“Sisters With Transistors”, História das Pioneiras da Música Electrónica
Esta é a história de “Sisters With Transistors”, um documentário sobre as mulheres pioneiras da música electrónica.
Na década de 1920, o físico russo Leon Theremin estreou um instrumento electrónico que podia ser tocado sem qualquer contacto físico, bastando, para obter sons do outro mundo, mexer as mãos sobre as antenas do aparelho. O theremin poderia ter sido considerado uma novidade passageira se não fosse a falecida Clara Rockmore, uma virtuosa que ajudou a refinar o desenho do instrumento, impressionando o público com as suas actuações.
Clara Rockmore – que podes ver actuar no video que se segue – é apenas uma da longa lista de mulheres que mudaram a forma e o som da música moderna – muitas vezes invisivelmente, diz a cineasta Lisa Rovner. «Penso que quando a maioria das pessoas pensa em música electrónica, na maioria dos casos imaginam homens a carregar em botões».
O documentário de Lisa Rovner, “Sisters with Transistors”, corrige os erros históricos. Narrado pela inigualável Laurie Anderson, o filme celebra os feitos de pioneiras como Daphne Oram, que foi contratada pela BBC como engenheira de estúdio nos anos 1940. Oram gravou e a manipulou sons em fita magnética, experiências essas que levaram à co-fundação da Oficina Radiofónica da BBC em 1958. Outra pioneira, Delia Derbyshire, criou sons para quase 200 programas da BBC, incluindo o icónico tema musical da série de ficção científica “Doctor Who“, que estreou em 1963.
Os sintetizadores modulares viriam logo a seguir, e o desenvolvimento dos primeiros modelos disponíveis comercialmente foi orientado por mulheres. Wendy Carlos aconselhou Robert Moog sobre o design do primeiro modelo baseado no teclado, e apresentou-o ao público no seu álbum de 1968, “Switched-On Bach“, que vendeu mais de um milhão de cópias. Suzanne Ciani percebeu o potencial criativo de um sistema contemporâneo concebido por Don Buchla, que permitia aos artistas remendar componentes para controlar características do som, tais como o tom e o timbre.
A compositora Laurie Spiegel descreve estas tecnologias como revolucionárias. «A forma como a composição era feita anteriormente era escrever num pedaço de papel, com um lápis, um conjunto de instruções para outra pessoa fazer música», recorda. Livre para realizar a sua própria visão criativa, Spiegel programou então sistemas de geração musical baseados em computador enquanto trabalhava como investigadora nos Laboratórios Bell, nos anos 1970, sendo capaz de criar sons inteiramente novos, bem como variações dentro do próprio som, e partilhar a sua música directamente com o público.
Em 1977, o trabalho de Spiegel atraiu a atenção da NASA. A sua interpretação musical dos “Harmonices Mundi”, de Johannes Kepler, foi incluída na Voyager Golden Records, lançada no espaço para representar toda a humanidade. No entanto, a autora foi rápida a assinalar que a composição é demasiadas vezes vista como uma anomalia. Spiegel recordou fazer parte de uma comunidade activa de mulheres que estavam afiliadas a estúdios universitários e sem fins lucrativos de música electrónica na cidade de Nova Iorque e arredores. Alguns desses estúdios, tais como o Harvestworks, ainda hoje existem.
De certa forma, toda a música é agora electrónica, uma vez que a tecnologia digital é uma parte omnipresente na forma como as faixas e os álbuns são feitos e consumidos. Mas a compositora Yvette Janine Jackson, cujo trabalho explora eventos históricos e questões sociais actuais, diz que ainda há muito espaço para inovação e construção de legados. «A minha viagem criativa com a música electrónica tem sido centrada na tentativa de encontrar uma voz», diz Jackson, «seja uma voz afro-americana, uma voz queer, uma voz feminina ou a intersecção destas vozes».
Tendo estreado no festival SXSW em 2020, “Sisters with Transistors” foi exibido em prestigiados festivais americanos e internacionais, incluindo o Sundance ou o Sheffield Doc Fest. Vão seguindo o site oficial sisterswithtransistors.com/.
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