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Rock in Rio Lisboa 2024: Ed Sheeran e o Poder Magnético de uma Voz, Guitarra e Loop Station

Rock in Rio Lisboa 2024: Ed Sheeran e o Poder Magnético de uma Voz, Guitarra e Loop Station

2024-06-16, Rock in Rio, Lisboa
Rodrigo Baptista
HELENA YOSHIOKA
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Sozinho em palco, como já nos habituou, Ed Sheeran regressou ao Rock in Rio Lisboa passados 10 anos para dar-nos um vislumbre daquilo que tem sido a sua The Mathematics Tour. Acompanhado pela sua fiel guitarra Sheeran by Lowden e pela Sheeran Loopers Looper X Workstation, Ed cativou o Parque Tejo e mostrou que ainda é possível fazer um grande concerto pop sem recursos humanos a preencher o palco e artifícios cénicos elaborados.

[Não foi possível à equipa da AS fazer a habitual reportagem fotográfica]

Inserido na The Mathematics Tour, o concerto de Ed Sheeran no Rock in Rio Lisboa 2024 apresentou uma configuração ligeiramente diferente daqueles que o músico britânico tem apresentado em nome próprio nos estádios por onde passa. Com um palco com uma configuração 360º e um grande ecrã em auréola a sobrevoar o artista, Ed Sheeran teve que adaptar a sua atuação à estrutura de palco apresentada pelo Rock in Rio. Desta forma, optou por apenas colocar uma plataforma ao centro do palco, onde tinha a sua loop station e uma caixa de ritmos, com painéis led ao seu redor para proporcionar ao concerto uma componente visual mais dinâmica.

Sem qualquer tipo de introdução épica ou faixa para criar aquela ansiedade miudinha no público, Ed Sheeran entrou em palco de forma descontraída, afinal de contas só estavam 80 000 pessoas (números da organização) à espera de o ver e ouvir.

Com a sua pontualidade britânica arrancou logo para “Castle on the Hill”, tema que nesse dia correu a internet em Portugal, depois de Ed ter partilhado uma performance gravada no Castelo de São Jorge após ter aterrado em Lisboa. Com um som cristalino e bem definido, sem o vendaval do dia anterior a atrapalhar, foi possível termos um pequeno cheirinho das maravilhas que a Sheeran Loopers Looper X Workstation pode fazer.

Tudo Isto é Ao Vivo, Sem Backing Tracks!

Ainda assim, o músico não se livrou de um momento caricato, o único a apontar no concerto todo. Já para o fim da música, subitamente, houve uma falha de energia que desligou o PA durante breves segundos. Sheeran não se apercebeu e continuou a cantar, mas nós antecipámos o pior, pois afinal de contas aquele histórico concerto dos Korn no RIR 2016 ainda está bastante fresquinho na nossa mente.

Logo no final da primeira música, Sheeran quis colocar os pontos nos is e esclareceu que tudo aquilo que estávamos a ouvir era ao vivo, sem backing tracks. «O que eu tenho aqui é uma loop station que permite-me gravar várias camadas e depois apagar. O próximo concerto não vai ser igual a este.» Concluídas as explicações, arrancou para “Shivers”, uma música que escreveu aos 18 anos quando ainda tocava em pubs. Sheeran admitiu que quando se estreou em Portugal no RIR 2014 só tinham passado cinco anos desde essa fase em que ninguém queria saber das suas música, e que o momento de ter 40000 pessoas a cantar à sua frente no Parque da Bela Vista ainda está bastante presente na sua mente como algo surreal.

«O que eu tenho aqui é uma loop station que permite-me gravar várias camadas e depois apagar. O próximo concerto não vai ser igual a este.»

Sozinho em palco a desempenhar o trabalho todo com uma guitarra, loop station e caixa de ritmos, é natural que grande parte dos arranjos soem diferentes aos originais que Ed gravou em estúdio com uma produção muito mais elaborada. Ainda assim, é esta simplicidade e roupagem diferente que dá carácter às suas músicas e que as valida como composições no sentido mais puro e belo da palavra.  Acompanhado de projeções que combinavam imagens do concerto em tempo real com efeitos, Sheeran não se preocupou em apresentar um espectáculo com um elevado aparato cénico. O músico sabe que as suas músicas têm um efeito magnético e tudo o resto não passa, muitas das vezes, de distrações.

