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Pussy Riot: O Concerto Que Não Foi Sem o Deixar de Ser

Pussy Riot: O Concerto Que Não Foi Sem o Deixar de Ser

2022-06-10, Capitólio, Lisboa
Samuel Silva
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As Pussy Riot apresentaram-se imponentes em Lisboa, no Capitólio. Na estreia em nome próprio em territórios lusos, Pussy Riot não vieram para meias medidas mas a performance sobrepôs-se ao concerto. Contudo, a mensagem foi recebida, com o russo como veículo e os nossos corpos como estrada.

O magnetismo das bancadas fez-se sentir nos momentos de antecipação. Estavam cheias quando bateram as horas de início e a plateia em pé contava-se pelos dedos das mãos. Alexander Cheparukhin produtor e organizador de festivais, entrou depois do escuro tomar conta da sala. Colabora com o grupo desde as suas primeiras quezílias com as autoridades. Mesmo sendo russo, mesmo sentindo as pressões surpreendeu-o o encarceramento de alguém pela sua arte. Desde então envolveu-se no projeto e fez o que pode para lhe dar o reconhecimento devido citando nomes como Rod Stewart ou Paul McCartney pelo contributo à causa. Findos sensivelmente 10 minutos termina com um pedido: “Sejam o mais punk que conseguirem”.

Sejam o mais punk que conseguirem.

Por esta altura a energia na sala já era outra, entram as Pussy e começa o riot. As barreiras linguísticas foram derrubadas pela energia e intenção do grupo. Ah e pelas legendas, claro! A atenção era partida entre vídeo, legendas, artistas e som. Mesmo assim o público ia-se soltando lentamente a convite dos ritmos simples mas rápidos, alimentando-se da energia das Pussy. As barreiras temporais também foram quebradas, mas de maneira distinta. O espetáculo transporta o espectador para os anos iniciais das ativistas, onde permanece até voltarmos aos dias de hoje completando uma viagem que nos permite perceber como é que chegámos ao estado actual das coisas. Num vaivém de paralelismos que incitam em qualquer ser uma revolta que aloja dentro de si, vaivém este que não nos levou às mais recentes músicas do grupo tendo optado por temas da época da “Punk Prayer”. É impossível ficar indiferente ao que se passa no mundo, mas sem a coragem de artistas assim, é mais fácil.

O grupo alinhou com Lucy Stein, que trocou a polícia pelas Pussy, havia acab energy na sala de facto, Antom, saxofonista do “pós-tudo” e duas das Pussy que estiveram na Catedral de Cristo Salvador em Moscovo em 2012 e cumpriram pena, Maria Alckhina aka Masha e Diana Barkof. A passagem pelo gulag e o impacto que teve nas atividades do grupo e nos próprios membros são temas centrais de uma performance visceral e dinâmica. Movida pela presença em palco, atividade do público e a velocidade das canções a potência das Pussy Riot ecoou na sala sem a estremecer. Quiçá não era esse o objetivo, especialmente pela composição da performance que apelava à reflexão através de vídeo e relatos.

Os visuais estiveram a cargo de Vasily Bogatov que realizou os primeiros vídeos do grupo e “sem os quais não estariam aqui“, quer pelo contributo que tiveram na libertação de Masha e Barkof quer pela exposição alcançada. No entanto, as russas não puseram pé no travão e isso refletiu-se no público mais próximo do palco que chegou a precisar de arrefecimento sob a forma de chuva de água engarrafada.

No final, a mesinha de merchandise onde parte das receitas são destinadas a um dos principais hospitais pediátricos ucranianos situado em Kiev sendo que foi também apresentado um código qr para quem quisesse doar diretamente ao dito hospital.