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The Cult: «Quando Foi A Última Vez Que Viram Uma Banda de Rock A Sério?»

The Cult: «Quando Foi A Última Vez Que Viram Uma Banda de Rock A Sério?»

2024-07-17, Coliseu dos Recreios, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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Quinze anos depois de terem pisado o palco do Coliseu dos Recreios pela primeira vez, os The Cult regressaram à mítica sala lisboeta para um concerto revivalista, há muito esgotado. Ian Astbury e Billy Duffy, os líderes do grupo, já entraram na terceira idade, mas isso não os impediu de mostrarem toda a sua boa forma física e performativa.

Em 1984, os The Cult editavam o seu álbum de estreia “Dreamtime”, um marco no cânone discográfico do rock gótico e do post-punk. O álbum gerou sucessos como “Spiritwalker” e “Ressurection Joe”, ambas tocadas no concerto, mas o mais importante foi mesmo o nascimento de uma nova parceria criativa entre o vocalista Ian Astbury e o guitarrista Billy Duffy. Todos sabemos que grande parte dos êxitos das grandes bandas de rock partem da mente de uma parelha de músicos carismáticos e profundamente criativos, Jagger e Richards, Plant e Page, Tyler e Perry ou Axl e Slash. Astbury e Duffy são muitas vezes esquecidos nesta conversa, mas o repertório cunhado por ambos não pode ser ignorado. Afinal de contas está lá tudo, riffs emblemáticos, refrães escritos para serem entoados por milhares e o carisma e postura de um verdadeiro frontman e guitar hero, tudo isto sem recurso a backing tracks e projeções visuais que se podem revelar uma distração. «Quando foi a última vez que viram uma banda de rock a sério?», perguntou Astbury antes do encore como que a corroborar a checklist que acabámos de apresentar.

Foi com um Coliseu a rebentar pelas costuras e com uma temperatura digna de um sauna finlandesa, que os The Cult subiram ao palco para celebrar os seus 40 anos de carreira. “In The Clouds ” deu o pontapé de saída com o som ainda a ser calibrado. A guitarra de Billy pouco se percebia, ao contrário do baixo de Charlie Jones que penetrava em demasia nos nossos tímpanos. Demorou algum tempo até os ajustes se notarem, mas isso não impediu o público de vibrar efusivamente com “Rise” e “Wild Flower”, este último o primeiro hino da noite. Astbury, agora com 62 anos, mostra-se sempre seguro nas suas prestações, mas desta vez superou as últimas duas passagens por Portugal, no NOS Alive 2017 e no Vilar de Mouros 2019. É certo que não interpreta os temas de forma rigorosa, que é como quem diz, como os gravou nos álbuns. Ainda assim, a projeção vocal, assim como a afinação e a genica para puxar pelo público e acompanhar a banda com as suas pandeiretas continua lá.

Sempre espontâneos nas intervenções com o público, a banda deixou passar mais uns temas, antes de fazer as suas primeiras declarações. “Star”,”Mirror” e “The Witch”, temas de trabalhos menos populares entre os fãs da banda mantiveram os fãs à espera de mais umas preciosidades da trilogia “Love” (1985), “Electric” (1987) e “Sonic Temple” (1989). Assim foi até chegar “Edie (Ciao Baby)”, apresentada num formato acústico e mais intimista. Bem disposto, Ian antecipou o tema com uma imitação da famosa celebração de Cristiano Ronaldo. O público, apanhado de surpresa, não acompanhou Astbury no famoso “sim”, algo que levou o vocalista a perguntar se não gostávamos do jogador. «Ele leva a cultura de Portugal a todo o mundo, por isso mostrem algum respeito», rematou Ian sem quaisquer papas na língua.

Billy nunca largou a sua postura de guitar hero. Com a guitarra a tira colo praticamente a nível dos joelhos, Duffy não abdica do factor cool e alterna entre as suas funções de guitarrista ritmo e solo sem qualquer tipo de percalços. Em tempos, os The Cult tiveram um segundo guitarrista, mas Billy demonstra que toma bem conta do recado sozinho. No seu arsenal de guitarras, Duffy trouxe a sua fiel Gretsch White Falcon, a sua assinatura Gretsch G7593t Billy Duffy Signature Black Falcon, as suas Gibson Les Paul Custom e uma Gibson J-45 para o momento acústico já mencionado em cima. No que diz respeito à amplificação, Duffy apresentou um muro composto por vários modelos diferentes: duas cabeças Friedman Small Box, dois combos, um VOX AC30 e um Roland JC-120 e duas colunas Marshall. Já o baixista Charlie Jones recorreu a um Fender Precision conectado a duas cabeças Aguilar DB-751 Hybrid e a duas colunas Aguilar DB 810 1400-watt 8×10.

“Sweet Soul Sister”, com Billy a trocar de guitarra a meio da música devido a um problema técnico, “Fire Woman” e “Rain” mantiveram o público numa euforia imensa, afinal de contas foi a nostalgia dos clássicos que levou os fãs a esgotarem o Coliseu.

Seguiram-se “Spiritwalker” e “Love Removal Machine” com Ian ligado à corrente e a incentivar o público a mexer-se desenfreadamente. Após uma breve pausa, a banda regressou a palco para uma última viagem por “Love” o LP que catapultou os The Cult para o estrelato. Primeiro ouviu-se a calminha “Brother Wolf, Sister Moon”, para depois “She Sells Sanctuary” encerrar a festa em apoteose.

«Obrigado por virem! Obrigado por apoiarem esta banda. Por favor, recebam-nos de volta no próximo ano», disse Ian nas despidas finais já com a bandeira de Portugal em cima do palco.

Billy rematou com um «obrigado pelo Bernardo Silva», mais uma referência futebolística, desta vez ao jogador português do Manchester City, clube do coração de Duffy.

SETLIST

  • In the Clouds
  • Rise
  • Wild Flower
  • Star
  • Mirror
  • The Witch
  • Edie (Ciao Baby)
  • Resurrection Joe
    Sweet Soul Sister
    Lucifer
    Fire Woman
    Rain
    Spiritwalker
    Love Removal Machine
    Brother Wolf, Sister Moon
    She Sells Sanctuary