em volta e a adorar aquele caos controlado. Muito crowd surfing, pessoas a cantar em plenos pulmões, cerveja e braços no ar. É uma festa de amigos que não se conhecem, mas que se recebem de braços abertos e sem quaisquer julgamentos. Pergunto-me se, enquanto espécie, estaríamos no ponto em que estamos se mais gente ouvisse Mad Caddies por esse mundo fora.

Muito grato à Hell Xis por continuar a trazer bandas destas a Portugal, muito grato ao RCA Club por continuar a abrir as suas portas para estes concertos e muito grato aos Suspeitos do Costume pela primeira parte energética. Muito grato, também, por ver que ainda existe público que faz com que compense o esforço que as bandas fazem para se desviar do seu caminho e virem até ao nosso cantinho à beira-mar plantado para nos darem uma das melhores coisas que podemos ter: música ao vivo.

[Este texto é dedicado ao meu amigo Chico. De todas as vezes que vi os Mad Caddies por aí nos últimos 15 anos, esta foi a primeira vez que não o tive ao meu lado a cantar e saltar. Ele está vivo e está bem. Só não veio por compromissos de adulto.]

PRÓXIMOS EVENTOS