NOS Alive 2022: Royal Blood, São (só) Preciso Dois Para Rockar

Perante a árdua tarefa de abrir para os Metallica, os Royal Blood demonstraram no Passeio Marítimo de Algés que dispõem de fibra sonora para encher grandes palcos.

Os Royal Blood já não são propriamente o segredo mais bem guardado do rock. Aliás, poucos serão aqueles que desconhecem que a imponente moldura sonora da banda é proporcionada por apenas dois elementos, Mike Kerr no baixo e Ben Thatcher na bateria. Ainda assim, certamente que os mais desatentos que assistiam ao concerto e escutavam aqueles riffs e solos, habitualmente providos de um instrumento de seis cordas, saíram de lá cheios de interrogações.

Se em 2017, o palco Heineken foi o espaço ideal, face á dimensão da banda, para acolher o rock “sujo” dos rapazes de Worthing, desta vez, e fruto do seu crescimento exponencial dos últimos anos, o palco NOS relevou ser mais do que merecido. Como se isso não bastasse ainda conseguiram juntar também as honras de abrir para as lendas do heavy metal, os Metallica. Claro que os Royal Blood, podiam-se ter amedrontado perante tamanho palco e plateia, mas o efeito que as circunstâncias tiveram sobre a banda foi precisamente o contrário, os dois músicos não só agigantaram-se do alto da plataforma que estava montada sobre o palco, como também chegaram-se por diversas vezes à frente, principalmente Mike Kerr, para percorrer o “snakepit” que os Metallica gentilmente cederam às outras bandas que atuaram no mesmo dia.

Ao NOS Alive 2022, trouxeram “Typhoons”, editado em 2021. O novo álbum marca uma evolução para uma sonoridade mais dançável, fruto da incorporação de elementos de dance-rock e disco, no entanto, não dispõe, na sua maioria, do vigor necessário para rivalizar com os temas mais crus dos álbuns homónimo (2014) e “How Did We Get So Dark?”(2017).

Por esta altura já Ben Thatcher demonstrava a sua eximia coesão rítmica carregada de groove enquanto Mike Kerr destilava os seus riffs extremamente catchy provenientes da sua vistosa coleção de baixos.

O concerto teve um inicio morno com a introdução da faixa titulo, porém a efervescente “Boilermaker” acabou por ser a transição mais acertada para o primeiro clássico da noite “Lights Out”. Por esta altura já Ben Thatcher demonstrava a sua eximia coesão rítmica carregada de groove enquanto Mike Kerr destilava os seus riffs extremamente catchy provenientes da sua vistosa coleção de baixos. Entre os Fender Starcaster Bass e Gretsch G2220 Electromatic Junior Jet Bass II, o nosso favorito foi sem dúvida o Mike Kerr Custom Shop Fender Jaguar Bass em laranja mecânica, que, aliado a uma extensa coleção de pedais que inclui modelos como o Boss PS-6 Harmonist, o ZVex Mastotron Fuzz Pedal, o Boss AW-2 Auto Wah ou o DigiTech WH-5 Whammy proporcionou a tão própria linguagem sonora dos britânicos.

Quando chegou a vez da stoner “Little Monster”, já estávamos a meio do concerto e os dois músicos com “sangue azul” já não conseguiam esconder a excitação provocada pelo facto de estarem a tocar perante uma enorme multidão e antes dos seus ídolos Metallica. Toda essa excitação acabaria por ser libertada num imponente solo de bateria de Ben Thatcher, que, entre padrões rítmicos próprios, culminou com uma série de pancadas no gongo e ainda deu espaço para uma espreitadela aos conterrâneos Led Zeppelin, ou fomos só nós que ouvimos algumas fills características do imortal Bonzo? Já “How Did We Get So Dark?” trouxe um pequeno percalço com o baixo de Mike Kerr a sofrer problemas técnicos, obrigando o músico a trocar de instrumento a meio da música, mas sem que esta sofresse qualquer paragem, afinal de contas estamos a falar de uma banda que já conta com alguma rodagem. Segundo as setlists dos concertos anteriores, o fim avizinhava-se, e após mais uma passagem por “Typhoons” com “Million and One”, o set concluiu ao som da ginga de “Figure It Out” e da feroz “Out of the Black”. Estava assim feito o aquecimento para os quatro rapazes de São Francisco.