Quantcast
YES no Campo Pequeno: Dias de um Futuro Passado

YES no Campo Pequeno: Dias de um Futuro Passado

2024-04-30, Campo Pequeno, Lisboa
André Sousa
Inês Barrau
7
  • 8
  • 7
  • 6
  • 6

Após a sua recente aclamada digressão pelos Estados Unidos, os YES voltaram, finalmente, a Portugal com a tour “The Classic Tales of Yes”, no dia 30 de abril no Sagres Campo Pequeno, em Lisboa.

Em 1969, ano em que apareceram nas lides discográficas, os Yes representavam a par dos Pink Floyd ou King Crimson, o futuro da música rock. Cinco décadas e meia depois, a sua música vive essencialmente das glórias do passado, sobretudo do cânone “Progressivo”, em que assinaram obras-primas do género como: “The Yes Album” e “Fragile“ (ambos de 1971) ou “Close to the Edge” (1972).

Ontem à noite em Lisboa e à quarta tentativa (depois de três adiamentos desde 2020), a banda liderada pelo guitarrista Steve Howe apresentou-se no Campo Pequeno (desfalcado na plateia, mas bem composto nas bancadas) com uma formação renovada. No lugar do baterista Alan White (falecido em 2022), o competente Jay Schellen. Em vez de Chris Squire tivemos á nossa frente o discípulo dele e habitual colaborador da banda desde os anos 90, Billy Sherwood. Na voz, outro Jon, mas não o Anderson. Jon Davidson, ex-Glass Hammer e amigo de infância de Taylor Hawkins dos Foo Fighters que encheu a sala com a sua voz alto-tenor. A juntar a este trio de norte-americanos, falta apenas mencionar o discreto veterano Geoff Downes, ex-teclista dos Asia e Buggles e que participou num dos discos mais interessantes do catalogo – “Drama” – juntamente com o produtor Trevor Horn em 1980.

E foi precisamente por esse disco que abriram as hostilidades. A sinfonia prog-metal “Machine Messiah” foi um ótimo ponto de entrada num concerto de 2 horas de duração, dividido em 2 sets e com 20 minutos de intervalo. À exceção deste tema, mais longo, a primeira hora teve mais ênfase em canções mais curtas oscilando entre os momentos mais rock como “Going for the One” ou “I’ve Seen All Good People” e outros mais calmos como a acústica “Turn of the Century” e a quasi-pop “Time and A Word”. Esta última, uma das poucas canções do catálogo de estúdio que não contou com a participação de Howe, sendo esse posto ocupado pelo guitarrista original: Peter Banks

Pelo meio, ainda houve direito a canções que não assentaram tão bem no ambiente ao vivo como “It Will Be a Good Day” (do obscuro “The Ladder” de 1999) ou “Don´t Kill the Whale” do disco “Tormato” e que Howe fez questão de referir aos presentes como sendo uma peça que em 1978 já refletia a consciência da banda sobre: “questões ambientais”. 

De seguida, o quinteto abandonou o palco sem qualquer palavra, causando alguma surpresa entre os presentes e que obrigou a organização a explicar que a banda voltaria após um curto intervalo. 

Equívocos à parte, a segunda etapa do concerto foi muito mais consistente. A começar pelo deslumbrante “South Side of the Sky”, mais fiel à versão do clássico estúdio: “Fragile”

Equívocos à parte, a segunda etapa do concerto foi muito mais consistente. A começar pelo deslumbrante “South Side of the Sky”, mais fiel à versão do clássico estúdio: “Fragile”. Seguiu-se “Cut from the Stars”, a única música do mais recente disco – “Mirror to the Sky” (2023) –  e que pela energia e entrega dos músicos em palco, podemos concluir que há mais vida nos Yes que simplesmente o sentimento de pura nostalgia.

Depois veio o momento mais alto e sublime do concerto, um medley do monumental: “Tales from Topograpic Oceans”. Deste disco duplo, de apenas quatro temas e que ainda hoje em dia desperta conversas entre melómanos (sobre quem o ama ou odeia), a banda escolheu as melhores partes e encantou os presentes com mais de 15 minutos de puro delírio progressivo. 

Se o concerto tivesse acabado aqui, já teria sido mais do que suficiente para convencer, até os menos crentes. No entanto, ainda vieram os encores com mais dois clássicos.  Primeiro com “Roundabout”, um dos raros hit-singles da banda nos idos de 70 e que resgatou as primeiras palmas de acompanhamento do público. Por último, o gigante “Starship Trooper”, tocado na integra nos seus quase 10 minutos de duração e com direito a um apoteótico solo elétrico de Howe.

No já longínquo ano de 1991, num documentário sobre a carreira da banda (“YesYears”), o ex-teclista Rick Wakeman afirmou algo como: “para mim, é perfeitamente possível haver uns Yes muito depois de eu morrer, tal como existe uma Orquestra Sinfónica de Londres ou de Nova Iorque”. Seguindo esta linha, os músicos vão e a música continue. Talvez em 2074 ainda haja por aí uns Yes a comemorar o centésimo aniversário de “Tales Form Topograpic Oceans”.