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Vicoustic: Maior Fábrica do Mundo de Soluções Acústicas Vai Nascer em Paços De Ferreira

Vicoustic: Maior Fábrica do Mundo de Soluções Acústicas Vai Nascer em Paços De Ferreira

Nuno Sarafa

A Vicoustic, empresa portuguesa de soluções acústicas para estúdios de gravação – e não só -, está a construir em Paços de Ferreira a maior fábrica do mundo do sector, com 6 mil metros quadrados de área coberta, num investimento de 2,5 milhões de euros e que irá incluir também o aumento do número de postos de trabalho, de 70 para 100 trabalhadores. Estará pronta em 2022.

Fundada em 2007, a Vicoustic, que se encontra representada em mais de 70 países, tem, no seu vastíssimo portfólio, muitos ilustres clientes, entre os quais o realizador Michael Moore ou o engenheiro de áudio dos U2 Alastair McMillan, cujo estúdio pessoal, em Belfast, Irlanda, está totalmente equipado com os produtos da empresa portuguesa. Os produtos da Vicoustic chegam também a nomes como a NASA, a Google, a Apple, Lady Gaga ou Christina Aguilera.

Até 2014, a Vicoustic não tinha a sua própria linha de produção, entregando essa responsabilidade a outras companhias da região de Paços de Ferreira, mas, segundo explicou à AS o CEO César Carapinha, «a qualidade não estava dentro dos parâmetros da empresa, pois é difícil controlar a qualidade quando são os outros a fazer», pelo que o passo seguinte e natural foi «alugar um espaço e começar a produzir de forma independente».

Desde o momento em que a marca nacional dispôs de um espaço próprio até ter quatro edifícios, três deles fábricas – todas situadas em Carvalhosa, Paços de Ferreira – a funcionar em simultâneo foi um ápice. «A evolução foi bastante positiva. A nossa operação já era significativa e, em 2019, por exemplo, estávamos a facturar 8 milhões de euros. Mas o processo não é muito eficaz, porque temos de andar com os produtos de espaço para espaço», explica César Carapinha. Daí que as dificuldades no processo e a grande procura pelas variadas soluções acústicas da marca levassem o conselho de administração da Vicoustic a repensar toda a operação. «Neste momento, temos um edifício na nova zona industrial de Paços de Ferreira, onde temos o laboratório e a logística e, no ano passado, comprámos os terrenos (com cerca de 10 mil metros quadrados) à volta desse edifício para construir uma mega fábrica».

Alastair McMillan, engenheiro de áudio dos U2

Essa nova mega fábrica, «sem dúvida a maior do Mundo do seu ramo», vai ter cerca de 6 mil metros quadrados de área coberta, onde «a empresa passará a concentrar toda a  produção». Com isto, a Vicoustic espera «duplicar a capacidade que existe actualmente». A obra estará concluída em Maio de 2022 e a fábrica vai começar a operar depois do verão do ano que vem, num investimento total que anda na ordem dos 2,5 milhões de euros. «E mais: neste momento somos 70 pessoas, mas vamos empregar mais 30», sublinha o CEO da empresa.

Em contraponto com o momento de crise que se antevê global, César Carapinha mostra-se confiante e explica porquê: «Sabemos que é uma aposta arriscada, obviamente, ainda mais numa altura destas em que vem aí uma grande crise… mas não podemos parar por isso. As crises também trazem oportunidades e uma delas é o tempo. Quando estamos muito ocupados, acabamos por não criar nada de novo ou mudar as coisas com tanta facilidade. Aproveitámos o ano passado, que foi muito parado, para desenvolver novos produtos, reorganizámos metodologias, aproveitámos esse tempo para investir em nós próprios e isso também faz parte do processo».

Reciclamos garrafas de água que são apanhadas nas praias na Holanda e transformamo-las numa lã de PET que é depois transformada em produtos acústicos

No capítulo dessas novas metodologias, a aposta total e em força vai para a sustentabilidade. «Há cerca de quatro anos iniciámos um processo de redução significativa do uso de poliuretano. Substituímos por PET (plástico das garrafas). Aos poucos, com esta reciclagem, fomos construindo produtos acústicos para a área dos escritórios, depois para a área do ‘music and broadcast’ e agora estamos a fazer cabines insonorizadas com este material. Neste momento, já representa cerca de 90% da matéria-prima consumida na Vicoustic, o que é muito bom».

No fabrico destes equipamentos made in Portugal, «todos os desperdícios são reciclados, voltam a ter vida útil», refere César Carapinha, frisando que a consciência ambiental tem, obrigatoriamente, de ser uma aposta de qualquer empresa. «Nós reciclamos garrafas de água que são apanhadas nas praias na Holanda, transformamo-las numa lã de PET, que é depois transformada em produtos acústicos. Mas os desperdícios da nossa produção são todos reaproveitados. Temos de ter essa consciência e preservar o ambiente».

César Carapinha, CEO Vicoustic

No entanto, sustentabilidade e preços baixos nem sempre andam de mãos dadas. «Não, é raro, de facto. Reciclar materiais faz com que os produtos finais sejam mais caros. No entanto, esse acréscimo de preço tem sido bem recebido pela maior parte dos nossos clientes, sejam arquitectos, designers de interiores e mesmo os clientes finais, que já não se importam de pagar um pouco mais mas terem um produto de qualidade e que está a beneficiar o ambiente. As pessoas têm presente que estamos a dar uma nova vida ao lixo».

Neste momento, e depois de concluídos os trabalhos nos estúdios da TSF, a equipa da Vicoustic está a tratar acusticamente os novos estúdios da RTP, igualmente feitos a partir de materiais 100% reciclados, e ainda o estúdio de um DJ internacional que se mudou recentemente para Portugal – WW.

Para César Carapinha, «Portugal tem, além da Vicoustic, muitas marcas boas e conhecidas no estrangeiro», e, por isso, conclui, «devia valorizar-se muito mais o que é português».

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