Touché Amoré, A Efervescência do Hardcore Emocional
2025-01-21, Lisboa Ao VivoPassados oito anos desde a sua última visita a Lisboa, os Touché Amoré regressaram à capital portuguesa para um concerto fugaz, mas extremamente sentido por todos os elder emos que deslocaram-se até ao LAV.
Porta-estandarte da “The Wave” do post-hardcore, juntamente com nomes como La Dispute, Pianos Become the Teeth, Defeater e Make Do and Mend, os Touché Amoré têm vingado, desde 2007, no espectro da música alternativa com uma sonoridade marcada por uma crueza repleta de honestidade e letras que falam diretamente ao coração de muitos incompreendidos. Num mundo cada vez mais em alta rotação, polarizado e sem muito espaço para aceitar a vulnerabilidade emocional, os Touché Amoré fazem dos seus concertos um espaço seguro e de comunhão, onde a catarse se apresenta como o culminar de uma viagem por malhas que marcaram a adolescência de uma geração.
A banda de Los Angeles trouxe ao LAV “Spiral in a Straight Line”, editado em 2024, e fez-se acompanhar por duas propostas com raízes no shoegaze, os espanhóis Boneflower e os texanos Trauma Ray.
Boneflower
Diretamente de Santander, na Cantábria, os Boneflower apresentaram-se no LAV com uma sonoridade híbrida entre o blackgaze e o post-hardcore. Durante 30 minutos, o trio expressou-se em palco através de guitarras atmosféricas, blast beats e berros cativantes e ainda recordou a sua passagem pelo Disgraça há cerca de seis/sete anos. Com a intenção de saírem da sala lisboeta com alguns novos fãs, a banda acabou por partilhar uma informação que certamente tocou todos aqueles que já se encontravam no interior do LAV. Cientes das dificuldades da vida de músico profissional, a banda informou o público que não poderiam ficar a conviver depois do espetáculo, pois tinham que seguir imediatamente para Madrid para, no dia seguinte, entrarem ao serviço no seu local de trabalho. Sabemos que a vida de músico não é fácil e quando muitas vezes se usa a expressão amor à camisola, os Boneflower parecem agora surgir como a sua personificação ao demonstrarem uma tenacidade ímpar para continuarem a banda como um projeto paralelo.
Trauma Ray
A estreia dos Trauma Ray em Portugal dificilmente poderia ter sido pior. Os vários problemas técnicos mancharam por completo a atuação da banda de shoegaze do Texas. Desde um cabo XLR de microfone por ligar no início do concerto aos sucessivos cortes nos microfones da bateria e do guitarrista/vocalista Uriel Avila… nada parecia estar a favor do grupo. Com o álbum de estreia “Chameleon” (2024) para apresentar, os Trauma Ray percorreram malhas como “Bardo”, “Bishop”, “Breath”, “Ember”, “Spectre” e “Torn”, mas só alguns fãs devotos é que ficaram satisfeitos com a prestação da banda.
Touché Amoré
Sem grandes artifícios cénicos além do tradicional pano com o nome da banda, os Touché Amoré entraram em palco à hora marcada para dar início a uma descarga de energia visceral e de emoções que transformou o LAV numa sauna. A sala não esgotou, mas esteve muito bem composta, com o público a distribuir-se entre a plateia e o balcão numa autêntica reunião de elder emos – expressão utilizada para denominar os membros da subcultura emo que estão neste momento na casa dos 30 e 40 anos.
Mal soaram os primeiros acordes de “Nobody’s” rapidamente se gerou um alvoroço amigável entre o público com muito mosh e crowd surf à mistura, algo expectável, mas para o qual o LAV não estava preparado, pois apenas se encontrava um segurança no pit para apanhar esses destemidos que foram surfando nos braços do público.
A noite era de apresentação de “Spiral in a Straight Line”, mas foi “Parting the Sea Between Brightness and Me” (2011), o segundo álbum da banda, que recebeu o maior destaque na setlist com os temas “Art Official”, “Uppers/Downers”, “Face Ghost”, “Tilde” e “Pathfinder”. Com o público a entoar todas as palavras, o vocalista Jeremy Bolm pouco teve que se expressar verbalmente para incentivar a agitação, resultando assim num sorriso de orelha a orelha constante.
Com uma formação estabilizada desde 2010, Bolm apresentou-se em palco acompanhado pelos seus fieis colegas de banda Clayton Stevens e Nick Steinhardt nas guitarras e Tyler Kirby no baixo e pelo baterista Sam Bosson, a substituir Elliot Babin que se encontra neste momento a gozar a sua licença de paternidade. No que diz respeito ao gear a noite fez-se ao som das Fender, Stratocaster e Jaguar nas seis cordas, e Precision nas quatro cordas. Já na amplificação as escolhas recaíram em três Hiwatt, um Hi-Gain 50 e um 200, um Fender Twin Reverb e dois Mesa Boogie Lone Star.
Sem tempo a perder, foram chovendo temas como “Reminders”, “Honest Sleep”, “Hal Ashby”, “Palm Dreams”, “Force of Habit” e “Limelight”, que preencheram uma setlist que durou sensivelmente uma hora e que encheu as medidas da maioria dos fãs. À saída do LAV, poucas caras tristes, algo que não deixa de ser um paradoxo quando falamos de um género musical onde predominam as temáticas melancólicas e depressivas.
SETLIST
- Nobody’s
Art Official
Nine
Praise
Reminders
Spacejam
Uppers/Downers
Come Heroine
Honest Sleep
Hal Ashby
Face Ghost
New Halloween
Disasters
Harbor
Palm Dreams
Savoring
Tilde
Pathfinder
Rapture
Force of Habit
Flowers and You
Limelight