Os Soulfly são daquelas bandas que dispensam grandes apresentações. Amados por muitos e odiados por outros tantos, em grande parte devido ao facto de Max Cavalera ter abandonado o projecto Sepultura algures em 1997. Pois bem, para esses que criticam a sua decisão e apontam o dedo a dizer que Soulfly nunca chegaria aos calcanhares de Sepultura é hora de abrirem os olhos, neste caso os ouvidos, e escutem o oitavo disco de estúdio do quarteto.
Porquê este aparte? Porque “Enslaved” apresenta um “renovado” Max Cavalera (e companhia) no auge do seu processo criativo, esqueçam o “Nu-Metal”, esqueçam o som dos batuques tribais e seus afins, este trabalho é muito mais rápido, negro, e embebido nas raízes do death e thrash metal e com uma pitada do já habitual groove, aproximando-se de trabalhos como “Chaos A.D” ou “Roots” dos Sepultura.
Grande parte desta metamorfose pode dever-se ao facto de, uma vez mais, ter havido uma mudança de line-up, que agora conta com Tony Campos (Static-X, Prong, Assesino) no baixo e David Kinkade (Borknagar, Arsis) na bateria, para além do já fiel Marc Rizzo (Cavalera Conspirancy, ex-Ill Nino), que trouxeram mais coerência e profissionalismo ao som e à própria composição do grupo. Coerência essa que se nota logo em “World Scum”, o primeiro single retirado deste trabalho, no qual, por alguns minutos, parecemos estar perante um tema dos polacos Behemoth, em que o duplo pedal David e colaboração vocal de Travis Ryan, dos Cattle Decapitation, fazem logo adivinhar a tempestade que vem por ai adiante.
Em termos líricos não há grande evolução aos anteriores registos, havendo um ataque directo, e por vezes com metáforas, às atrocidades realizadas pela raça humana, algo habitué em outros trabalhos como “Dark Ages”, “Omen” ou “Prophecy”. Os destaques vão para a fervorosa “World Scum”, a estridente “Gladiator”, a estonteante “Treachery”, a introspectiva “Redemption Of Man By God” (com a participação de Dez Fafara dos Devil Driver) e “Plata O Plama”. Esta última com a particularidade de ser cantada em português e também em espanhol em conjunto com o baixista Tony Campos, criando uma bela cumplicidade intercultural.
É, sem dúvida, o disco mais competente e robusto da banda, conseguindo manter o ouvinte empolgado e interessado de início ao fim, ao longo de 60 e poucos minutos.