NOS Alive 2024 | Pearl Jam, O Saudoso Regresso dos Eternos Padrinhos do Festival
2024-07-13, Nos Alive, LisboaNo encerramento da sua pequena tour europeia, os Pearl Jam regressaram a um local onde já foram, e serão sempre, muito felizes. Entre brindes, juras de amor ao nosso país e apelos à boa vontade da humanidade, a banda de Eddie Vedder preparou uma setlist assente maioritariamente no clássico “Ten” e na novidade “Dark Matter”.
[Não foi permitido à Arte Sonora, fazer a habitual reportagem fotográfica]
Escrever sobre um concerto de Pearl Jam no Alive será sempre uma experiência difícil. As emoções que sentimos quando assistimos a um concerto da banda naquele recinto e naquele festival são muitas e por vezes difíceis de colocar em palavras. É que para os Pearl Jam, Portugal, e particularmente o NOS Alive (em tempos Optimus Alive), é mesmo um lugar especial, uma espécie de casa longe de casa. Sabemos que muitas bandas são capazes de dizer estas palavras, mas certamente que nenhuma delas consegue expressá-las com tanta verdade e emoção na voz como Eddie Vedder.
«Das praias da Ericeira a Cascais, só temos experiências boas aqui e sentimo-nos gratos todas as vezes. Digo-o do fundo do coração», declarou Eddie a meio do último concerto da tour europeia. Aliás, todos sabemos que os Pearl Jam terminam propositadamente a tour em Portugal para que Eddie possa depois passar alguns dias na Ericeira a surfar e a matar saudades de alguns amigos, como é o caso do surfista português Tiago “Saca” Pires.
Motivo da enchente do último dia do NOS Alive 2024 e da maré de t-shirts com o icónico boneco branco à frente e a tracklist de “Ten” atrás, os Pearl Jam continuam a demonstrar que são uma banda de culto e multigeracional. Quanto aos bilhetes, esses esgotaram num ápice mal a banda foi anunciada no cartaz do festival. Desta forma, não é de estranhar que a expectativa e euforia dos fãs estivesse a transbordar, inclusive a dos fãs da velha-guarda que certamente já viram mais do que um concerto da banda de Seattle.
Prever uma setlist de Pearl Jam é tarefa impossível.
Prever uma setlist de Pearl Jam é tarefa impossível. À semelhança dos Metallica, os Pearl Jam também fazem as setlists no próprio dia dos concertos com base naquilo que têm tocado ou não naquela tour e no que tocaram ou não nas últimas vezes que visitaram aquele país. Desta vez fomos brindados com uma setlist centrada maioritariamente nas extremidades da sua discografia, “Ten” (1991) e “Dark Matter” (2024).
“Daughter” de “Vs.” (1993) foi a primeira surpresa da noite. O som ainda estava a ser afinado, a voz de Eddie não chegava cá atrás de forma totalmente percetível. A banda partiu depois para a primeira passagem por “Dark Matter” com a faixa titulo. Gravado nos estúdios Shangri-La, em Malibu, e produzido por Andrew Watt, uma espécie de Rick Rubin dos tempos modernos, este é um disco musculado onde se nota uns Pearl Jam em profunda harmonia, comunhão e na plenitude das suas capacidades técnicas e composicionais. «O novo álbum soa muito bem, todos tocaram bem», disse Vedder a certa altura.
Com uma discografia tão rica e variada e com as setlists sempre em constante mutação, não é de estranhar que “Animal” tenha recebido a sua estreia na tour no Alive. O tema foi recebido de braços abertos por todos os fãs, principalmente por aqueles que colocam “Vs.” à frente de “Ten” no seu top pessoal.
O ambiente sentido em cima do palco é de uma banda feliz e unida. As interações entre os músicos mostram-se espontâneas e os elogios por parte de Vedder aos seus colegas sentidos. Afinal de contas esta é uma formação que está junta desde 1998.
O ambiente sentido em cima do palco é de uma banda feliz e unida. As interações entre os músicos mostram-se espontâneas e os elogios por parte de Vedder aos seus colegas sentidos. Afinal de contas esta é uma formação que está junta desde 1998.
Como é apanágio Eddie não fugiu ao seu habitual discurso na nossa língua. Rodeado de anotações e de muita paciência, Vedder lá conseguiu expressar num português macarrónico e arrastado a sua profunda admiração por Portugal. O vocalista concluiu a sua intervenção com uma garrafa de vinho empunhada e a invocar um brinde com todos os fãs.
