Stick To Your Guns no LAV, Diamantes Em Bruto
31-01-2025, Lisboa Ao VivoPresença assídua no nosso país, os Stick To Your Guns regressaram, mais uma vez, a Portugal para celebrar o lançamento do aclamado novo álbum “Keep Planting Flowers”. Numa espécie de mini festival de hardcore, a banda californiana trouxe consigo mais três nomes, No Cure, Elwood Stray e Bodysnatcher, que articularam entre si peso e melodia.
Provenientes de Orange County, esse condado norte-americano rico em bandas influentes de punk hardcore, os Stick To Your Guns têm consolidado a sua carreira ao longo dos últimos 20 anos através de uma profunda dedicação à vertente mais humanista do hardcore. Com malhas agressivas, mas repletas de melodia e de letras empáticas e motivacionais, a banda consegue tocar em toda uma falange da sociedade que procura na sua música respostas para os desafios do mundo contemporâneo.
Adorados pelo público português admiradores do género, como prova a sua presença constante nas salas de Lisboa e arredores, os Stick To Your Guns não quiseram deixar Portugal de fora da apresentação do seu novo longo duração “Keep Planting Flowers”, um álbum cuja sonoridade é descrita efusivamente pelos fãs como um regresso ao período áureo de “Diamond” (2012). Como é recorrente na cena, a banda trouxe um cartaz recheado de dois nomes emergentes do hardcore e metalcore, No Cure e Elwood Stray e um que tem vindo a consolidar uma interessante fusão de hardcore e deathcore, Bodysnatcher.
Com a sala 2 do LAV bem composta, mas longe de estar esgotada, o público fez a festa com muito two step, mosh, crowd surf e camaradagem, tal como mandam as regras de um concerto de hardcore.
No Cure
Provenientes de Birmingham, no Alabama, os No Cure apoiam-se no movimento straight edge para espalhar a sua mensagem. A banda de Blaythe Steuer aqueceu os fãs que chegaram cedo ao LAV com temas dos seus quatro EPs, “…for the Stainless Steel” (2022), “Cursed from Birth”(2022), “The Commitment to Permanence” (2023) e “I Hope I Die Here” (2024). “Don’t Need Your Help”, “The Final Truth” e “No Cure Straight Edge Die Slow Fuck You” foram algumas das malhas que receberam o selo de aprovação do público através de algum crowd kill preliminar no pit. Destaque ainda para a guitarra espampanante de Aesop Mongo, uma IronThrall construída pelo luthier HugoDWRX com partes de uma BC Rich Ironbird.
Elwood Stray
Numa interessante fusão de punk hardcore e metalcore, os Elwood Stray apresentaram-se no LAV para cativarem novos fãs com os temas do seu primeiro, e único álbum, “Gone With The Flow” (2023). A articulação entre os berros do vocalista Maik e a voz limpa do guitarrista Fabi certamente que cativaram todos aqueles que se revêm mais na melodia do metalcore do que propriamente na aspereza do hardcore. “Evolve”, “Trespass”, “Uncertain Me” e, curiosamente, “No Cure”, foram alguns dos temas apresentados que deixaram água na boca para um futuro lançamento por parte da banda germânica.
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Bodysnatcher
Também estreantes em Portugal, os Bodysnatcher, de Melbourne, na Flórida, foram sem dúvida a banda mais pesada do cartaz. Elogiados tanto pela comunidade do hardcore como do deathcore, trouxeram consigo uma agressividade ímpar que desafiou os mais destemidos do mosh pit. Já com quatro álbuns editados, o destaque foi para o EP “Vile Conduct”, editado em 2024. “E.D.A.”, “Behind the Crowd”, “Twelve/Seventeen”, “Murder8”, que conta com a participação de Jamey Jasta dos Hatebreed, viraram o público do avesso, o que motivou vários sorrisos por parte do vocalista cubano/japonês Kyle Medina.
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Stick To Your Guns
Não há nada como fazer o aquecimento para um concerto de punk hardcore com um banda sonora composta por nomes como Elton John, Whitney Houston e a-ha. Pode parecer contraditório, mas, se vos dissermos que a sala 2 do LAV entoou de cor e salteado os refrões de malhas como “I’m Still Standing”, “I Wanna Dance With Somebody” e “Take On Me”, acreditem que não é exagero da nossa parte.
Aquecimento vocal realizado, estava na hora de receber os mestres do punk hardcore melódico Stick To Your Guns. O petardo inicial surgiu com “Against Them All”, que colocou o público em ebulição e em perfeita sintonia para o primeiro grande sing along da noite. Sem tempo a perder, e sempre com o pé no acelerador, a banda encaixou “Severed Forever” e “Such Pain”. No quarto concerto seguido de uma sequência de seis concertos, a banda apresentou-se com uma frescura impressionante, com particular incidência no vocalista Jesse Barnett que não apresentou sinais de fadiga vocal.
Com opiniões políticas bem vincadas, Jesse não perdeu a oportunidade de dedicar a malha de intervenção “What Choice Did You Give Us?” ao povo da Palestina. Numa aversão para com as atrocidades que têm vindo a acontecer no Médio Oriente, o público berrou a malha em jeito de solidariedade para com todos aqueles que estão a sofrer com o conflito.
Ainda sobre as transformações no mundo e nas economias locais, Jesse expressou que em passagem por Madrid e Barcelona tinha falado com alguns fãs sobre o boom do turismo, a dificuldade que muitas pessoas têm para residir nestas cidades e o fosso cada vez maior entre ricos e pobres. No fim, concluiu que Lisboa e Los Angeles, a cidade onde a banda está sediada, também não têm conseguido escapar a esta situação. A novidade “More Than a Witness” surgiu então como uma mensagem de esperança para o futuro e trouxe o primeiro circle pit da noite.
Malhas como “Amber”,”We Still Believe”, “Invisible Rain”,”Nothing You Can Do To Me” e “What Goes Around” desfilaram numa setlist em formato best of que, estranhamente, deixou de fora qualquer tema de “Spectre” (2022). Num momento pleno de inspiração, Jesse atirou-se a “Keep Planting Flowers”, a balada que eleva o novo álbum para uma experiência catártica. Os fãs acompanharam a performance em profunda contemplação e reconheceram a entrega do vocalista, particularmente nos versos «I just wish I could say/
You were never invisible to me».
Já na reta final de um concerto que passou num ápice, 1h para ser mais preciso, a banda ainda disparou “We All Die Anyway”, “Spineless”, “Married to the Noise” e “Nobody” antes de evadir-se do palco.
Para uma sexta-feira à noite em Lisboa ficou a saber a pouco sair do LAV às 23:15, ainda assim não podemos culpar de todo, os Stick To Your Guns de falta de entrega. Com mais de 20 anos de rodagem e com tours que continuam a resultar em sequências de múltiplos concertos seguidos, não há como não tirar o chapéu à energia destes diamantes em bruto.
SETLIST
- Against Them All
Severed Forever
Such Pain
What Choice Did You Give Us?
More Than a Witness
Amber
We Still Believe
Invisible Rain
Nothing You Can Do to Me
What Goes Around
Keep Planting Flowers
We All Die Anyway
Spineless
Married to the Noise
Nobody