MEO Kalorama 2024 | O Quase Déjà Vu de Sam Smith

Passado pouco mais de um ano do seu concerto no NOS Alive 2023, Sam Smith voltou a trazer a sua Gloria the Tour a Portugal. Apesar do espetáculo formatado, que já roda na estrada há quase dois anos, Smith procurou surpreender os fãs com a introdução de novos temas na setlist e com variações nos figurinos e na cenografia.

Foi a 12 de Abril de 2023 que Sam Smith iniciou a sua extensa Gloria the Tour que levou, claro está, o álbum “Gloria” aos quatro cantos do mundo. Prestes a encaminhar-se para o seu fim, e com 108 concertos no total, este é um espetáculo que naturalmente já está mais do que formatado e rotinado, algo quase imperativo naquilo que podemos considerar ser um espetáculo pop onde as coreografias, a cenografia e os figurinos contam tanto como a voz.

Depois de uma primeira passagem por Portugal a 8 de Julho de 2023 para um concerto no NOS Alive, Sam Smith voltou agora a trazer o seu “carabet gay”, repleto de shock value, para os palcos nacionais. Quem esteve no Alive, tal como nós, certamente que esperava uma reprodução fiel desse espetáculo. No entanto, Smith, possivelmente saturado de apresentar o mesmo espetáculo noite após noite, decidiu variar um pouco as coisas nas datas agendadas para 2024. Desta forma, a tour deixou de ter a denominação de Gloria the Tour e passou a apelidar-se de Gloria Blackout. Resultado, introdução de novos temas na setlist com vista à celebração do décimo aniversário seu álbum de estreia “In The Lonely Hour”, figurinos diferentes, o dourado da Gloria the Tour deu agora lugar ao preto e variações na cenografia, a recriação pela TAIT Towers da mega escultura “Hermafrodita a dormir” de Bernini também deixou o seu acabamento dourado brilhante e surgiu agora com alguma pátina e adornada com graffitis com palavras de empoderamento como libertação, autonomia, justiça e poder.

“Stay With Me”, “I´m Not The Only One”, e “Like I Can” deram inicio ao concerto com uma sequência que, por momentos, parecia indicar que Smith iria tocar o seu álbum de estreia na integra. Afinal de contas já passou uma década deste álbum que se revelou um marco tanto na música pop como na soul e no R&B. Mas um «Bem vindos à tour do Gloria!» dissipou quaisquer dúvidas sobre qual dos álbuns seria o protagonista da noite.

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«Sempre que venho a Lisboa vocês apresentam-se como um público incrível», declarou Smith antes de partir para “Too Good at Goodbyes”, “Diamonds” e “How Do You Feel?”. Além da sua presença dominadora em palco, é impossível ficar indiferente à voz soulful de Smith. Com um controlo dinâmico irrepreensível, o artista causa-nos frissons ao conseguir dar a cada palavra uma carga emocional exponenciada. Isso ficou bem patente em temas como “Dancing With a Stranger”, “Good Thing” , um dos temas rebuscados do primeiro álbum que Smith introduziu na setlist e “Lay Me Down”, este em dueto com a backup singer Ladonna.

A provocadora “Gimme” não passou despercebida pelas suas coreografias arrojadas, fazendo assim juz à tipologia de espetáculo que Sam Smith apresenta nesta Gloria Blackout Tour. Mais à frente foi a vez de  passar pelo seu repertório eletrónico e mais dançável com a performance de “Promises” e “Desire”, dois temas que gravou com o dj Calvin Harris e que mostram a versatilidade do artista britânico.

“Latch”, o featuring com os Disclosure , e uma coreografia ao som de “I Feel Love” de Donna Summer anteciparam uma espécie de encore. Depois da sua última troca de roupa, Sam Smith voltou ao palco para o canto litúrgico de “Gloria”, que culminou na blasfema “Unholy”. As portas do “cabaret gay” estavam prestes a fechar e Smith, vestido de diabinho, convidou-nos a entrar pela última vez.