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Stanley Jordan e o poder terapêutico da música

Stanley Jordan e o poder terapêutico da música

Redacção

O artista de jazz, Stanley Jordan, regressa este Maio para dois concertos em Lisboa e no Porto.

No dia 7 de Maio, no Teatro Tivoli em Lisboa, e no dia 14, na Casa da Música, os fãs portugueses poderão assistir a dois concertos de Stanley Jordan. Os bilhetes para ambos os eventos custam entre 15 e 35 euros.

O jornalista Dragos Basca entrevistou Stanley Jordan, de modo a conhecer a sua visão do mundo da música e a relação do mesmo com aquilo que produz, para além de reflectir sobre a terapia musical.

1: Qual é o teu principal objetivo com os teus concertos? O que queres que a audiência capte dos espetáculos?
SJ: O meu foco é a qualidade espiritual da música, não de nenhuma particularidade religiosa, mas porque é universal. Eu espero que as pessoas não experienciem a música apenas com a mente, mas também com o coração. Eu quero que a música abra uma entrada para as pessoas imergirem no presente e senti-lo num outro nível. É isto que a música me faz sentir e se eu conseguir partilhar isso com o público, sinto que a música ultrapassou o facto de ser meramente entretenimento.

2: Tens uma longa carreira no ramo musical. Qual é o maior desafio que tens enquanto músico nos dias de hoje, com todas as mudanças na indústria?
SJ: O meu maior desafio é gerir o meu tempo. Eu preciso de tempo para a música, mas também para todas as outras coisas que acompanham a vida de um músico profissional. Especial quando estou em digressão porque o mundo torna-se mais complexo do que antes. Eu tenho um amigo que é físico e que é experiente na Teoria do Caos. Uma vez perguntei: «Sou só eu, ou o mundo torna-se cada vez mais caótico?». Ele respondeu: «Oh definitivamente!»

3: Como é que surgiu o interesse pela terapia musical e porque é que achas que vemos habitualmente outros músicos envolvidos no assunto?
SJ: Eu sabia dos poderes curativos da música desde tenra idade, porque eu próprio os experimentei. Mas só soube da profissão por volta dos 30 anos, quando fui abordado por uma terapeuta musical. Não sei por que razão mais pessoas não conhecem a terapia musical. Talvez seja uma combinação de conservadorismo e protecionismo no campo médico. Mas tento aumentar a consciencialização e descobri que as pessoas são muito abertas a isso.

5: Para muitos artistas, entrar em tour é assustador. Eles são mais felizes em estúdio, a gravar e a lançar discos. Contudo, será isto suficiente para um músico conectar-se com o público? Como é no teu caso?
SJ: Andar em digressão é um desafio porque é cansativo e arriscado. Gasta uma grande quantidade de tempo e energia. Porém, quando chego lá, é uma maneira muito mais satisfatória de me ligar com o público. A melhor parte do estúdio é o facto de ser o melhor ambiente para aperfeiçoar o som. Há lugar para os dois, o que funciona melhor para mim é ficar em casa e passar o meu tempo a compor e praticar. Depois saio e experimento a música na frente de um público e aperfeiçoo as minhas arranjos. Depois vou para o estúdio e acabo.

6: Achei muito intrigante que, por vezes, sentas-te em vários lugares na sala, tentando imaginar como é que o público se sente antes dos concertos. Nunca vi um artista fazer isso e estou certo de que não está relacionado apenas com questões de som…
SJ: Faço isso em todos os concertos. É uma maneira de usar a mente subconsciente. Ela não trabalha por palavras, mas por imagens, sentimentos e impressões sensoriais. Se eu conseguir imaginar a experiência da plateia, antes do concerto começar, crio uma impressão que funciona como modelo. Depois, eu confio na minha mente subconsciente e trabalho atrás das câmaras para fazer tudo o que preciso fazer, de modo a criar uma experiência semelhante para o público.

7: O quão importante é ser vulnerável e até inseguro enquanto músico e como consegues balancear para que isso não se torne incapacitante.
SJ: Qualquer pessoa que realmente entenda de música é humilde. Não importa o quão bom és, há sempre algo para além de ti. O próprio John McLaughlin uma vez disse-me que a música é infinita. No meu coração, eu já sabia disso, porém essa foi a confirmação que precisava. Ele tem razão, a música é maior do que qualquer um de nós. Para mim, a música é um caminho espiritual e, assim como qualquer caminho espiritual, é importante manter o nosso ego sob controlo, porque o ego eventualmente limitará o nosso desenvolvimento. Mas também é importante ter um certo nível de confiança. Se estiveres constantemente a dizer que és mau, isso não é humildade, é apenas o lado negro do ego. Ao longo dos anos, encontrei um equilíbrio porque não me esforço para ser perfeito, esforço-me para estar o mais perto possível da perfeição. É uma distinção subtil, mas evita os perigos do perfeccionismo debilitante.

8: Daquilo que vejo, pareces ser um estudante do jogo, não resmungas, mas manténs a chama acesa, sempre a mexer com a tua carreira. Quais qualidades achas que um músico deve ter para se manter na ativa deste negócio?
SJ: Não sei, sou abençoado em poder fazer música diariamente e eu não tomo isso como garantido. Lembraste quando a tua mãe dizia para não comeres muito depressa? É a mesma coisa com a música, se saboreares cada nota, nunca perderás a paixão.

9: De uma maneira ou de outra, curar através da música acontece a níveis mundanos, assim como, inconscientemente, a todas as pessoas que ouvem música nos momentos mais difíceis para se sentirem melhor. De que modo, isso é diferente de terapia musical?SJ: A terapia musical baseia-se no poder curativo da música, mas acrescenta a orientação de um terapeuta musical treinado que pode ajudar-te a utilizar a música para alcançar resultados não musicais muito além do que é provável que consigas sozinho. A coisa mais importante a entender é que, na terapia musical, é o uso da música mais do que a música em si. Por exemplo, pode ajudar-te a compreender e processar memórias dolorosas ocultas. Cantar ou tocar um instrumento de sopro pode ser útil para a terapia respiratória. A música também é boa para o cérebro, por isso pode ajudar vítimas de derrame a recuperar algumas das suas memórias e habilidades, ou pode ajudar crianças com défices cognitivos a encontrar ordem no seu mundo. A música pode dar-nos paz interior e satisfação para nos libertarmos de vícios. A lista continua, mas estes são alguns exemplos.