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Mão Morta, Mutantes

Mão Morta, Mutantes

2017-11-18, Culturgest, Lisboa
Nero
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Passados 25 anos sobre a edição de “Mutantes S.21”, os Mão Morta apresentaram em Lisboa a celebração desse álbum que, na altura, deu a conhecer a um público vasto uma banda antes conhecida apenas no meio underground nacional.

Um álbum que se tornou a principal referência para uma geração que já acompanhava a banda e aí escutou a sua plena afirmação e para outra que cresceu a ouvi-lo (como é o caso de quem vos escreve), “Mutantes S.21” é, ainda hoje, actual e axiomático na compreensão da banda, conjugando em si vários dos maiores pressupostos criativos dos Mão Morta, que possui o gene da mutação no seu ADN. O álbum foi tocado de forma integral, mas com uma nova ordenação das canções e com a inclusão de “Até Cair” (do álbum homónimo de estreia), “Velocidade Escaldante”, de “Vénus Em Chamas”, o álbum que se seguiu a “Mutantes S.21”, e “Maria Oh Maria”, de “Corações Felpudos”.

A introdução, “Shambalah”, e “Marraquexe” ainda hoje soam estranhas e desafiadoras, particularmente as estruturas musicais do tema sobre a cidade marroquina, que evocam um mundo ainda exótico para a maioria dos europeus e até dos vizinhos ibéricos. Um tema onde, como sucede no restante álbum, se cruza o universo electrónico com o eléctrico, uma das tais faces dos Mão Morta.

Mutantes foi respeitado na sua forma, mas revestido de mais peso sonoro e de uma maior densidade atmosférica.

O maior poder sonoro da amplificação contemporânea, uma mutação que a banda sofreu de forma mais notória em “Primavera De Destroços” irá potenciar os temas e a ideia de transformação que a banda sofreu também antes do próprio álbum que, na sua época, viu várias mudanças de line-up. E esse poder dá ao pós punk a força das sonoridades pós rock actuais, tornando mais pesado um tema como “Até Cair” e tornando mais pesada toda a atmosfera do próprio disco. As três guitarras de Sapo António Rafael (co-autores do álbum) e de Vasco Vaz tornam-se mesmo avassaladoras a partir de “Paris”, tema onde a mistura sonora se tornou convergência perfeita dos vários instrumentos, e essa tripla fonte harmónica criou o primeiro momento arrebatador do concerto, através dos acordes “bosfóricos” que compõem “Istambul”.

E se até aí a banda dera a sensação de estar sob um espartilho formal, a partir daqui houve uma intensificação, num vertiginoso crescendo, das cargas emocionais do concerto. A paradoxal “Velocidade Escaldante”, com os soturnos pianos de António Rafael, e a consensual paragem na capital da Hungria serviram de catapulta para a agressividade de “Maria Oh Maria” e da swanesca “Berlim”. Com o volume do som de sala demasiado controlado, toda a responsabilidade no aumento de adrenalina ficou do lado da banda. Os riffs mais quadrados, digamos assim, de “Amesterdão” foram um torrente de peso atravessada pelas tremendas linhas solo da guitarra de Vasco Vaz. Peso e estridência de guitarras eléctricas foram também as armas de “Barcelona”. Dois temas a que apenas “Lisboa”, tocada em casa e num estrépito rock ‘n’ roll, roubou o título de momento mais alto de uma noite memorável em que, se nos permitem, os Mão Morta foram “os dealers que nos roubaram e levaram a alma”. Rai’s partam os dealers. Rai’s partam os Mão Morta.

O volume do som de sala (com os níveis demasiado controlados) foi o único pecado do concerto.

“Tiago Capitão”, “Fazer de Morto” e “Bófia” compunham o encore programado. Mas a performance explosiva de “Bófia” fez com que o público obrigasse a banda a pegar nos instrumentos para render “Véus Caídos” e “E Se Depois”.

SETLIST

  • Shambalah (O Reino Da Luz)
    Marraquexe (Pç. Das Moscas Mortas)
    Até Cair
    Paris (Amour A Mort)
    Istambul (Um Grito)
    Velocidade Escaldante
    Budapeste (Sempre a Rock & Rollar)
    Maria Oh Maria
    Berlim (Morreu a Nove)
    Amesterdão (Have Big Fun)
    Barcelona (Encontrei-a na Plaza Real)
    Lisboa (Por Entre As Sombras E O Lixo)
  • Tiago Capitão
    Fazer de Morto
    Bófia
  • Véus Caídos
    E Se Depois