“Given To Fly” e “Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town” mostraram que o vinho parece mesmo ser o segredo de Vedder. A sua voz está intocável, robusta e timbricamente muito próxima daquela que apresentava nos anos 90. O resto da banda também não demonstra sinais da passagem dos anos. Mike McCready dividiu o protagonismo com Vedder. O seu domínio da pentatónica é extasiante, principalmente em momentos de maior show-off, como foi o caso do solo de guitarra atrás das costas. Uma Gibson Les Paul Standard, uma Fender Limited Edition Mike McCready 1960 Stratocaster e uma Gibson Firebird Studio 70’s Tribute foram algumas das armas utilizadas por McCready. Já Jeff Ament é o coração da banda, pouco mencionado na discussão dos maiores baixistas de rock, Jeff é dos baixistas mais criativos com várias linhas de baixo icónicas e imediatamente reconhecíveis. Nas suas mãos vislumbrámos o clássico Hamer Jeff Ament Signature 12-String Bass e o Mike Lull Jeff Ament JAXT4. Por sua vez, Stone Gossard é o mais discreto da secção das cordas, mas nem por isso o menos cotado. Reconhecido como um dos melhores guitarristas ritmo, é Gossard que segura a harmonia quando McCready parte para os seus solos. Gossard também recorreu a uma Fender Limited Edition Mike McCready 1960 Stratocaster e ainda a uma Gibson ES-330. Quanto ao baterista Matt Cameron, este foi enaltecido no concerto por Eddie Vedder, com o vocalista a destacar o seu trabalho exemplar no último álbum. «O novo álbum está muito bom. Todos tocaram bem, mas este senhor aqui atrás tocou lindamente», disse Vedder antes anunciar a semi-psicadélica “Waiting for Stevie”.
«Muitas músicas do primeiro álbum só têm uma palavra. “Black”, “Jeremy”, “Porch”, etc. Esta do novo álbum também», mencionou Eddie antes de “Wreckage”. Todas elas seriam tocadas no concerto e recebidas em euforia, assim como “Why Go” e “Even Flow”. «Este é o Mike McCready e a música, não me lembro do nome», disse Vedder antes do guitarrista iniciar os acordes do segundo single de “Ten”.
“Once” e “Porch” encerraram o set principal. Agora era momento de aguardar pela lotaria do encore. Passado um ou dois minutos lá apareceu Eddie sozinho em palco com uma guitarra acústica. Talvez influenciado pelas notícias que já começavam a circular e que davam conta de um atentado contra Trump, Vedder decidiu apelar à paz e à união com “Imagine” de John Lennon, tema que teve também a sua estreia nos alinhamentos desta tour. Os fãs responderam à chamada com as luzes dos telemóveis levantadas e com as vozes bem afinadas.
Seguiram-se “Black”, “Do The Evolution” e, aquele que podemos considerar ser o hino oficial do festival, “Alive”. “Rockin’ in the Free World”, cover de Neil Young, trouxe novamente a componente política para cima do palco. Com o aproximar das eleições norte-americanas, Vedder apela para que os eleitores tenham consciência que o seu voto pode influenciar não só a liberdade dos americanos, mas também a de todo o mundo. “Yellow Ledbetter” encerrou o concerto com uma menção especial de Vedder a Boom Gaspar, o teclista havaiano que acompanha a banda desde 2002 possuiu raízes portuguesas e tal como toda a banda, sente-se profundamente em casa no nosso país.
Feitas as despedidas, agora é tempo do merecido descanso e de recarregar baterias antes da banda voltar à estrada no final de Agosto. Para Eddie Vedder, o mais provável é que esse descanso passe pelas ondas da Praia de Ribeira d’Ilhas, na Ericeira.
SETLIST
- Daughter
- Dark Matter
- React, Respond
- Animal
- Given to Fly
- Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town
- Wreckage
- Why Go
- Jeremy
- Wishlist
- Waiting for Stevie
- Even Flow
- Upper Hand
- Mind Your Manners
- Once
- Porch
- Imagine (John Lennon Cover)
- Black
- Do the Evolution
- Alive
- Rockin’ in the Free World (Neil Young Cover)
- Yellow Ledbetter