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Taylor Swift em Portugal, O Sonho de uma Noite de Primavera

Taylor Swift em Portugal, O Sonho de uma Noite de Primavera

2024-05-24, Estádio da Luz, Lisboa
Rodrigo Baptista
TAS Rights Management
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Após muitos anos de espera, a actual “Rainha da Pop”, Taylor Swift, estreou-se finalmente em Portugal com um concerto que se revelou uma autêntica maratona de cerca de 3h e 15m.

[Não foi dado acesso à Arte Sonora para fazer a habitual reportagem fotográfica]

De era em era, a artista norte-americana foi desfilando todos os clássicos que marcam uma carreira de 18 anos e que continua em ascensão. Entre interações com o público em português e promessas de um regresso em todas as suas próximas tours, o momento mais impactante do espectáculo foi mesmo a gigante ovação que Taylor recebeu a meio do concerto com as luzes acesas de um Estádio da Luz a fervilhar e que durou largos minutos. A abrir o concerto estiveram os icónicos Paramore, de Hayley Williams, que conseguiram cativar os fãs de Taylor com os seus clássicos “The Only Exception” e “Misery Business” e os seus temas mais recentes extremamente dançáveis.

Com recorde atrás de recorde, Taylor Swift apresenta-se como um fenómeno incomparável à escala mundial. Desde tornar-se a primeira cantora a aparecer na lista de bilionários da Forbes, só com a “The Eras Tour” já conseguiu gerar 360 milhões de dólares de lucro, a tornar-se na única artista a vencer por quatro vezes o Grammy para Álbum do Ano ou até mesmo com o seu mais recente álbum, “The Tortured Poets Department”, editado em Abril de 2024, a ser o mais escutado num só dia na plataforma de streaming Spotify, Taylor mostra que dificilmente iremos ver neste século outra artista tão bem sucedida e extremamente influente como ela.

A estreia de Taylor Swift em Portugal era para ter acontecido em 2020 com um concerto no festival NOS Alive. Porém, a pandemia levou ao seu cancelamento e ao consequente desespero dos fãs, que tiveram assim que esperar mais quatro anos para poder ver a maior estrela da pop ao vivo. Agora, depois de quase 100 espectáculos na “The Eras Tour”, os swifties portugueses viram finalmente a sua espera chegar ao fim. A corrida aos bilhetes foi, como era de esperar uma loucura, com longas filas de espera online, e nem uma segunda data agendada, foi suficiente para atender a tamanha procura.

Durante sensivelmente um ano, os swifties tiveram bastante tempo para se prepararem para aquele que muitos certamente consideram ser o melhor dia das suas vidas, ora através do visionamento nos cinemas do filme concerto da “The Eras Tour”, ora através da audição dos lançamentos de “Speak Now (Taylor’s Version)” e “1989 (Taylor’s Version)”, os mais recentes de uma série de regravações do seu catálogo que Swift tem vindo a fazer, e ainda de “The Tortured Poets Department”, o mais recente álbum de originais, editado já a meio desta “The Eras Tour”.

O Emo Ainda Mora Aqui?

Com sensivelmente 45 minutos de atraso, possivelmente devido às longas filas que teimavam em não fluir no perímetro do Estádio da Luz (não é a primeira vez que se fazem concertos na Luz não se percebe a falta de desorganização), os Paramore entraram em palco para nos brindarem com uma actuação enérgica. Eternos representantes do Big 4 das bandas emo, juntamente com os My Chemical Romance, Fall Out Boy e Panic At The Disco!, os Paramore já não são os mesmos de há 15 anos. A sonoridade pop punk característica dos álbuns clássicos “Riot!” e “Brand New Eyes” já não abunda nas suas composições, assim como o icónico cabelo laranja mecânico que a frontwoman carismática Hayley Williams apresentou durante vários anos. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e os Paramore são agora uma banda mais madura e aberta a diferentes experimentações musicais no especto da new wave e do synth pop, bem patentes nos álbuns mais recentes “Paramore” (2013), “After Laughter” (2017) e “This Is Why” (2023).

Neste que foi apenas o seu segundo concerto em Portugal, o primeiro deu-se no longínquo Optimus Alive 2011, os Paramore trouxeram, tal como Taylor, um pouco das suas diferentes eras.

A dançável “Hard Times” foi a escolhida para abrir o concerto. Com uma estética a fazer lembrar algumas malhas new wave de Blondie foi bem recebida por todos aqueles que já estavam desejosos de dar um pezinho de dança. Já com um som bastante equilibrado e com Hayley a mostrar-se pouco intimidada com um palco tão grande partiram para “Burning Down The House”, cover que a banda gravou para um álbum de tributo aos Talking Heads e que foi retribuída com a uma versão de David Byrne, vocalista dos Talking Heads, de “Hard Times”. “Still Into You” colocou muitos dos presentes aos saltos e a entoar o refrão, algo que surpreendeu Hayley. «Não estava há espera que tanta gente conhecesse a nossa música», disse a vocalista. “Caught in the Middle” e “Told You So”, esta última colocada slot da canção supresa que os Paramore têm vindo a tocar e trocar todas as noites, mantiveram a energia do público que se encontrava profundamente interessado em disfrutar da actuação e não apenas estar ali como espetador passivo.

