50 Anos Depois: As Diferentes Facetas de Jim Morrison
À altura do quinquagésimo aniversário da morte do lendário frontman dos Doors, recordamos alguns dos marcos, feitos e trejeitos do homem que mudou a imagem do rock ‘n’ roll.
Lembrar Jim Morrison e não cair em lugares comuns é uma tarefa que, ano após ano, tem-se revelado de crescente dificuldade. Dizer que foi um artista ímpar, um bon-vivant insaciável, um amante apaixonado, uma das mais controversas e icónicas figuras do mundo da música ou praticamente qualquer outra adjectivação que denota grandeza já se tornou tão recorrente quanto redundante.
Propomo-nos, então, a caracterizar o homem pelo que a sua obra nos diz ter sido, pelas diversas incursões que tomou ao longo da sua breve mas prolífera carreira e – não menos importante – pelas diferentes facetas que projectaram no inconsciente colectivo do rock and roll, onde decerto permanecerão influenciando incontáveis artistas por vir.
A mais premente e imediata das personas de Jim Morrison não poderia ser senão a de músico, performer e principal força criativa por detrás dos Doors. Apesar de, em palco, não ter desenvolvido o hábito de tocar mais que os acessórios acompanhamentos rítmicos, era de Morrison que, reconhecidamente, brotavam as canções da banda, para as quais o cantor desenvolvia melodias vocais que eram depois completadas por Manzarek, Krieger e Densmore.
Era dele, também, que advinham algumas das influências que melhor caracterizaram a tão imitada sonoridade dos Doors, como sejam o seu distinto cunho vocal (que retirou do seu apreço por Elvis Presley e Frank Sinatra) ou a sua inclinação para as substâncias alucinogénicas, sob o efeito das quais contribuiu para que o rock psicadélico desse os seus primeiros passos.
O POETA
Fora a sua carreira musical, as incursões de Morrison na poesia serão, porventura, as mais conhecidas e estimadas pelos fãs dos Doors. Um leitor ávido durante a infância e a adolescência, acumulou referências que o acompanhariam para o resto da vida: Nietzsche, Plutarco, Blake, Kerouac, Huxley, Artaud, Ginsberg, Kafka.
Referências que, combinadas com uma vivência no seio da contra-cultura de Los Angeles, deram frutos vistosos no futuro: em vida, publicou dois volumes de poesia, “The Lords/Notes on Vision” e “The New Creatures” (deixando material suficiente para duas outras compilações, que sairiam em 1988 e 1990), e gravou duas outras sessões de leituras de seus versos, que seriam mais tarde lançadas comercialmente de forma esporádica.
Hoje em dia, é reconhecido por marcas temáticas distintas na sua escrita, que variam do misticismo dos Nativos Americanos à referência a répteis e paisagens desérticas.
O ACTOR & O BOÉMIO
Sendo uma das menos proliferas vertentes de Jim Morrison, o cinema teve, não obstante, um peso considerável na vida do músico. Foi, afinal, nesta área que se licenciou pela UCLA, em Los Angeles, altura na qual conheceu os restantes membros dos Doors. Durante este tempo, realizou e actuou em várias produções independentes, influenciado, segundo consta, pelo teatro surrealista de Antonin Artaud.
Talvez a sua mais reconhecida aventura no ramo cinematográfico tenha sido “HWY: An American Pastoral”, filme experimental escrito, produzido, financiado e realizado por Morrison, no qual interpreta também o papel principal. Apesar de nunca ter sido lançado comercialmente, excertos da peça de 50 minutos têm sido retrospectivamente mostrados em documentários sobre o músico.
Correndo o risco de cair no sensacionalismo, esta é, apesar de tudo, uma componente fulcral que moldou irreversivelmente a conduta do cantor. Desde cedo um alcoólico inveterado e pesado consumidor de drogas (que nem de longe se restringiam ao anteriormente mencionado LSD), desenvolveu o hábito de chegar atrasado (e intoxicado) a gravações, manter um comportamento errático em concertos, participar em lutas e envolver-se com diversas mulheres em digressão (que, segundo relatos, incluíram Nico, Janis Joplin e Grace Slick, de Jefferson Airplane).
Características que, de resto, culminaram na sua trágica e prematura morte e tornaram-no num dos arquétipos – senão o derradeiro – da ébria, inconsequente e indulgente estrela de rock.
O ÍCONE
Iggy Pop, Layne Staley, Eddie Vedder, Scott Stapp, Julian Casablancas, James LaBrie – todos nomes conhecidos no mundo do rock, mas que têm pouco em comum à excepção do facto de serem vocalistas de bandas bem sucedidas – e de terem partilhado, publicamente, uma admiração profunda pelo trabalho de Jim Morrison.
Foi, discutivelmente, sob o seu legado que cada um destes músicos (e incontáveis outros) construíram a sua carreira, de tal forma que a importância do espólio de Morrison torna-se, hoje, imensurável. Há muito tempo mais que um músico ou uma figura histórica, Jim Morrison (à semelhança de Hendrix, Joplin ou Barrett) fez-se lenda através de uma obra, que, tornada inesgotável fonte de inspiração, teimará em resistir ao passar dos anos.