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NOS Alive 2024 | Palco Heineken ou a Pista de Dança dos Parcels

NOS Alive 2024 | Palco Heineken ou a Pista de Dança dos Parcels

2024-07-11, Nos Alive, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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Passados dois anos da sua estreia no NOS Alive, os Parcels voltaram a arrastar uma multidão para o Palco Heineken. Durante sensivelmente 1h10m dançámos na discoteca do quinteto de Byron Bay ao som da sua fusão de electro-pop, disco-soul e funk e comprovámos que o legado dos Daft Punk está bem entregue.

Quando se fala dos Parcels e do NOS Alive rapidamente se levantam duas facções, uma que defende que já são demasiado grandes para o Palco Heineken e que, desta forma, devem ser promovidos ao Palco NOS, e outra que defende que por mais apertada e encalorada seja a tenda do Heineken, a banda deve permanecer por lá, pois só assim se conseguirá manter a mística e a magia dos seus concertos que, edição após edição do Alive entram sempre na discussão do melhor concerto do festival.

Para alguns pode parecer tolinho e até exagerado, mas assistir a um concerto de Parcels é quase como passar por uma experiência transcendental. A articulação e sequenciação das músicas de acordo com os bpms sem nunca pararem tocar, como se estivéssemos a assistir a um dj a comandar a sua mesa de mistura, a proficiência e mestria com que cada um dos músicos executa os seus instrumentos, sempre coesos e interligados ritmicamente, na gíria musical dizemos tocar no pocket, ou ainda o groove descomunal que se entranha nos nossos ossos e músculos, sim Noah Hill estamos a falar de ti, sãos os elementos que levam esta experiência para um patamar cósmico e que geram uma energia simbiótica entre público e banda.

Para este concerto, os Parcels trouxeram-nos o modelo de actuação que os consagrou mundialmente como uma das melhores bandas da atualidade de música dançável. Sem novo álbum de originais à vista, a banda trouxe-nos antes um cheirinho daquilo que podemos ouvir em “Live Vol. 2”, um concerto gravado na icónica discoteca parisiense Le Palace que resulta numa espécie de jam electro-pop, disco-soul e funk capaz de levar-nos a um estado de transe.

Para alguns pode parecer tolinho e até exagerado, mas assistir a um concerto de Parcels é quase como passar por uma experiência transcendental.

A entrada em palco da banda surgiu depois de um abraço de grupo que foi filmado e projetado nos ecrãs. Com a euforia instalada e alguns empurrões para ver se ainda era possível entrar mais um ou outro corpinho na tenda do Heineken, a banda arrancou para “IknowhowIfeel” com o mantra “I know how I feel right now” a ser entoado repetidamente. Ao vivo, os Parcels transformam por completo as suas músicas. As versões que ouvimos nos álbuns não são as mesmas que ouvimos ao vivo. Em concerto, a banda trabalha as músicas ao criar uma base estável em termos de pulsação e harmonia para depois fazer o encadeamento com a faixa seguinte. Neste caso, fomos desembocar em “Myenemy”, uma malha funky que remete para os anos dourados da Motown, mas com um sabor a verão e praia, ou não fossem os Parcels oriundos de Byron Bay, na Austrália.

Já “Lightenup” é um daqueles hinos que a banda certamente escreveu com o intuito de ser entoado por uma plateia a fervilhar de energia. O seu riff pegajoso é fácil de assimilar e quando tocado perante um público maioritariamente latino, como é o do NOS Alive, não há como não acompanhá-lo com um coro colossal. Aqui ficou mais uma vez evidente que Anatole “Toto” Serret é um metrónomo autêntico. Não se trata de tocar fills intricados e rápidos, mas sim de coesão e estabilidade rítmica, um aspeto que muitas das vezes é mais difícil de consolidar do que propiamente a componente de músico virtuoso.  Por sua vez, Jules Crommelin apresenta-se como frontman da banda. Contudo, em Parcels, frontman não é sinónimo de vocalista, pois todos os elementos da banda são cantores de excelência e harmonizam entre si de forma irrepreensível, bem ao estilo dos The Beach Boys e Eagles.

“Closetowhy” com o teclista e guitarrista Patrick Hetherington na voz principal deu lugar a “Somethinggreater”, malha cantada pelo baixista Noah Hill. Seguiu-se “LordHenry”, mais uma vez com Noah sob os holofotes, mas desta vez a dedilhar uma linha de baixo super funky e apetitosa para os ouvidos. Já “Nigh” deu lugar a “Gamesofluck”, aqui foi a vez do teclista Louie Swain brilhar com as suas linhas de keyboard com cheiro a uma praia algarvia em pleno Agosto.

As interações entre banda e público não foram muitas, nem demoradas. Os agradecimentos e os sorrisos de satisfação foram suficientes para demonstrar a felicidade da banda em regressar a um local onde já tinham sido muito felizes. «Quem é que esteve aqui a ver-nos há dois anos?», perguntou o baterista “Toto“. «Pensávamos que não conseguíamos superar essa noite, mas vocês fizeram-no outra vez.»

“Everyroad” deu lugar ao hino “Tieduprightnow”, mais um daqueles temas de fazer delirar o público só com o seu riff. O entusiamo foi tanto que os fãs prologaram os cânticos já para lá do término da música em mais uma prova da sua adoração pelos Parcels. A banda já não sabia mais o que dizer, nem como reagir, mas respondeu com “Overnight”, o mega êxito que foi escrito e produzido em parceria com Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter dos Daft Punk e que os consagrou como verdadeiros sucessores do duo francês.

“Free” encerrou o concerto com uma lufada de boas vibrações como os Parcels tão bem sabem dar. Até à data, as quatro passagens dos Parcels por Portugal foram todas em festivais, mas a banda sabe que tem público de sobra para encher uma sala de espetáculos em nome próprio. Seja num Coliseu dos Recreios ou num Campo Pequeno, não interessa, os fãs certamente irão aceder à chamada para mais um pezinho de dança.

SETLIST

  • IknowhowIfeel
  • Myenemy
  • Lightenup
  • Closetowhy
  • Somethinggreater
  • LordHenry
  • Nigh
  • Gamesofluck
  • Gamesofluck
  • Tieduprightnow
  • Overnight
  • Free