Nem acredito que esta é apenas a nossa segunda vez aqui. Que recepção! Temos que voltar. Quem sabe até me mudo para cá.

«Nem acredito que esta é apenas a nossa segunda vez aqui. Que recepção! Temos que voltar. Quem sabe até me mudo para cá.», disse Hayley a certa altura em tom brincalhão enquanto acarinhava os swifties e lhes agradecia por estarem a receber os Paramore de braços abertos. Depois seguiram-se, os dois melhores momentos do concerto, aqueles que se revelaram uma verdadeira viagem no tempo para os fãs mais fervorosos dos Paramore. Primeiro com a balada “The Only Exception” tocada em acústico e entoada por grande parte dos estádio e depois com o hino que introduziu os Paramore a muitos fãs, e que a pedido de Taylor Swift voltou para as setlists da banda, “Misery Business”, com Hayley a dar-nos um cheirinho do seu icónico two step, passo de dança praticado ao som da música punk e hardcore.

Para o fim ficaram reservadas as divertidas, funky e groovy “Ain’t It Fun” e “This Is Why”. Foram apenas 45 minutos de concerto que passaram a correr, mas com a Hayley a prometer que um regresso dos Paramore a Portugal, desta vez em nome próprio, está para breve. Assim aguardamos…

The Greatest Show-Woman

O relógio já passava poucos minutos das 20:15 quando nos ecrãs gigantes surgiu uma contagem decrescente a anunciar o início do espetáculo. A histeria já estava montada e Taylor Swift ainda nem sequer tinha surgido no palco. Com uma intro a antecipar “Miss Americana & the Heartbreak Prince” entraram em palco um conjunto de bailarinos que, através de uma coreografia com panos esvoaçantes, criaram uma espécie de cortina no meio da extensa passadeira para desvendar Taylor em todo o seu esplendor. Completamente extasiada pela recepção calorosa, a artista esboçou um «muito obrigada!» no final da canção.

Optando por não percorrer as eras da sua carreira de forma cronológica, Taylor Swift deu início ao espectáculo com a era “Lover”. Curiosamente, a sua primeira era, referente ao álbum homónimo, editado em 2006, acabou por ficar de fora da setlist criada para esta tour. Seguiram-se “Cruel Summer”, “The Man”, “You Need to Calm Down” e a faixa-título. Com as transições cenográficas muito bem articuladas, não há praticamente tempos mortos e num ápice Taylor reapareceu com uma indumentária dourada para dar inicio à passagem pela era de “Fearless” (2008). A artista passou pela que lhe dánome, “You Belong With Me” e “Love Story”. Numa segunda interação com o público, a cantora voltou a demonstrar os seus dotes de português ao exclamar: «Lisboa, bem-vindos à “The Eras Tour». E já se sabe que o público adora!

Num discurso mais alongado, Taylor não quis deixar passar ao lado a felicidade de estar a estrear-se num novo país. Impressionada com a recepção calorosa, a cantora agradeceu a presença de todos e enalteceu a euforia com que foi recebida. Sem tempo a perder, porque avizinhava-se um concerto longo, seguimos para a era “Red” (2012) e para mais uma troca de roupa. “22” trouxe-nos o já habitual, mas sempre ternurento, momento em que Taylor Swift se desloca até ao fim da passadeira para oferecer o seu chapéu a uma swiftie bem pequenina. Depois seguiram-se dois temas mais populares e celebrados da artista, “We Are Never Ever Getting Back Together” e “I Knew You Were Trouble”. A passagem por esta era terminou com a versão alargada, de dez minutos, de “All To Well” com o público a responder à convocatória que Taylor tinha feito na apresentação do tema.

A passagem pela era de “Speak Now” (2010) foi brevíssima, com “Enchanted” a surgir como a única representação desse álbum conceptual. Seguimos depois em velocidade cruzeiro para “Reputation” (2017), um álbum de emancipação que surgiu como resposta ao escrutínio da imprensa. Ouviu-se “Ready for It?”, “Delicate”, “Don’t Blame Me” e “Look What You Made Me Do”. Ao saltarmos para a era de “Folklore” (2020) e “Evermore” (2020), o palco transformou-se numa floresta com Taylor a surgir numa cabana. Para ilustrar a fase indie folk que Taylor experienciou durante as gravações dos dois álbuns, fomos presenteados primeiro com “cardigan” e “betty”.

