MEO Kalorama 2024 | RAYE e a Coroação da Nova Diva da Soul

Em estreia em Portugal, RAYE arrecadou o prémio de melhor concerto do festival. A diva britânica de 26 anos confirmou as expectativas e apresentou um concerto magistral, onde a sua voz, plena de feeling, foi a grande protagonista.

Desde o desaparecimento de Amy Winehouse, em 2011, que tardava em aparecer no panorama do soul e do jazz vocal uma artista carismática que não só continuasse esse legado, mas também mostrasse um talento nato para arrebatar multidões pura e simplesmente com a sua voz soulful. RAYE pode ser um nome que ainda está fora de muitos radares, mas depois do concerto que a artista britânica de 26 anos deu no MEO Kalorama 2024 podemos dizer com toda a certeza que, pelo menos entre o público português, RAYE já não é uma promessa mas sim uma certeza.

No estrangeiro há muito que o seu talento é reconhecido, primeiro como compositora para artistas como Beyoncé, Rihanna e John Legend e, mais recentemente, já com o seu álbum de estreia editado “My 21st Century Blues” (2023), com a limpeza que fez nos BRITS Awards 2024 ao arrecadar o prémio em seis categorias (Artista do Ano Britânico, Melhor Artista Novo, Compositor do Ano, Melhor Atuação R&B, Álbum do Ano Britânico, Single do Ano), quebrando assim o recorde de mais vitórias e nomeações para um artista na cerimónia num único ano.

2024 tem sido mesmo um ano de muitas estreias para a RAYE. Desde a sua apresentação na primeira parte do último concerto da The Eras Tour de Taylor Swift no Estádio de Wembey, passando pela sua passagem por novos países, como foi agora o caso de Portugal, RAYE tem mostrado estar à altura dos desafios. Segura e humilde, a artista tem traçado o seu caminho de forma honesta, compondo música que, segundo a própria, não vai ao encontro de ser o próximo hit. Ao invés, RAYE prefere transbordar todas as suas emoções na sua voz e proporcionar aos fãs aquilo que para ela é a verdadeira função da música, a cura.

MEO Kalorama 2024 | O Quase Déjà Vu de Sam Smith

Passado pouco mais de um ano do seu concerto no NOS Alive 2023, Sam Smith voltou a trazer a sua Gloria the Tour a Portugal. Apesar do espetáculo formatado, que já roda na estrada há quase dois anos, Smith procurou surpreender os fãs com a introdução de novos temas na setlist e com variações nos figurinos e na cenografia. 

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Foi então perante um público extremamente ansioso que RAYE surgiu a esvoaçar com o seu vestido de cetim branco e com o um penteado retro bem ao estilo de divas como Ella Fitzgerald e Billie Holiday. O concerto arrancou logo de seguida com “The Thrill Is Gone”. A acompanhá-la estava um conjunto que remete para um típico ensemble de jazz – piano, bateria, baixo, guitarra e secção de metais composta por um saxofone, um trompete e um trombone.

“Worth It” mostrou que o público que se deslocou até ao MEO Kalorama 2024 sabe as letras dos temas na ponta da língua, algo que surpreendeu e muito a artista britânica. «Vocês sabem as letras?», soltou RAYE em com umar pasmado. Sempre pronta a comunicar e a interagir com os fãs, RAYE explicou ao longo do concerto que grande parte do seu repertório é composto por músicas mais tristes onde aborda assuntos como o vício, a misoginia, a insegurança, a dismorfia corporal e a agressão sexual.

A sua satisfação face à receção calorosa era imensa e em jeito de compensação para com os fãs deixou estes escolherem o próximo tema que iria ser tocado. Entre “Hard out Here” e “Oscar Winning Tears” foi o último que recebeu uma maior ovação e então como prometido RAYE entregou-se de alma e coração ao tema R&B que fala de um desgosto amoroso.  Seguiu-se a bluesy “Mary Jane”, onde mais uma vez tirou um longo momento para falar de adições, as más, como é o caso das drogas, e as boas, no caso do desporto. Sentada no chão na dianteira do palco, foi notório o silêncio que se fez no Parque da Bela Vista para que fosse possível captar todos os jeitos e trejeitos da sua voz.

Já a poderosa “Ice Cream Man” foi certamente um dos tema mais desafiantes de cantar, pois fala de um caso de agressão sexual que RAYE sofreu por parte de um produtor. A cantora entregou-se ao tema de forma catártica e mostrou toda a sua vulnerabilidade com o intuito de chamar a atenção para um tema que infelizmente é cada vez mais recorrente.

Depois desta música RAYE fez questão de anunciar que as composições tristes iam agora dar lugar a músicas de celebração. “Genesis”, um tema de sete músicas com várias secções que vão desde o pop dançável ao jazz dos anos 20, foi o que se ouviu. Já com o tempo apertado devido ao enorme falatório entre músicas a artista seguiu com o clássico “It’s a Man’s World”, uma cover de James Brown que encaixa na perfeição no seu repertório.

Versátil, ainda houve tempo para ouvir “Secrets”, uma cover de Regard, e “Don’t Know Me” de Jax Jones, duas músicas que puxam mais para a vertente da música de dança. Intercaladas com “Black Mascara” e “Prada”, tocada numa versão rock, foram o preparativo para o fim com o seu maior sucesso até à data, “Escapism”.

No fim, RAYE não saiu do palco em ombros, mas a julgar pela gigante ovação que recebeu ficou percetível que este não tinha sido apenas mais um concerto dos muitos que assistimos no MEO Kalorama 2024. A sensação que ficou foi a de que tínhamos acabado de testemunhar um concerto histórico de uma diva como há muito não víamos.