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MEO Kalorama 2023: Siouxsie, Para Sempre a Rainha do Rock Gótico

04/09/2023

Sob uma claridade deveras incompatível com a sua música de cariz notívago, Siouxsie regressou a Portugal, passados 28 anos, para demonstrar que o legado musical, e a postura irreverente, que construiu nas décadas de 70 e 80 ainda estão bem conservados.

[Não foi dado acesso para habitual reportagem fotográfica]

Quando o MEO Kalorama anunciou os horários para a edição de 2023 foram muitos os que prontamente acorreram às redes sociais para criticar a nomeação de um horário diurno para a atuação de Siouxsie. Com isto várias questões se levantaram: Será que dado o seu estatuto e legado, Siouxsie não merecia uma posição no alinhamento mais tardia, mesmo que esta implicasse mover a artista para o Palco San Miguel?;  Como é que a sua música post punk/ rock gótico com uma estética a puxar para uma certa soturnidade iria resultar num concerto em plena tarde e com um sol radiante?; Será que o público iria saber receber Siouxsie, tendo em conta que esta é uma artista de legado e que nunca se compatibilizou com as convenções mainstream?

Todas estas questões acabariam por ser respondidas ao longo de uma atuação que durou cerca de 1h e que teve inicio ao som de “Aquário”, o sétimo movimento da obra ” O Carnaval dos Animais” do compositor francês Camille Saint-Saëns. Com uma setlist maioritariamente composta por temas do período dos Banshees, onde apenas foram tocados dois temas do primeiro e único álbum a solo de Siouxsie, “Mantaray” (2007), foi com “Night Shift” de “Juju” (1981) que a banda deu início à atuação. Logo às primeiras notas instrumentais repletas de melancolia e breu percebemos que iria ser difícil experienciar aquele concerto como ele certamente teria sido pensado. À componente musical juntaram-se várias projeções de auroras boreais que apenas intensificaram essa conclusão.

A resposta à primeira, e segunda, questão não nos surgiu logo após o concerto de Siouxise, mas sim no fim do festival, depois de termos visto outros artistas nos outros palcos. Chegámos assim à conclusão que teria sido eventualmente mais proveitoso para Siouxsie se tivesse trocado o horário e a localização da sua atuação com os suecos The Hives, que subiram ao palco San Miguel por volta das 21:30. Desta forma, a artista britânica teria tido a oportunidade de apresentar-se à noite e perante uma assistência mais conhecedora e dedicada, já os The Hives beneficiavam ao levar o seu rock ‘n’ roll enérgico para o Palco MEO, isto porque no San Miguel a afluência foi tanta que muitos não conseguiram ver o concerto nas melhores condições.

Desta forma, a artista britânica teria tido a oportunidade de apresentar-se à noite e perante uma assistência mais conhecedora e dedicada, já os The Hives beneficiavam ao levar o seu rock ‘n’ roll enérgico para o Palco MEO

Mas regressemos ao concerto de Siouxsie. Com o seu macacão prateado num estilo sci-fi meets gothic a cantora atirou-se de seguida a “Arabian Knights”. Com os seus movimentos corporais muito próprios demonstrou que apesar dos seus, já avançados, 66 anos continua a apresentar um espírito jovem e uma vivacidade que se traduzem numa atuação dinâmica. Vocalmente, é certo que Siouxsie já não tem a mesma capacidade de outros tempos, mas as suas limitações nesse aspeto não comprometem de todo a sua performance.

O groove noir de “Here Comes That Day” foi a primeira visita a “Mantaray”, um trabalho muito interessante, a puxar para uma estética mais pop, e que ao longo dos anos ficou algo ofuscado pela discografia dos Banshees. Já “Kiss Them for Me” de “Supersition”(1991), o penúltimo álbum com os Banshees antecipou “Dear Prudence”, a faixa do “White Album”( 1968) que já é tanto de Siouxsie como é dos The Beatles.

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Por esta altura já íamos sensivelmente a meio do concerto e a reação que provinha do público, apresentava-se pouco calorosa, a exceção prendia-se com as primeiras filas junto ao palco onde estavam presentes os fãs mais conhecedores e dedicados. Porém, muitos deles tiveram uma visibilidade algo reduzida, fruto de uma plataforma montada para este dia junto à boca de palco e que reduzia em muito o ângulo de visão daqueles que estavam precisamente ao centro. Siouxsie com o seu sentido humor britânico ripostou contra aquela estrutura e pediu desculpa aqueles fãs por uma situação que não era de todo da sua responsabilidade.

“Face to Face” invocou o lado felino de Siouxsie com dois grandes olhos de um gato vigilante a surgirem na tela de fundo. Já “Land’s End” antecipou o maior clássico dos Siouxsie and The Banshees, “Spellboud”, este sim reconhecido pela maioria e cantado por uma falange considerável do público. O concerto prosseguiu já na sua reta final com “Sin in My Heart” onde Siouxise dedilhou uma Vox Mark III aka Vox Teardrop e com “Happy House”, com a cantora num ato de rebeldia a mandar o tripé do microfone para o fosso e quase a acertar num segurança. “Cities Dust” e “Into a Swan” foram as escolhidas para encerrar o curto ritual que certamente foi de iniciação para muitos e possivelmente de despedida para todos os que no MEO Kalorama testemunharam essa lenda vida da música alternativa que é Siouxsie.

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