O Tímido Rugido dos British Lion

Perante um LAV – Lisboa Ao Vivo completamente despido, os British Lion apresentaram um concerto morno que apenas cativou os fãs mais fervorosos.

Workaholic é a expressão que melhor define Steve Harris, fundador e líder dos British Lion, Quando não está na estrada com os Iron Maiden, Steve ou está em casa a compor e a gravar, a produzir outras bandas ou então está na estrada com estes British Lion. Aliás, Steve Harris criou precisamente este projeto paralelo com intuito de “fugir” das produções megalómanas dos Maiden e de voltar a tocar em pequenos clubes. Contudo, o mais sensato para o músico de 66 anos seria fazer uma tour com Maiden, tirar uns meses de descanso, e depois voltar à estrada com os British Lion. Mas Steve não está muito virado para os tempos mortos e prova disso foi esta tour dos British Lion que se encontrou plenamente encaixada na tour dos Maiden, fazendo uso dos vários dias de folga destes últimos. Só para terem uma noção um músico com esta idade por norma toca um concerto e descansa dois dias. Pois bem, Steve Harris não descansa nem dois nem sequer um dia, ao invés prefere tocar quatro (sim leram bem!) concertos seguidos, como aconteceu nesta última semana onde Steve tocou com os British Lion em Barcelona no dia 28, no dia 29 tocou outra vez em Barcelona mas com os Maiden, no dia 30 tocou em Lisboa novamente com os British Lion e no 31 volta a tocar com os Maiden no Estádio Nacional, em Oeiras. Haja estamina!

Ao LAV os British Lion, compostos por Steve Harris no baixo, Richard Taylor nos vocais, David Hawkins e Graham Leslie nas guitarras e Simon Dawson na bateria, trouxeram “The Burning” o seus segundo registo de estúdio editado em 2020.

Não se esperava uma enchente, mas também não estávamos à espera de encontrar uma sala completamente descomposta. Fazendo as contas por alto deviam estar no LAV cerca de 200/300 metaleiros, muitos deles estrangeiros, que certamente aproveitaram o fim de semana para viajar até Portugal não só para ver os British Lion, mas também os Iron Maiden. Todavia, o que é certo é que os British Lion contam já com uma década de carreira e dois álbuns de estúdio, e se olharmos a outros projetos paralelos com sucesso de grandes estrelas do rock e heavy metal, como é o caso dos Slash feat. Myles Kennedy and The Conspirators ou os Stone Sour, de Corey Taylor, ainda mais dúvidas se levantam em relação à razão pela qual estes British Lion do lendário Steve Harris não se conseguem afirmar no circuito dos clubes.

A fraca afluência ao LAV transpareceu no concerto tépido que os British Lion proporcionaram. Com ares de quem estava ali apenas para cumprir calendário, a banda não conseguiu estabelecer química com o público que se encontrava algo disperso e pouco atento . Com um som algo embrulhado, principalmente na voz de Richard Taylor e na guitarra de Graham Leslie , foi-nos também dificultada a tarefa de nos inteirarmos das capacidades técnicas do vocalista e guitarrista. Contudo, nem tudo foi negativo. Há que destacar a trilogia final “World Without Heaven”, “Last Chance” e “Eyes of the Young”, onde a banda conseguiu sacar uns belos coros aos poucos espetadores que ainda estavam sintonizados, e também a boa disposição e excelente forma com que Steve Harris se apresentou. Ao longo de uma 1h30m o baixista percorreu o pequeno palco de uma ponta à outra, saltou, e ainda puxou pelos fãs para baterem palmas em compasso, isto tudo sem nunca descorar o seu característico galope.

Também não podemos deixar em branco a abertura do concerto, que esteve a cargo dos Airforce. A banda composta por veteranos da cena NWOBHM apresentou um concerto bastante especial, isto porque nas vozes estava Lino, vocalista português, que tem dado cartas lá fora. Perante uma plateia composta por familiares, amigos e conhecidos Lino puxou dos galões e demonstrou toda a sua mestria e capacidade vocal enquanto vocalista de heavy metal tradicional.