Em “Give Me Love” Ed testou o pulso ao público ao pedir para que este fizesse harmonias vocais. O lado esquerdo ficou com a harmonia mais grave e o lado direito com a mais aguda e, sob a batuta do maestro, lá fomos contagiados a entrar no imenso coro que se fez ouvir. Já Bill Withers e Stevie Wonder, duas grandes influências de Sheeran, deram um ar de sua graça no criativo mashup “Take It Back / Superstition / Ain’t No Sunshine”. Com a base delineada na loop station, Ed foi saltando de tema em tema casando-os de forma brilhante.

Seguiu-se “Eyes Closed” como um dos momentos mais emotivos de todo o concerto. A música foi dedicada a um amigo próximo de Sheeran que já partiu. O artista revelou ainda, algo emocionado, que na altura não soube lidar muito bem com a situação e que a música o ajudou a encontrar alguma paz de espírito. A homenagem foi sentida e o público deu uma força a Ed ao ajudar na letra.

Em mais um mashup, desta vez “Don’t / No Diggity”, o músico mostrou que tem flow e que um álbum a combinar melhor os espectros sonoros do pop e do rap não é de todo despropositado. Já o hino romântico “Thinking Out Loud” foi anunciado com um «Lisboa! Se não sabem a letra desta próxima música estão no concerto errado.» Escusado será dizer que o tema de “Multiply” foi um dos mais entoados pelo público e até convidou alguns pares românticos para uma dança a dois. Foi também neste tema que Sheeran trocou a sua Sheeran by Lowden Stadium Edition por uma Lowden GL-10.

“Photograph” e “Sing” mostraram que Sheeran sabe construir setlist dinâmicas. A articulação entre músicas que pedem singalongs mais contidos e outras que despertam uma explosão de energia é fulcral para a fluidez do concerto e Ed soube equilibrar bem essas duas valências. O refrão “Oh-oh-oh-oh-oh-oh-oh, oh-oh-oh-oh» levou-nos para os caminhos do R&B, algo influenciado pela escrita conjunta deste tema por parte de Sheeran e Pharell Williams. E por falar em escrita conjunta, Ed revelou que a música que iriamos ouvir de seguida tinha sido escrita por ele para outro artista. Sem revelar o nome, arrancou para “Love Yourself”, que instantaneamente foi reconhecido como um dos maiores sucessos de Justin Bieber. Em jeito brincalhão, Sheeran revelou no fim que o refrão original era um bocadinho diferente e procedeu a cantar «‘Cause if you like the way you look that much/ Oh, baby, you should go and fuck yourself.»

“Perfect” trouxe de volta as declarações de amor e “You Need Me, I Don’t Need You” o rap, mas foi “Shape of You”, com a sua sonoridade dancehall , que embalou o público em vários tipos de dança, algumas delas mais sensuais.

Para fechar a noite só faltava mesmo um êxito, “Bad Habits”. Temos que admitir que a nossa versão favorita da música é aquela que Ed apresentou nos BRIT Awards 2022 em colaboração com os Bring Me The Horizon. Ainda assim, esta versão mais despida mostrou-se eficaz e fez com que as várias dezenas de milhares de fãs saltassem ao ritmo da batida four on the floor. Com chamas a acompanhar a performance e a elevar o espetáculo visual, Ed Sheeran saiu do palco praticamente em ombros, sob a ovação de um público que soube reconhecer toda a mestria, criatividade e dedicação que o artista mostrou ao longo daquela 1h e 30m de concerto.

[O pesadelo para muitos foi o regresso a casa… não vale tudo Rock in Rio Lisboa.]

SETLIST

  • Castle on the Hill
  • Shivers
  • The A Team
  • Give Me Love
  • Take It Back / Superstition / Ain’t No Sunshine
  • Eyes Closed
  • Don’t / No Diggity
  • Thinking Out Loud
  • Photograph
  • Sing
  • Love Yourself (Justin Bieber Cover)
  • Perfect
  • Bloodstream
  • You Need Me, I Don’t Need You
  • Shape of You
  • Bad Habits