X Anos Musicbox: Uma Cachupa bem Psicadélica e a Letargia de Dillon
2016-09-16, Musicbox, LisboaA mais recente data de comemoração do aniversário do Musicbox trouxe um misto de emoções ao público lisboeta.
2016 marca o décimo ano de existência do Musicbox, a já emblemática sala de concertos da noite de Lisboa responsável por grande parte da oferta de pequenos e médios artistas nacionais e internacionais na cidade. E na última das suas datas de comemoração, numa série que trouxe ao Cais do Sodré desde o inconspícuo Hijo de la Cumbia ao extensamente admirado Mark Kozelek, o Musicbox trouxe uma programação que, de certa forma, encapsula a experiência das idas cegas a concertos na capital: às vezes ganha-se, às vezes perde-se, e os dois actos a apresentar-se na noite de sexta-feira não resistiram a representar os pólos opostos dessa aposta.
Um nome a decorar nestas incursões pelos prazeres da boémia lisboeta é o de Cachupa Psicadélica, acto que tem estado ocasionalmente presente nestes devaneios (abriu para os PAUS na apresentação do mais recente “Mitra”, fez parte, no ano passado, do Boiler Room Lisboa), mas cujas influências refrescantes são mais que bem-vindas numa base mais frequente. Caboverdiano de origem, homenageia a sua tradição nas composições que escreve, mas transmite-as por meio de uma guitarra embebida em delay e reverb, à boa moda do neo-psicadelismo, numa mescla criativa ímpar na cena musical contemporânea. Em palco, sozinho e com a mesma guitarra que descrevíamos, Cachupa mostrou toda a boa disposição que se pode esperar de um músico ao vivo, aliada a uma voz possante e dinâmica, destreza técnica virtuosa e algumas boas histórias da sua terra para contar – “Vivência Rapsódia”, “3/4 de Bô” ou “Amor d’1 Laranjeira”. Uma presença de palco admirável e um pedaço da cultura africana a estimar vindos de um músico que, com apenas um disco no repertório, acaba de começar.
É pena que o mesmo não se possa dizer da electrónica inconsequente de Dillon. Nascida no Brasil e entretanto sediada na Alemanha, reteve nenhuma das características do primeiro e apenas as piores do segundo. Com uma sonoridade abrasiva, instigante, e que procurava unir algum do apelo da pop as sonoridades mais negras da electrónica, a cantora revesava-se entre o microfone e o sintetizador, enquanto um músico de apoio imiscuia-se num terreno de efeitos e batidas experimentais algures entre a audácia de James Blake e a inventividade de Holly Herndon. Uma fórmula respeitável, mas que apesar de toda a sua ambição produziu resultados invariavelmente negativos: a até bastante agradável voz de Dillon unia-se aos seus esforços electrónicos para a interpretação de temas unidimensionais, subdesenvolvidos e, na sua maioria, monótonos. E por todo o valor de choque que procurava obter da sua música, a cantora acabou por dar uma performance insuficiente, frustrada nos seus propósitos e até algo letárgica na energia vazia que transparecia de toda a sua dissonância. Um infeliz fim para uma noite que, por melhor intencionada que tenha sido, não escapou à infalível lógica das apostas: às vezes ganha-se, às vezes perde-se.