Por que uma boa música pode causar frisson?

4 Novembro, 2019

Já ouviste uma música muito boa e sentiste um arrepio na espinha? Ou arrepios nos braços e ombros? Esta experiência é chamada de frisson, termo francês que significa “calafrios estéticos” que parecem ondas de prazer percorrendo toda a pele.

Alguns pesquisadores até o apelidaram de “orgasmo da pele”. Ouvir uma música que gostas muito é o gatilho emocional mais comum para sentir esse frisson, mas alguns sentem isso ao olhar para uma bela obra de arte, assistir a uma cena comovente em um filme ou ter contato físico com outra pessoa.

Mas por que algumas pessoas experimentam frisson e outras não? Enquanto os cientistas ainda estão descobrindo os segredos desse fenômeno, uma grande equipe de pesquisa nas últimas cinco décadas traçou as origens do frisson para explicar como reagimos emocionalmente a estímulos inesperados em nosso ambiente, particularmente em relação a música. Passagens musicais que incluem harmonias inesperadas, mudanças repentinas de volume ou a entrada de um solista, são gatilhos comuns para o frisson porque eles violam as expectativas dos ouvintes de forma muito positiva, semelhante ao que ocorreu durante o concerto de uma Banda de Cachoeiro do Itapemirim (Espírito Santo), chamada “Aço Doce”. O público emocionado aplaude de pé diante das vozes tão perfeitas interpretando Freddie Mercury e Montserrat Caballet.

Se um violinista está a tocar uma passagem comovente que se transforma em uma bela nota alta, o ouvinte pode sentir esse momento emocionalmente carregado e experimentar emoções com a execução bem-sucedida de um instrumento tão difícil. Mas a ciência ainda está a tentar entender por que essa emoção resulta em arrepios. Alguns cientistas sugeriram que arrepios são remanescentes evolutivos dos nossos ancestrais (peludos), que se mantinham quentes através de uma camada endotérmica de calor que eles tinham sob os pelos da sua pele. Experimentar arrepios depois de uma mudança brusca de temperatura (como estar exposto a uma brisa inesperadamente fresca em um dia ensolarado) aumenta a sensibilidade e então baixam esses pelos, redefinindo a camada de calor. Desde que inventámos a roupa, os humanos tiveram menos necessidade dessa camada endotérmica de calor.

Mas a estrutura fisiológica ainda está em vigor, e pode ter sido reprogramada para produzir calafrios estéticos como uma reação a estímulos emocionalmente em movimento, como grande beleza na arte ou na natureza. Se uma pessoa estivesse mais cognitivamente imersa em uma música, então ela poderia estar mais propensa a experimentar o frisson como resultado de prestar mais atenção aos estímulos. Pesquisas sobre a prevalência de frisson têm variado amplamente, com estudos mostrando que entre 55% e 86% da população são capazes de sentir coisas como calafrios, nó na garganta e arrepios quando ouvem música.

Um relatório de 2007 descobriu que indivíduos que experimentam o frisson estão mais abertos a novas experiências, têm níveis mais altos de criatividade e curiosidade intelectual do que outros. Resumindo, a apreciação da beleza é fundamental para o que nos torna humanos, e o frisson é apenas uma versão supercarregada dessa apreciação.

Previous Story

Johnny Marr & The Cult Juntos em Palco

Next Story

Tinariwen, Amadjar Making Of

Go toTop