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Led Zeppelin, Case Study

Led Zeppelin, Case Study

Ana Cristina Pereira

O antigo tour manager dos Led Zeppelin, Richard Cole, revelou a maior lição que aprendeu, até hoje, com Peter Grant. O manager dos Led, e de muitas outras como Yardbirds ou Bad Company, conhecido pelo seu temperamento implacável, foi também um dos mais astutos managers de sempre.

Richard Cole, o tour manager dos Led Zeppelin, acredita que os artistas mais novos teriam muito a aprender ao estudar o modo como os ícones do rock modelavam o seu trabalho na altura. O modelo de trabalho dos músicos e managers actuais pouco tem que ver com o modo como se fazia rock’ n’ roll há umas belas décadas atrás. Através do testemunho de Cole, vamos visitar algumas lições que nos deram digressões lendárias dos Led Zeppelin nos anos 60 e 70. Pela conversa que o agente teve com a revista Forbes, talvez os comportamentos menos “aceitáveis” da banda em backstage sejam apenas um mito.

1. A falta de vocabulário de Grant: Tudo começou num momento-chave em que Grant pediu para que o procurassem nas Páginas Amarelas. Vivia-se o ano de 1967 e Cole confessa que, nessa altura, nunca antes tinha ouvido falar da lista de números telefónicos, porque em Inglaterra, de onde vinha, não existia tal coisa. Cole respondeu à lenda «Não posso…». Relembra que, na altura, Grant repetiu as palavras «Não posso?» e acrescentou «Nunca mais quero ouvir essas palavras. Não estão no meu vocabulário». O manager resume, “E foi isto. Se foste pago para fazer uma tarefa, fazes, e isso é tudo o que estava implícito.

2. Os músicos é que importam: Outro momento recordado é a forma como Grant sublinhava a importância dos músicos, em detrimento da equipa. «As minhas instruções que vinham do Peter era que eles eram a prioridade, não ele ou eu». Cole chegou a responder ao manager: «Uma coisa é certa – a maioria das pessoas não estão a pagar 7 dólares para vir ver-nos»Cole sublinha também que a “má” reputação dos Led Zeppelin em backstage não tinha influência no trabalho. «Trabalho é trabalho e brincadeira é brincadeira. São coisas diferentes».

John Bonham foi pedreiro antes de se tornar baterista dos Led Zeppelin

3. O trabalho genuíno compensa: Richard Cole acredita que a banda beneficiou por já ter experiência de trabalho, antes de ser bafejada pela fama. «Muitos de nós saímos da escola, quando tínhamos 15 anos, em Inglaterra e fomos trabalhar», afirma, acrescentando que John Bonham tinha sido pedreiro, Robert Plant asfaltou estradas e, ele mesmo, já tinha montado andaimes. Evidencia ainda o facto de que Jimmy Page e John Paul Jones faziam sessões de música e sabiam o quão cobiçado era esse trabalho, por isso não brincavam em serviço. «Quando te diziam que era para lá estar às 10h, estavas lá». Os artistas de hoje não tem essa ética de trabalho, na opinião de Cole, porque anseiam pelo dinheiro e pela fama de um dia para o outro. Nos anos 60, ninguém sabia quanto dinheiro havia no mercado da música. «Lembro-me de estar  com os Beatles em pubs e eles estavam apenas contentes por conseguirem viver através da música, em vez de terem um qualquer emprego mundano em Liverpool».

4. As mega produções: Cole manifesta, por último, espanto em relação às equipas de produção das digressões actuais. Ao visitar uma produção recente, de um colega que preparava a digressão de um grande nome da música, deparou-se com um cenário de 10 pessoas numa sala, em frente a computadores. Perguntou «O que é isto?», ao que o colega retorquiu «Escritório de produção». O antigo tour manager ficou abismado, «Não me perguntem o que é que eles estavam a fazer porque não faço ideia». Depois de questionado, inevitavelmente, pelo colega sobre como fazia antigamente, Cole respondeu «Um telefone, uma garrafa de Jack Daniels, uns quantos sacos de cocaína e era só».

A entrevista à Forbes pode ser lida, integralmente, neste link.