“Skeleton Tree” é uma obra-prima de dor e beleza.
Em “Skeleton Tree”, Nick Cave toca o assombroso, transformando a violência dolorosa da perda de um filho numa catarse emocionalmente arrasadora. Neste álbum, Cave, que tantas vezes cantou sobre a morte de tantos personagens, foi forçado a olhar a morte nos olhos, como sugere a abertura, em “Jesus Alone” e o final, no tema título, em que ecoa exortação «I am calling you».
Diante do silêncio absoluto, o assassino tornou-se Stabat Mater, fazendo de cada nota, cada palavra, um arrebatador monumento de amor divino, como apenas o de um pai pelo seu filho consegue ser.
Skeleton Tree é uma obra-prima de dor e beleza.
Sonicamente, a densidade contemplativa de “Skeleton Tree” reflecte-se através de uma maior carga atmosférica, com abundância de sintetização e de pianos, executados de forma dispersa, etérea, como “Anthrocene”, ou carregada de luto como “I Need You”, em que choramos com Cave, enquanto o ouvimos suplicar «In my heart I need you».
Warren Ellis é o eixo central na sonorização da dor de Cave. Na multiplicação instrumental que colocou no álbum, recorrendo a loops, a Wurlitzer ou a conduzir secções orquestrais, é determinante na condução das dinâmicas musicais que seguem as subtilezas da interpretação vocal. Um trabalho de composição que acaba por atingir a transcendência em “Distant Sky” que, no minimalismo de sintetização e uso de cordas e da voz feminina, faz o Céu parecer bastante próximo.
Este é um daqueles álbuns que, verdadeiramente, faz com que as palavras para o descrever pequem por ridiculamente escassas.