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MEO Kalorama 2023: O saudoso, e bem disposto, regresso dos Blur a Lisboa

MEO Kalorama 2023: O saudoso, e bem disposto, regresso dos Blur a Lisboa

2023-08-31, MEO Kalorama, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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Repetentes na temporada dos festivais portugueses de 2023, depois de uma passagem pelo Primavera Sound em Junho, os Blur regressaram a Portugal para fechar a sua digressão europeia de verão com um concerto mais descontraído, mas repleto de seriedade musical.

Não é todos os anos que se tem uma banda como os Blur a atuar por duas vezes no nosso país. Os fãs portugueses da banda de Damon Albarn, já não os viam ao vivo desde o concerto no Super Rock Super Rock 2015 de promoção ao álbum “The Magic Whip”. No final dessa tour a banda iniciou um hiato que viria a durar sete anos, entre 2015 e 2022, e que apenas foi quebrado em 2019 com uma única performance que decorreu no evento de beneficência African Express, organizado por Albarn. Chegados a 2022, os Blur anunciaram o seu regresso com um concerto gigantesco no Estádio de Wembley, em Londres.

«Nós realmente amamos tocar essas músicas e achámos que já era hora de fazermos isso de novo», referiu Albarn aquando do anúncio do concerto. Quando posteriormente foi anunciada a tour que marcaria o regresso dos Blur aos palcos, Portugal recebeu a excelente notícia de que iria receber não um, mas dois concertos da banda britânica, um no Porto, no Primavera Sound, e outro em Lisboa no MEO Kalorama.

Entretanto, os Blur também colocaram cá fora o seu nono álbum intitulado “The Ballad of Darren”. E se o Porto, em Junho, teve apenas direito aos singles “The Narcissist” e “St. James Square”, em Lisboa os Blur tocaram mais três temas novos, algo perfeitamente normal, e aceitável, tendo em conta que esta não é apenas uma tour de regresso, onde se pretende recordar os clássicos, é também uma tour de promoção de um novo trabalho discográfico. 

Esse equilíbrio esteve bem patente na setlist, com a banda a optar por não despachar os novos temas logo na primeira metade do concerto, distribuindo-os assim de forma harmoniosa e intercalando com os clássicos.

“The Debt Collector” a tocar no P.A. foi a faixa escolhida para acompanhar a entrada dos Blur em palco. A faixa instrumental de “Parklife” (1994), que se apresenta como uma espécie de uma valsa pop, serve este propósito de forma brilhante e foi a ponte perfeita para a novidade “St. Charles Square” À segunda música, “Popscene”, Damon Albarn já tinha o público na mão quando decidiu descer do palco e subir para cima das grades da primeira fila para protagonizar um dos momentos mais corriqueiros, mas sempre eficaz, dos concertos de rock. Aliás, esta interação com o público em cima e fora do palco foi algo recorrente por parte de Albarn, talvez justificável por este ter sido o último concerto da tour. 

“Beetlebum”, do álbum homónimo de 1997, recordou-nos porque é que os Blur dividem o trono da britpop com os Oasis, já “Goodbye Albert” colocou em evidência a lounge pop tranquila e relaxante que os Blur exploraram em “The Ballad Of Daren”.

As intervenções de Damon Albarn foram constantes ao longo do concerto, ora com meros obrigados, ora com declarações e informações mais substanciais. Uma delas surgiu de forma aleatória e abstrata (dixit Albarn), quando o vocalista tirou um momento para referir que tinha ido visitar o Museu da Marioneta, em Santos, e que tinha ficado extremamente impressionado e maravilhado com a vasta coleção do museu. A informação foi recebida com um certo tom humorístico, mas rapidamente os fãs aplaudiram o vocalista como que num gesto de aprovação. Afinal de contas não são muitos os músicos que tiram parte do seu tempo de descanso para conhecer os cantos à cidade e ao país onde vão tocar, e o facto de Albarn o ter feito, e de ter escolhido um museu que não faz parte do top 10 das atrações turísticas de Lisboa é revelador do seu interesse e da sua riqueza cultural.

Mas, o que a banda faz é precisamente o contrário, ao vivo a faixa continua a soar monstruosa, vigorosa e com uma sonoridade nada datada.

A atuação prosseguiu com temas como “Trimm Trabb”, “Villa Rosie” e “Coffee & TV”, mas foram os clássicos “Country House” e “Parklife”, que agitaram o público com mais vigor e colocaram-no a cantar, e muito por culpa do groove proveniente do baixo de Alex James e da bateria de Dave Rowntree e dos riffs de Graham Coxon. Já a ginga de “Girls & Boys” demonstrou que os Blur apoiam a comunidade LGBTQ+, e se a música não bastasse, Damon Albarn ainda tratou de colocar ao pescoço a bandeira da comunidade transgénero. Nos concertos de Blur não há espaço para a homofobia, e Albarn deixou isso bem patente, o que é algo que vai ao encontro de uma das políticas que o MEO Kalorama implementou nesta edição, que é a introdução de casas de banho para pessoas não binárias.

“Advert” antecipou a faixa mais esperada da noite, o mega clássico “Song 2”, a malha do álbum homónimo que explodiu na MTV e catapultou os Blur para o estrelato internacional, tudo graças ao seu riff de guitarra extremamente orelhudo e aos seus “uh uh”. Depois de tantos anos a tocá-la para fãs e meros curiosos, que lá está apenas conhecem este tema, poderíamos pensar que os Blur a tocariam de forma automática e pouco energética. Mas, o que a banda faz é precisamente o contrário, ao vivo a faixa continua a soar monstruosa, vigorosa e com uma sonoridade nada datada.

Já a entrar na reta final a novidade “The Heights” e a velhinha “This Is a Low” colocaram um pé no travão, antes de “Tender” invocar um singalong espontâneo do público quando Damon Albarn já se preparava para anunciar a próxima música. “The Narcissist”, a última faixa de “The Ballad Of Daren” foi a penúltima da noite. Com uma sonoridade e estrutura que obedece a todos os cânones da britpop demonstrou que tem pergaminhos para permanecer em futuras setlists até atingir o estatuto de clássico. “The Universal” foi a escolhida para fechar uma noite de celebração e de reencontro entre a banda e os fãs portugueses. O hiato dos Blur pode ter sido de sete anos, mas o tempo parece que nunca passou por eles. A classe e a entrega continuam lá, e esperamos que assim seja por muitos mais anos.

SETLIST

  • The Debt Collector (P.A.)
    St. Charles Square
    Popscene
    Beetlebum
    Goodbye Albert
    Trimm Trabb
    Villa Rosie
    Coffee & TV
    Country HOuse
    Parklife
    To The End
    Sing
    Barbaric
    Girls & Boys
    Advert
    Song 2
    The Heights
    This Is a Low
    Tender
    The Narcissist
    The Universal