MEO Kalorama 2024 | O Rock Caloroso dos The Kills, O Experimentalismo dos dEUS e a Atitude Punk de Yves Tumor
Com um cartaz pouco virado para o rock, o MEO Kalorama 2024 ainda conseguiu proporcionar bons concertos dentro deste género. Aqui destacamos as atuações dos The Kills, dos dEUS e de Yves Tumor.
Para os fãs de rock a edição de 2024 do MEO Kalorama não foi de todo a mais apetecível. Com um cartaz mais virado para a pop e para a música de dança, tanto eletrónica como instrumental, os fãs de rock tiveram que se contentar com “meia dúzia” de concertos como foi o caso dos The Kills, dos dEUS e de Yves Tumor.
De regresso a Portugal após uma ausência de sete anos, os The Kills apresentaram-se no Palco San Miguel do MEO Kalorama 2024 com o álbum “God Games” na bagagem. O duo composto por Alison Mosshart e Jamie Hince mostrou-se muito satisfeito por estar a terminar a tour europeia em Portugal e presenteou-nos com uma setlist repleta de boas composições de garage rock que soaram que nem ginjas à hora em que o sol se estava a pôr. “Kissy Kissy”, “Baby Says”, “LA Hex”, “My Girls My Girls” e “Future Starts Slow” foram alguns dos temas que a dupla tocou no seu set.
Num dos poucos concertos em que conseguimos ter uma vista privilegiada para o gear que estava em cima do palco, reparámos que Hince alternou entre duas Höfner, uma 176 Galaxie Deluxe Sunburst e uma 169, ambas conectadas a um half stack Magnatone e a um Selmer Treble and Bass, enquanto Alison recorreu a uma Gretsch Corvette também conectada a um half stack Magnatone e a um VOX AC30. Com uma postura extremamente cool os The Kills foram agarrando o público com o seu rock bem groovie, com algumas pitadas de blues e sempre acompanhados por uma drum machine.
Para os fãs que aguardavam há tanto tempo pelo seu regresso a Portugal certamente que ficou muito por tocar, por isso impera-se que o próximo concerto dos The Kills no nosso país seja feito com um concerto em nome próprio.
Já no terceiro e último dia do festival foi a vez de assistirmos às prestações dos belgas dEUS e do norte-americano Yves Tumor.
Entre os fãs da música mais experimental os dEUS são sem dúvida uma banda de culto. Com mais de 30 anos de carreira e com dezenas concertos em Portugal é sempre uma experiência assistir a um concerto da banda belga, mais que não seja para apenas deixarmo-nos levar pela capacidade que as secções instrumentais têm de deixar-nos hipnotizados. «Só temos uma hora para tocar então vamos continuar, não?», disse o vocalista Tom Barman pouco depois de iniciar o concerto. “How to Replace It” foi a escolhida para abrir a performance e colocou logo em evidência um instrumento que não costuma aparecer tanto no contexto do rock. Falamos de um conjunto de tímpanos constituído por quatro ou cinco pads eletrónicos.
Seguiram-se depois temas como “Quatre mains”,”W.C.S. (First Draft)” e “Fell Off the Floor, Man” que colocaram o guitarrista Mauro Pawloski em destaque com os seus riffs dissonantes e a sua postura enérgica. “Sun Ra”, “Hotellounge (Be the Death of Me)”e “Bad Timing” encerraram a atuação num ápice.
Os dEUS que estão habituados a ter mais tempo de concerto saíram de palco com o sentimento de missão cumprida, mas com a sensação de que para o público presente no Palco San Miguel soube a pouco. Venha de lá então esse próximo concerto em nome próprio e que segundo as contas será o 36º dos dEUS no nosso país.
Já depois da 1:00 foi a vez de Yves Tumor subir ao Palco Lisboa. Presença assídua nos festivais portugueses dos últimos anos, Yves é daqueles artistas ainda algo incompreendidos. Estilisticamente move-se entre o rock, punk, indie, psicadélico e a eletrónica, algo que acaba por fazer sentido quando vemos a persona excêntrica e criativa que está por detrás das composições. O mote do concerto foi a apresentação do seu mais recente álbum “Praise a Lord Who Chews but Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds)” (2023). Em palco Yves mostrou-se eletrizante e algo endiabrado. Aliás, a energia de Yves era tanta que acabou por romper com as suas calças de cabedal logo nas primeiras músicas. Sem sabermos muito bem se o músico se encontrava num estado de sobriedade ou não, foi notória a procura constante de interação com público seja através de pequenas intervenções ao microfone, por vezes impercetíveis devido ao excesso de delay, ou com a aproximação aos fãs já cá em baixo no fosso num profundo momento de muita atitude punk. O que é certo é que ao longo de uma hora de concerto Yves teve o público na sua mão, tocou malhas preferidas dos fãs como “Jackie”, “Gospel for a New Century”, ” Echolalia” e “Ebony Eye” e cativou aqueles que, tal como nós, estavam a assistir ao seu espetáculo pela primeira vez.