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NOS Alive 2023: Descarga Energética dos The Amazons VS Sessão de Musicoterapia dos City and Colour

NOS Alive 2023: Descarga Energética dos The Amazons VS Sessão de Musicoterapia dos City and Colour

2023-07-07, Nos Alive, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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No segundo dia do NOS Alive 2023, o palco Heineken encheu-se para pulsar ao som do indie (hard) rock dos britânicos The Amazons e da vulnerabilidade musical dos City and Colour.

Às 17:00, do segundo dia do NOS Alive 2023, foram muitos os que se descolaram até ao palco Heineken para assistir à estreia em Portugal da banda britânica de rock alternativo The Amazons.

Formado em Reading, em 2014, pelo guitarrista e vocalista Matt Thomson, o guitarrista Chris Alderton, o baixista Elliot Briggs e o baterista Joe Emmett, o grupo começou a ter notoriedade a partir de 2017, ano em que lançou o seu álbum homónimo. Referenciados pela NME, The Independent e BBC Radio 1, os The Amazons foram ainda descritos pela AllMusic como «um grupo de indie rock conhecido por criar hinos de arena rock destinados a sing alongs».

Ao Alive trouxeram o seu mais recente álbum “How Will I Know if Heaven Will Find Me?”, editado em 2022. Com um set a rondar os 45 minutos, atiraram-se logo de cabeça a “Bloodrush”, deste mesmo novo trabalho. “25” de “Future Dust(2019) elevou a energia entre o público com o seu andamento mais up tempo e com solos de guitarra a demonstrar que o indie rock dos The Amazons não é só feito de acordes bonitinhos. “In My Mind” manteve esse mesmo registo mais eletrizante carregado de riffs, por vezes a roçar o rock psicadélico.

Com um timbre que remete para alguns vocalistas do post-punk britânico, Matt Thomson não é propriamente um predestinado, nem sequer é um frontman por aí além, mas o seu trabalho é executado de forma eximia. Ora incentivando todos os presentes a vibrar ao som da sua música, ora a executar as várias posições cliché que fazem parte do manual de posições dos guitarristas, Thomson consegue fazer com que o público esteja ali focado e a desfrutar do espetáculo.

“Mother” trouxe de volta os riffs mais musculados e os solos de guitarra plenos de feeling de Chris Alderton, e sem darmos por isso já estávamos a abanar a cabeça com uma expressão facial de aprovação.

“Mother” trouxe de volta os riffs mais musculados e os solos de guitarra plenos de feeling de Chris Alderton, e sem darmos por isso já estávamos a abanar a cabeça com uma expressão facial de aprovação. “Black Magic” fechou o set em celebração com uma imensidão de braços no ar a abanar ao ritmo da música. No fim a satisfação da banda e do público era a mesma, e o desejo de todos de voltar a ver os The Amazons em Portugal também.

Logo a seguir, por volta das 18:30, foi a vez dos City and Colour de Dallas Green estrearem-se em Portugal.

Quando Dallas não está a partilhar o microfone com George Pettit na sua banda de post-hardcore Alexisonfire, está a expressar toda a sua vulnerabilidade no seu projeto paralelo de folk rock City and Colour.

Criado em 2005, como uma espécie de alter ego, e como um escape à descarga e berraria dos Alexisonfire, os City and Colour são uma espécie de confessionário de Dallas Green, pois é nos seus temas e nas suas letras que o músico expõe todas as fragilidades emocionais que tanto mexem com os seus fãs e ouvintes.

O nome do projeto vem precisamente do nome do músico: Dallas (uma cidade do estado do Texas, nos EUA) e Green (a cor verde). Já “Sometimes”, editado em 2005, foi o primeiro álbum a ser lançado e contém músicas que Dallas escreveu quando tinha apenas 16 anos.

No NOS Alive, os City and Colour não deram um concerto, mas sim uma autêntica sessão de musicoterapia. Após uma falsa partida, com o P.A. a não funcionar nos primeiros segundos de “Meant To Be”, e com o público a explicar à banda que não estavam a ouvir, acabaram por abandonar o palco por dez minutos para que o problema fosse resolvido. Regressados a palco lá recomeçaram o concerto. Perante um público contemplativo e imerso na profundidade das letras e do timbre de Dallas foi praticamente impossível não puxar de um lenço para limpar as lágrimas que teimavam em cair no rosto.

A apresentar o mais recente “The Love Still Held Me Dear”, editado em Março de 2023, Dallas tirou vários momentos do concerto para se dirigir ao público com mensagens de esperança e de compaixão, as mesmas que estão expressas nas suas músicas. Para Green, a melhor música é a música triste, a música que funciona como um escape, e muitas das suas composições foram escritas com esse intuito e com base em experiências pessoais.

A mais elétrica “Thirst” seguida da bluesy “The Love Still Held Me Near” mostrou-nos Dallas a dedilhar uma vistosa Gibson Memphis ES-335 em tons dourados, mas com uma tail piece Maestro Vibrola ao invés do tradicional Bigsby. Antes já tinha puxado também da sua Martin Custom Dreadnought Orange Sunburst de doze trastes. Em termos de microfones, Dallas opta por um sistema curioso, e bastante semelhante ao que vimos Courtney Taylor utilizar com os seus The Dandy Warhols. Dallas também utiliza dois microfones nas suas performances, e vai alternando entre um Shure SM-58 e um microfone estilo Shure 520DX “Green Bullet” para dar uma textura diferente à sua voz.

O concerto prosseguiu com “Two Coins” bem ao estilo folk dos singer-songwriters de Laurel Canyon. Aliás, se Dallas Green tivesse sido contemporâneo dessa época certamente que teria feito parte da cena musical folk de Los Angeles. Já “Weighless” demonstrou que a música melancólica também pode ser groovy, enquanto “Underground” com uma estética mais pop, demonstrou que não é preciso arranjos e produções exageradas para criar uma faixa de cariz pop.

Ao longo dos cerca de cinquenta minutos de atuação, os City and Colour, e particularmente Dallas Green, fizeram-nos esquecer, por breves instantes, os problemas e as dificuldades da vida mundana.

Ao longo dos cerca de cinquenta minutos de atuação, os City and Colour, e particularmente Dallas Green, fizeram-nos esquecer, por breves instantes, os problemas e as dificuldades da vida mundana. Ser gentil, ter compaixão e respeitar o próximo foram as frases de ordem que ressoaram na nossa mente, especialmente tendo em conta que vivemos numa era em que o ódio está muitas das vezes na ordem do dia.

Ao fim e ao cabo, um concerto dos City and Colour assemelha-se a uma experiência profundamente terapêutica, e quanto a nós podemos afirmar que saímos de lá mais leves do que quando entrámos.