Depois, “champagne problems”, tocada ao piano, que acabou por dar origem ao momento mais impactante da noite. Durante vários minutos Taylor Swift recebeu uma ovação extremamente efusiva e ensurdecedora com as luzes do estádio acesas. Aliás, a cantora chegou mesmo a tirar os in-ears para ter a certeza de que estava ouvir bem todo aquele amor ruidoso. “Eu amo-vos. Adoro-vos tanto, tanto. Nunca na vida vou querer esquecer este momento aqui em Lisboa, Portugal“, disse a cantora boquiaberta após aquela explosão sonora.  Ainda na passagem por “Folklore” e “Evermore” ouviu-se “august”, com um pedido de ajuda no meio, em português, para um fã, “illicit affairs”, “my tears ricochet”, “marjorie” e “willow”.

Se a passagem pela era de “Folklore” e “Evermore” foi mais intimista e contida, o que dizer do furacão avassalador que foi a transição para a era de “1989” (2014)? “Style”, “Blank Space”, “Shake It Off”, “Wildest Dreams” e “Bad Blood” trouxeram o synth-pop dançável e alguns dos refrães mais orelhudos do seu repertório.

Depois de vários avanços e recuos no tempo, eis que chegámos ao presente e à era de “The Tortured Poets Department”, um dos álbuns mais representados na setlist e que naturalmente merece um destaque diferente por ser o mais recente. “But Daddy I Love Him” arrancou este acto, com So High School”, “Who’s Afraid of Little Old Me?”,  “Down Bad”, “Fortnight”, tema que gravou com Post Malone, “The Smallest Man Who Ever Lived” e “I Can Do It With a Broken Heart”.

Além das diferentes eras que remetem para cada álbum, existe ainda um momento do concerto que os fãs aguardam ansiosamente. Falamos do set onde são apresentadas as canções surpresa que Taylor escolhe cuidadosamente para cada noite. Sozinha em palco, lançou-se ao mashup à guitarra de “Come back… Be here”, “The Way I Loved You” e “The Other Side of The Door” e depois saltou para o piano para interpretar, pela primeira vez ao vivo “Fresh out The Slammer”, e “High Infidelity”.

A era escolhida para encerrar as 3h e 15m de concerto foi a de “Midnights” (2022). Desfilaram “Lavender Haze”, “Anti‐Hero”, “Midnight Rain”, “Vigilante Shit”, “Bejeweled”, “Mastermind” e “Karma”, esta última com direito a fogo de artíficio.

Para muitos o concerto passou a correr. Do nada, aquele momento pelo qual os swifties portugueses (e não só, grande era a quantidade de fãs de outra nacionalidade) tinham esperado uma vida inteira desvaneceu. As memórias, essas vão perdurar para sempre e o dia 24 de Maio de 2024 ficará marcado nas suas como o dia em que testemunharam o reinado daquela que já poderemos considerar ser a “Rainha da Pop” do século XXI.

Uma nota para os “The Agency”, a banda que acompanha Taylor. É habitual que estas grandes estrelas da pop contratem bons músicos para as acompanhar ao vivo, basta pensar no “nosso” Nuno Bettencourt, guitarrista ao vivo de Rihanna, e Swift não é excepção. Boa secção rítmica que permite engrandecer as canções ao vivo, grandes vozes nos coros que espalharam simpátia antes e durante todo o concerto, para além de não faltarem os solos de guitarra de Paul Sidoti, foi bonito vê-lo a usar uma EVH Striped 5150, Eddie Van Halen vive até num concerto de Taylor Swift.

A 25 de Maio, Taylor Swift e a sua equipa voltou a subir ao palco do Estádio da Luz.

SETLIST

  • Miss Americana & the Heartbreak Prince
    Cruel Summer
    The Man
    You Need to Calm Down
    Lover
    Fearless
    You Belong With Me
    Love Story
    22
    We Are Never Ever Getting Back Together
    I Knew You Were Trouble
    All To Well
    Enchanted
    Ready for It?
    Delicate
    Don’t Blame Me
    Look What You Made Me Do
    cardigan
    betty
    champagne problems
    august
    illicit affairs
    my tears ricochet
    marjorie
    willow
    Style
    Blank Space
    Shake It Off
    Wildest Dreams
    Bad Blood
    But Daddy I Love Him
    So High School
    Who’s Afraid of Little Old Me?
    Down Bad
    Fortnight
    The Smallest Man Who Ever Lived
    I Can Do It With a Broken Heart
    Come Back…Be Here / The Way I Loved You / The Other Side of the Door
    Fresh Out The Slammer / High Infidelity
    Lavender Haze
    Anti‐Hero
    Midnight Rain
    Vigilante Shit
    Bejeweled
    Mastermind
    Karma