A partir de “Black Earth”, 4º LP dos Process Of Guilt, é preciso juntar tenso e visceral à longa lista de adjectivos que descrevem uma das melhores bandas no underground nacional.
Adjectivos como poderoso, massivo, monolítico, pesado, arrasador, etc., tornaram-se recorrentes para descrever a sonoridade dos Process Of Guilt. Certamente que podem continuar a ser aplicados a “Black Earth”, porque caracterizariam bem o disco. Mas já não são o núcleo sonoro da banda, naquele que é o seu quarto LP.
Numa retrospectiva ao centro discográfico dos eborenses, “Erosion” e “Fæmin”, especialmente este, à sua maneira são mais épicos, enquanto “Black Earth”, com inesperada velocidade de bpms, é mais frenético e, consequentemente, mais agressivo.
É um álbum mais focado nas canções, que são mais directas. Aliás, “(No) Shelter” e “Feral Ground” cativam a atenção de imediato. Mas isso não torna o álbum imediato. Demora-se a assimilar as muitas nuances de tempos e dinâmicas que o percorrem e cuja súmula é feita (com intencionalidade ou não) simbolicamente no tema título. A partir daqui, é preciso juntar tenso e visceral à longa lista de adjectivos que descrevem uma das melhores bandas no underground nacional, paradoxalmente devido a um trabalho tremendamente arquitectado.
Com um som tão grande como cru, num percurso exponencial até “Hoax”, “Black Earth” é o álbum mais cerebral dos Process Of Guilt.
As canções, mais independentes umas das outras, sem estruturas melódicas e harmónicas ubíquas, sem evocação de repetições, são peças que juntas formam um puzzle. As partes formam o todo, como se os Process Of Guilt tivessem evoluído do megalítismo (presente nos Almendres) para a arquitectura granítica e marmórea dos romanos, do Templo de Diana.
A mistura de Andrew Schneider despiu o som da banda, mas oferece-lhe uma intensidade exponencial, fazendo a intensidade do álbum envolver o ouvinte num percurso descendente de opressão até, tendo passado pela amplitude do hexastilo, se ver no pronau a contemplar a cela onde reside a estranha divindade órfica que vemos na capa.