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North Festival III: A encerrar o Festival, as regras de Robbie Williams

North Festival III: A encerrar o Festival, as regras de Robbie Williams

Cristina Guerreiro
Teresa Mesquita

Pela segunda vez, este ano, Robbie Williams actou em Portugal, depois de um concerto esgotado na Altice Arena em Lisboa, o músico apresentou-se no Porto.

O último dia do North Festival acordou morninho com a voz e guitarra de Tiago Nacarato e a sua Bossa nova. Cada vez mais à vontade em palco, puxou pelo público com intervenções cómicas e a sua música cativante. Conquistou o público que aumentava e deu mote ao mood que ganhou corpo com a actuação seguinte, The Black Mamba. Electrizantes, como já nos habituaram, encheram o recinto de ‘alma’. Tatanka, o front man, voltou a não deixar os seus créditos em mãos alheias e apresentou-se em grande estilo festivaleiro. Com uma setlist que percorreu os melhores momentos dos seus últimos três álbuns, os membros da banda ocuparam o palco com uma energia avassaladora animando a multidão presente.

Mas um dos grandes momentos da noite ainda estava para vir com Pedro Abrunhosa e a sua banda abrindo as hostilidades com a empolgante música Fazer O Que Ainda Não Foi Feito, cativando imediatamente a atenção do público. Durante a sua performance, Abrunhosa fez questão de expressar as suas opiniões sobre temas importantes e questões fracturantes. Com um entusiasmo contagiante, Pedro Abrunhosa manifestou-se alto e a bom som acerca das realidades do mundo actual levantando questões políticas e sociais. O seu tema choque, “Talvez Foder”, serviu de base para, na liberdade criativa, introduzir palavras de ordem sobre o momento trágico que vivemos «Porque um povo em silêncio é um povo a beira do caos.»

Apesar da chuva que ficava cada vez mais intensa o público estava de pedra e cal entregue a uma das melhores performances do festival. Durante o clássico e nostálgico “Se Eu Fosse Um Dia O Teu Olhar” foi o público que tomou a dianteira e cantou em coro mostrando o quanto esta música é já um momento da história da música portuguesa. Ao piano, Abrunhosa tocou a significativa real e figurada “Que Nunca Caiam As Pontes Entre Nós”, emocionando a plateia.

Reforçando a sua mensagem de paz e amor, expressando a esperança de que o amor pudesse salvar a noite e que ainda houvesse fogo dentro de cada um, o talentoso artista levou o público ao êxtase com a interpretação de “Hallelujah” de Leonard Cohen. A energia da apresentação subiu quando a plateia foi incentivada a acompanhar o som ambiente festivo que se seguiu, enquanto Pedro Abrunhosa exclamava: «O Porto está a dançar!». A noite seguiu com a performance de várias músicas, incluindo várias do álbum de estreia “Viagens”, lançado em 1994, tais como É Preciso Ter Calma e Socorro (estou a apaixonar-me). O colectivo despediu-se com Ilumina-me entoada em uníssono num ambiente de aceitação e empatia que fez esquecer que todos estavam encharcados.

Com a plateia ao rubro no meio da humidade, qual país tropical, Robbie Williams, com o seu grande coração e uma energia ilimitada, apresentou-se com a característica pontualidade britânica. Ao abrir caminhos de felicidade pontuados de ironia, sátira mordaz e humor acutilante, o cantor britânico, conhecido pela sua personalidade extravagante e escândalos mediáticos, chegou para provar porque é o verdadeiro Showman e Entertainer.

Parecendo sempre estar na sala com amigos, partilhou a sua intimidade e angústias: o que para o público é entretenimento, para Robbie é terapia. Strong, de 1999, ligou todos a uma circular de entusiasmo com uma multidão em êxtase. «I’m fucking famous!!!», exclamou recebendo uma ovação do público.

Robbie confessa: «Tenho dois tipos de músicas, a primeira – Sou espectacular!; a segunda – Estou deprimido, salvem-me! – Esta faz parte do segundo grupo», apresentando, desta forma, “Come Undone”.

O contador de histórias por excelência, numa viagem nostálgica ao passado, relembra que, enquanto membro da boys band Take That, não tinha protagonismo, era Gary Barlow o principal vocalista em todas as músicas. Quando teve a sua oportunidade, com “Everything Changes”, que dava nome ao álbum de 1993, percebeu que a mesma não ficou na memória colectiva. Nos Take That havia muitas regras. Robbie era um rebelde. Expulsaram-no. Percebeu que era demasiado bom para aquilo. Meteu-se no carro com champanhe na mão e coca no bolso e guiou até ao maior festival de música do Reino Unido, Glastonbury. O resto é história. Conheceu os Oasis e percebeu que era ali que encontraria a sua inspiração. Marcou esse momento de viragem na sua carreira com a interpretação de “Don’t Look Back In Anger”.

Doze anos depois do seu fim, os Take That reuniram-se e foram um estrondoso sucesso de bilheteira – «Se não os podes vencer junta-te a eles!» e, num momento com forte carga emocional, interpretou “The Flood”. O jovem e rebelde Robbie tinha duas regras na vida: Regra nº 1 – nunca casar. Regra nº 2 – nunca ter filhos. Ups… está casado há mais de 10 anos e tem 4 filhos!

Usando um elemento do público, o Filipe, para mais um momento de puro entretenimento, fez a ponte entre a história desde e um dos momentos mais divertidos e caricatos da noite ao revelar imagens de um videoclip que deveria permanecer para sempre esquecido. «És bonito, és parecido comigo!», atirou, arrancando mais uma gargalhada geral de um público rendido há muito e dedicou a música “I Love My Life” aos filhos do emocionado fã. Voltou a acordar os sentimentais com “Feel” e, com “Rock DJ”, encaminhou-se para a apoteótica rampa de despedida. Apresentando-se com um roupão aberto à frente, interpretou “No Regrets” com acompanhamento orquestral voltando a comunicar “one to one” com duas gémeas a quem dedicou, com as devidas alterações, “She´s The One” interpretado à capela.

Como todos os presentes já tinham entendido, confirmou e agradeceu a energia do público que o alimenta. Como alguém que sempre teve problemas como depressão e ansiedade, que marcaram bastante o início da sua carreira, este retorno do público é muito importante: sentiu-se abraçado. Com a sua abordagem descontraída conseguiu chamar a atenção para um tema por demais importante dizendo que o apoio para pessoas com este tipo de problemas é a demonstração de um magnífico exemplo de humanidade.

Agradeceu ao público que tantas horas esperou, muitas delas à chuva, por ele e a sua banda começando a interpretar “Angels”. Num último e magnético momento, deixou a banda sair, voltou à ribalta e encetou um medley à capela acompanhado, a plenos pulmões, por uma massa humana feliz e realizada que regressou para o início de mais uma semana com a certeza de que a partilha do bem e a empatia podem fazer o mundo melhor.