O segundo dia de concertos do MIL aumentou a escala energética com o duo dos Galos, o trio dos Wahles e a orquestra de Bruno Pernadas.
O rock progressivo dos Galo Cant’às Duas entrega o barulho e a intensidade de uma banda “completa” mas com uma execução realizada por apenas duas pessoas. Hugo Cardoso e Gonçalo Alegre caminham entre faixas progressivas que ampliam, reduzem e quebram intensidades com passos largos. Um exercício musical que apresentado ao vivo torna-se mais volumoso e bem mais pujante do que é ouvido nas versões de estúdio. O trabalho de bateria é magnificamente forte, marcado com destreza rápida e pancadas certeiras que fizeram tremer o espaço apertado do Tokyo. Já a guitarra complementa o ataque feroz da bateria com um sintonia simples mas sonante, que magnetiza a nossa concentração durante a evolução instrumental que (por norma) passam os cinco minutos. O trabalho vocal é mínimo, manifestando-se em doses mesmo muito pequenas. O que faz sentido, porque a atração principal é a inquietante destreza instrumental em peças progressivas.
Este é um daqueles concertos que transmitem energia só pela atitude dos artistas. «Vamos partir esta merda toda?!», pergunta o baterista pela segunda vez durante o espectáculo, com uma resposta barulhenta do público e uma voz que diz: «calma que vêm aí mais bandas!». A verdade é que os Whales vieram até ao Tokyo para partir. O seu rock vestido por roupas eletrónicas começou calmo e aveludado por guitarras, mas rapidamente entraram em cena os sintetizadores para causar a confusão e o caos (no melhor sentido possível). Nas alturas de maior potência, os dedos saltavam rapidamente entre os botões dos pads para melodias que faziam o público mexer involuntariamente e o equilíbrio entre a calma e o frenesim foi sempre muito bem conduzido. As passagens foram efectuadas com perspicácia, de modo a atingir um poder que embora evidente, não deixava de ser memorável, e as músicas mais tranquilas como “Ghost” eram o momento de bonança depois de sermos atingidos por tempestades como “Big Pulse Waves”.
O nome Bruno Pernadas é singular, mas o concerto é no plural. Isto é, apesar do trabalho estar assinado pelo compositor, em cima dos palcos apresentam-se no total nove elementos imprescindíveis. O concerto começou mais de 10 minutos depois do combinado e a sala estava cheia e ansiosa pelos arranjos serenos de Bruno e a sua enorme banda. Muitos comentários e agitação que se tornaram em absorção musical após a primeira nota ser disparada. Cada elemento utilizado revelou-se essencial, não caindo no vulgar ou no complemento básico, enquanto que as três vozes principais deliciam os ouvidos com entradas sublimes e extremamente encantadoras. É a banda sonora perfeita para uma tarde de verão no jardim, um jazz experimental que vai buscar as melhores particularidades de outros géneros como o pop, o rock psicadélico ou até o R&B. Uma receita apurada de géneros concentrada verdadeiramente no Jazz que se mantém fresca durante todo o concerto devido à ampla quantidade de variações utilizadas. O som do B.LEZA também contribuiu para que este concerto se destacasse como um dos melhores do MIL, com uma claridade efectivamente boa na reprodução de baixos e agudos e uma mistura de volume adequada à “orquestra”. A desinibição em palco e a felicidade transmitida foi contagiante e sem dúvida a cereja no topo do bolo nesta vistosa performance que apresentou maioritariamente temas do mais recente álbum “Those Who Throw Objects At The Crocodiles Will Be Asked To Retrieve Them”.