AS10: Cristo, da música sacra ao death metal!
Jesus Cristo é uma das figuras mais importantes na história da humanidade, creia-se ou não, e isso torna algo normal haver tanto trabalho artístico relacionado com a figura central do cristianismo, a música não é excepção.
A música sacra foi durante um largo período de tempo, e continua a ser ainda hoje, o grande veículo da exposição musical derivada da contemplação do mistério cristão. Do poder tremendo de Bach ao minimalismo de Arvo Pärt.
Mas a figura de Jesus Cristo passou também para a música popular, com os anos 40 e 50 norte-americanos sempre muito apontados ao conservadorismo e projectos de música ligeira completamente insípidos, a excepção foi o gospel e a sua importância no R&B, na soul e no Motown. Os anos 70 revelaram um dos marcos musicais mais importantes, centrado no cristianismo, o musical “Jesus Christ Superstar”. Nos anos 80 houve um boom no heavy metal de artistas assumidamente cristãos (com os Stryper à cabeça), ao mesmo tempo que despontavam os anos áureos do black metal norueguês. Também isso fez surgir nos anos 90 algumas bandas de metal extremo com mensagem cristã.
Há exemplos de artistas mainstream que assumiram sempre um vínculo com o cristianismo, como Bono que liderou os U2 num álbum de procura espiritual como “Joshua Tree”, em que o vocalista procura por um sentido espiritual (“I Still Haven’t Found What I’m Looking For”) ou deseja atingir o Paraíso, um lugar onde as ruas não têm nome (“Where the Streets Have No Name”). Também em Portugal se assistiu, através da FlorCaveira, editora enraizada no protestantismo, a uma série de artistas com um núcleo cristão.
ARVO PÄRT “St. John Passion”: O compositor estónio é talvez o mais importante compositor de música sacra vivo. Adepto do minimalismo e com muitas influências no canto gregoriano desenvolveu o seu próprio estilo de composição, a tintinnabuli que é caracterizada por uma voz que harmoniza em arpégio a tríade tónica e uma segunda que se move em intervalos diatónicos.
SAMUEL ÚRIA “Forasteiro”: Uma das grandes figuras que emergiram do movimento FlorCaveira e um assumido cristão que, em entrevista à Arte Sonora, ao referir-se à sua carreira citava S. Paulo: “Em tudo dai graças”.
U2 “Where the Streets Have No Name”: Bono é uma das maiores figuras do mundo do showbiz, The Edge confessou que foi o vocalista dos U2 que despertou os restantes membros da banda para um sentido espiritual ligado ao cristianismo na sua música. Em “Joshua Tree” falavam de igualdade e de liberdade, do seu Céu, um lugar onde as ruas não têm nome.
JUSTICE “Genesis”: A dupla francesa tornou-se num dos maiores fenómenos do movimento electro rock. Com a Bíblia numa mão e os álbuns de Metallica na outra, estrearam-se com o álbum “Cross”.
MORTIFICATION “Scrolls of Meggiloth“: Em 1992 os australianos criaram um dos mais ilustres álbuns de death metal, “Scrolls of Meggiloth”. Brutal como o seu som e no entanto sublime é o nome da banda, a mortificação é o processo de purga do pecado da carne no cristão, do caminho de libertação das vontades instintivas – uma tarefa difícil que em vários momentos históricos tem sido (mal) interpretada das piores maneiras possíveis.
TROUBLE “Endtime”: Nos antes 80, bandas como Candlemass, Saint Vitus e Trouble, seguindo as raízes de Black Sabbath, tornaram-se pioneiras na dimunuição dos bpm no heavy metal e edificaram o doom metal clássico. Os Trouble, mais que o simples uso da imagética, assumiram sempre um sentido evangelizador nos seus temas. Eric Wagner, o vocalista, é uma das maiores figuras do género, com a sua influência reconhecida por Dave Grohl que o convidou para o álbum “Probot”.
BELIEVER “Trilogy of Knowledge – The Lie”: O líder Kurt Bachman afirma que a intenção da banda não é pregar, mas que as suas letras são uma manifestação de temas que lhe são próximos, que ecoam profundamente.
PARAMAECIUM “I’m Not to Blame”: Outros australianos que sempre pautaram os seus trabalhos por um profundo sentido cristológico. O álbum de estreia é considerado uma das maiores obras do death/doom metal.
PLACE OF SKULLS “The Black is Never Far”: Victor Griffin descobriu-se como um cristão algo tarde na sua vida, mas com associação ao som dos Trouble criou uma das bandas de doom tradicional mais importantes da actualidade. Estranhamente a editora Southern Lord desistiu de editar o terceiro álbum devido às fortes referências cristãs nas letras.
GRIFTEGÅRD “Charles Taze Russell”: Com base na infância protestante o vocalista Thomas Eriksson desenvolveu um dos mais interessantes projectos do doom metal sueco. Mais existencialista que o conceito da banda revolve em torno de temas religiosos, particularmente do cristianismo.
Deixando muitos outros exemplos de fora e somando um a mais, a obra de Andrew Lloyd Webber tinha que estar presente – além da fusão de géneros musicais é um trabalho que procura abordar imensos dos tópicos que ainda hoje são causa de frustração na interpretação da figura de Jesus Cristo.