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Fotoreportagem North Festival I: Um Festival de Primavera com tempo de Outono

Fotoreportagem North Festival I: Um Festival de Primavera com tempo de Outono

Cristina Guerreiro
Teresa Mesquita

Dias 26, 27 e 28 de Maio, a Alfândega do Porto foi palco da edição de 2023 do North Music Festival, evento que apresentou um cartaz bastante eclético com programação para todos os gostos.

Mergulhámos no primeiro dia do North Music na esperança da previsão de chuva e trovoada não se concretizar. A primeira actuação da tarde ficou a cargo da conhecida banda do Porto, Jafumega, que comemora o seu 45º aniversário. Da sua formação inicial mantêm-se Luís Portugal (voz), José Nogueira (saxofones e teclado) e Mário Barreiros (guitarras), depois da saída, por razões pessoais, de Álvaro Marques e Pedro Barreiros e do falecimento de Eugénio Barreiros, teclista e o compositor dos temas mais emblemáticos do grupo. Juntaram-se a este trio Miguel Ferreira conhecido teclista dos Clã, aclamada banda também tripeira), Nuno Coelho (baixo) e Ricardo Coelho (bateria).

Os Jafumega não falharam naquilo que já se esperava desta enérgica banda da cidade invicta e conseguiram animar o, ainda pequeno, grupo de festivaleiros que foi engrossando, tal como as gotas de chuva, em alguns momentos. Dedicaram a música “Ribeira” ao local onde actuavam e “Rústica” foi emotivamente interpretada em homenagem a Eugénio Barreiros.

 

Mantendo a chama tripeira acesa seguiu-se a actuação de Trabalhadores do Comércio que passaram em revista alguns dos seus grandes êxitos, como a electrizante “Chamem a Polícia”. Aproveitaram para apresentar o seu álbum “Objecto”, salientando a importância o ‘c’ em ‘objecto’, álbum de originais após 11 anos de interregno. Um tributo a Zeca Afonso, com a interpretação de “Vampiros”, elevou o espírito do público que se tornava gradualmente mais numeroso e reagiu calorosamente não os deixando sair sem que encerrassem com chave de ouro tocando a castiça “De Manhã Eu Bou Ó Pom” deixando todos bem animados para o que a noite ainda iria entregar.

 

The Legendary Tigerman encontrou a casa já composta e foi o ribombante trovão que se esperava para meter a mexer os ainda reticentes. Com a baterista ausente por motivos de saúde, tomou o seu lugar, o baixista que, por sua vez, foi substituído por Ed Gonçalves dos Best Youth. Acompanhado de vídeos que nos remetiam para determinados ambientes, Paulo Furtado liderou com a sua energia contagiante e durante uma hora encheu-nos de sons intensos e composições inusitadas. Os fãs foram ainda presenteados por uma versão de “This Boots Are Made For Walking” com Catarina Salinas, também dos Best Youth, na voz. Por fim, apresentaram, a um público completamente rendido, o novo single, “Good Girl”.

 

Pelas 22h, Bomba Estéreo, banda colombiana conhecida pela sua fusão única de ritmos tropicais, música eletrónica e rock, juntou-se a uma multidão já bem animada, mas que ainda não sabia a tempestade eléctrica que a esperava.

Com um palco decorado com ramos e folhas, a carismática Li Saumet, vocalista, apresentou-se como que num ritual, abrindo a porta à contagiante torrente de ritmos pulsantes e melodias cativantes combinando elementos de cumbia, champeta, reggae, música eletrónica e rock. Acompanhados de um espectáculo de vídeo e luz, com montagens de imagens captadas em directo do palco e do público, elogiaram largamente a “bonita energia” do Porto chamando um grupo de voluntários do público para bailarem a champeta, ritmo afro-colombiano. Seguiu-se uma cumbia interpretada por um dos elementos da percussão, Pacho Carnaval. Enquanto isso, a vocalista trocou de roupa para uma hipnotizante e enorme saia arco-íris luminescente o que alterou toda a aura do palco. O espectáculo ganhou uma energia mais pesada e psicadélica, até emotiva, quando Li Saumet apresentou uma canção autobiográfica, Soy Yo – quando era criança todos lhe diziam que era ‘rara’, estranha – dedicada a todas as meninas que passaram ou passam pelo mesmo, que ninguém tem de lhes apontar o dedo, “el mundo pertenece a los raros”. Com a maior enchente da noite, encenou ainda, uma performance conjunta com o público, uma troca de energia positiva, com todos a mexer aos seus comandos musicais, porque “o antídoto para tudo é o amor”, num fundo fogo, vermelho, intenso. Encerrou o ritual, levando-nos a todos para um lugar de calma, com a música Ojitos Lindos, uma colaboração com Bad Bunny.

 

Com plateia cheia e electrizada, na torrente, os cabeça de cartaz, The Chemical Brothers, encontraram o ambiente perfeito para brilhar. Com um apoio visual perfeitamente sincronizado, os “irmãos químicos”, Tom Rowlands e Ed Simons, actuaram de forma irrepreensível tornando o ambiente imerso numa onda de luzes, efeitos visuais e energia contagiante numa jornada pela sua sonoridade electrónica. Um dos momentos altos, logo no arranque, foi o seu clássico “Hey Boy Hey Girl”. No entanto, após um dia tão intenso, não conseguiram prender todo o público que teve uma debandada acentuado cerca de meia hora após o início do concerto. Lá fora, na Rua Nova da Alfândega, encostados a Miragaia, dançavam com fervor alguns dos seus fãs que aproveitaram o concerto gratuitamente.