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NOS Alive 2024 | A Despedia Pela Porta Pequena dos Sum 41

NOS Alive 2024 | A Despedia Pela Porta Pequena dos Sum 41

2024-07-13, Nos Alive, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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No seu anunciado último concerto de sempre em Portugal os Sum 41 foram atraiçoados pela avalanche de fãs dos Pearl Jam. A banda de Deryck Whibley assinou um concerto avassalador, mas não teve a recepção calorosa que esperava.

Costuma-se dizer que todas as coisas boas têm um fim. No caso dos Sum 41, esse fim foi anunciado de forma totalmente inesperada e prematura.

Após 28 anos de banda, o vocalista, guitarrista e fundador, Deryck Whibley, decidiu, depois de muita reflexão, que estava na hora de encostar a guitarra e o tripé do microfone e canalizar toda a sua energia juvenil para outras atividades às quais até então nunca tivera tempo para se dedicar. «Não é uma desaceleração – na verdade é mais uma aceleração», explica numa entrevista à revista britânica Kerrang. «Sinto que quero fazer mais. Parece que fazer a mesma coisa repetidamente, embora tenha sido ótimo e um privilégio, fez-me questionar: ‘Será essa a única coisa que farei – um álbum e depois uma tour, repetidamente?’»

Com a ideia a circular na sua mente de forma intermitente, Deryck sentia que se o fim dos Sum 41 fosse mesmo para a frente, este tinha de ser acompanhado de um álbum decisivo que representasse toda a carreira da banda e ilustrasse as suas diferentes fases sonoras. «Muito disso aconteceu por acidente», refere Whibley sobre os primeiros passos dados para a composição de “Heaven :x: Hell” – o derradeiro álbum dos Sum 41. Durante a pandemia, o pop-punk, género que consagrou os Sum 41 como estrelas mundiais, assistiu a um revivalismo no mainstream. Machine Gun Kelly, com o seu álbum Tickets To My Downfall, editado em 2020, foi o artista que liderou este movimento musical que, passados 20 anos, voltou a colocar o género nas bocas do mundo. Seguiu-se o lançamento de mais álbuns influentes como “Weird” (2020) de Yungblud, “Internet Killed the Rockstar” (2021) de Mod Sun e “Sour” (2021) de Olivia Rodrigo, todavia foi a rede social do momento, o Tik Tok, que fez com que este género fosse introduzido a toda uma nova geração através de trends que se tornaram virais com músicas de bandas emblemáticas como Blink-182, All Time Low, Simple Plan e Paramore.

De um momento para o outro, o pop-punk era novamente gigante, e para as bandas da chamada “velha guarda” aquele era o momento para aproveitar o interesse renovado no género e dar um boost à sua carreira.

Naturalmente que, com este revivalismo, rapidamente começaram a chover solicitações a Deryck e aos Sum 41 para voltarem a compor hinos pop-punk ao estilo de malhas como “In Too Deep” e “Still Waiting”. Porém, há muito que a banda abandonara esse estilo em favor de uma sonoridade mais pesada e próxima do metal, e Deryck temia que já não estivesse na posse dessa fórmula mágica. Ainda assim, decidiu arriscar, e foi ao escutar novamente NOFX, Pennywise e Bad Religion, bandas da sua adolescência, no carro com o seu filho, que as ideias começaram a fluir e os riffs, à la “All Killer No Filler” e “Does This Look Infected?” a surgir.

Ao mesmo tempo que trabalhava nas composições novas, Deryck foi ao encontro de algum material deixado de parte nas sessões de “Order In Decline” (2019), cuja sonoridade remete para a fase mais pesada da banda já acima referenciada. Quando o músico terminou essas primeiras faixas, apercebeu-se de que tinha na sua posse dois polos sonoros distintos que não iriam resultar de forma articulada num único álbum. Ciente da qualidade do material, Deryck rapidamente tomou a decisão de que este seria um álbum duplo. «Eu pensei, ‘Este é o momento. Esta é a melhor ideia que os Sum 41 já tiveram para um disco.’ Ela ultrapassa a linha entre a música pesada e o pop-punk que nós fizemos ao longo dos anos. Eu senti que esse era o disco no qual eu poderia ir embora e pendurar o meu chapéu. Musicalmente, é a nossa evolução, enquanto o título, “Heaven :x: Hell”, representa a nossa jornada. Se há um registo que define quem somos, é este.»

«Acho que estamos melhores que nunca», disse o baixista Jason McCaslin

Estava assim encontrado o álbum definitivo que Whibley imaginara dar aos fãs como prenda de despedida. Como se isso não bastasse, os Sum 41 ainda tiveram a coragem de decidir sair de cena na plenitude das suas capacidades. «Acho que estamos melhores que nunca», disse o baixista Jason McCaslin também à Kerrang. «Ainda conseguimos tocar muito bem. Todos nos damo bem. Não queríamos que chegasse a um ponto em que tivéssemos de parar, e disséssemos: ‘Uau, somos péssimos agora’ ou ‘Nós odiamo-nos’». É difícil encontrar outros artistas ou bandas com esta mentalidade e que também cessaram um determinado projeto no topo da sua carreira. O exemplo mais conhecido é talvez o dos The Police. O power trio formado por Sting, Andy Summers e Stewart Copeland surpreendeu tudo e todos quando em 1986, após nove anos de banda, cinco álbuns editados e turnés esgotadas em estádios e arenas, decidiu separar-se.

Mas voltando ao presente centremo-nos agora no derradeiro concerto dos Sum 41 em Portugal. Quis o destino que a última passagem da banda pelo nosso país fosse em festival e não em nome próprio. Inseridos num cartaz multi-género e perante um público pouco conhecedor da cultura e etiqueta de um concerto punk, rapidamente antecipámos que este não seria o melhor contexto para os Sum 41 se despedirem dos fãs portugueses.

Encaminhámo-nos para a frente do palco e mais uma vez deparámo-nos com essa dualidade, com muitos fãs de Pearl Jam a guardar lugar e claramente com muito pouca disposição e interesse para participar activamente no concerto dos Sum 41

Assim que chegámos ao Alive e vimos o esperado mar de t-shirts de Pearl Jam e a quase nulidade de fãs com merch de Sum 41 reforçámos a nossa ideia. Encaminhámo-nos para a frente do palco e mais uma vez deparámo-nos com essa dualidade, com muitos fãs de Pearl Jam a guardar lugar e claramente com muito pouca disposição e interesse para participar activamente no concerto dos Sum 41, que é como é quem diz, participar nos moshes e crowdsurf que é característico dos concertos da banda canadiana.

Com o “T.N.T” dos AC/DC a tocar no PA os poucos fãs que se encontravam nas primeiras filas foram aquecendo a voz e os músculos para a sessão de cardio que se avizinhava. Entretanto, a banda entrou em palco e disparou “Motivation” do álbum clássico de estreia “All Killer No Filler” (2001). Não querendo comprometer a sua experiência no último concerto dos Sum 41 em Portugal, os poucos fãs que se encontravam na frente não demoraram a abrir uma clareira para os mais corajosos mostrarem que Deryck Whibley e Co. não estavam sozinhos. Os fãs de Pearl Jam claramente incomodados ainda ripostaram, mas já não havia nada a fazer e tiveram que aguentar os encontrões e os crowdsurfers durante sensivelmente 1h10m.

Sem tempo a perder, ou não fosse este um concerto de punk, arrancaram de seguida para a poderosa “The Hell Song”. Apesar de não terem sido cabeças de cartaz, os Sum 41 não tiveram problema nenhum em colocar em cima do palco toda a sua produção bem à escala de um concerto de arena. Chamas, canhões de fumo, confettis, bolas insufláveis e um diabo insuflável foram elementos que engradeceram a sua atuação.

“No Reason” e “Underclass Hero” abriram espaço para a primeira passagem por “Heaven :x: Hell” com “Landmines”. O som proveniente do PA nunca conseguiu estar à altura da importância que o concerto tinha para os fãs dos Sum 41. As deficiências ao nível do volume do microfone de Deryck e das guitarras de Dave Baksh e Tom Thacker foram notórias ao longo de toda a atuação. 

Quando não estava só de microfone na mão Deryck recorreu às suas Gibson 1968 Les Paul Goldtop, Gibson Flying V Custom em Pelham Blue e Fender Telecaster Deluxe Blacktop para perfumar as malhas dos Sum com power chords irresistíveis. Já Dave Baksh não largou a sua Duesenberg Alliance Series Dave Baksh, Tom Thacker a sua ESP E-II Eclipse Evertune Black Satin e o baixista Jason McCaslin uma série de Fender Precision. O baterista Frank Zummo, que se juntou à banda em 2015, teve o seu momento de brilhantismo num pequeno solo de bateria que foi desaguar em “Preparasi a salire” a intro que antecipa a frenética “Rise Up”, a segunda e última passagem por “Heaven :x: Hell”.

Antes da balada “Pieces” houve tempo para Deryck Whibley divertir-nos um pouco com os acordes arranhados de “Smoke On The Water” e “Seven Nation Army”. Depois chamou Tom Thacker para a frente do palco para este dar início a uma versão bem esgalhada de “We Will Rock You”, bastante semelhante à que os Extreme apresentaram no Rock in Rio 2024.

A reta final foi dedicada à trilogia dos maiores clássicos, aqueles pelos quais os Sum 41 vão ser recordados para sempre. “In Too Deep”, “Fat Lip” e “Still Waiting” invocaram os últimos “moshszinhos” de um concerto que passou num ápice. A saída do palco foi imediata e algo fria, pois certamente a banda percebeu que perante tamanha apatia do público não fazia sentido prolongarem-se nas despedidas e agradecimentos. Resta-nos agora recordar as suas seis passagens por Portugal ao longo dos últimos 21 anos e desejar todo o sucesso para os futuros projetos musicais em que venham a estar envolvidos. 

SETLIST

  • Motivation The Hell Song Over My Head (Better Off Dead) No Reason Underclass Hero Landmines We’re All to Blame Walking Disaster Drum Solo Preparasi a salire Rise Up Smoke on the Water / Seven Nation Army (Snippet) Pieces We Will Rock You (Queen Cover) In Too Deep Fat Lip Still Waiting