Mogwai Burns
Barry Burns, guitarrista/teclista dos Mogwai, conversou com a AS sobre “Every Country’s Sun” e a sua sonoridade, sobre bandas-sonoras e banda-desenhada.
Os Mogwai estão prestes a apresentar o seu mais recente álbum em Portugal. No NOS Primavera Sound, na versão da Invicta, os escoceses irão mostrar esse “sol de cada país”. Se, por um lado, o mais recente disco foi criado após a saída de John Cummings, um dos fundadores da banda, por outro, promoveu o regresso a um ambiente similar ao dos primeiros anos do grupo e à época em que surgiu em cena Barry Burns, músico que se desdobra em vários instrumentos dentro da sonoridade dos escoceses, que conversou com a AS sobre “Every Country’s Sun” e a sua sonoridade, sobre bandas-sonoras e banda-desenhada.
O REGRESSO DOS MOGWAI A NYC
Lançado em Setembro de 2017, “Every Country’s Sun”, como se lê na review da AS, foi mais uma prova de que os Mogwai, para além de fazerem parte dos primórdios do post rock, mantêm-se como uma das bandas mais relevantes, influentes e resistentes do género. Barry Burns pode não ter estado na fundação da banda, mas o multi-instrumentista passou a ter um papel determinante na sua sonoridade quando se juntou ao colectivo na antecâmara de “CODY”, o segundo LP dos escoceses.
Foi nesse álbum, editado em 1999, que os Mogwai trabalharam pela primeira vez com o produtor Dave Fridman nos estúdios deste, os Tarbox Road. Fridmaan produziu ainda o seguinte esforço, “Rock Action”, e as colaborações com o quarteto só foram retomadas em “Every Country’s Sun”. Em conversa com a AS, Barry Burns explica a decisão de forma simples, a banda queria «voltar a Nova Iorque e ir para um local que estivesse no meio do nada, sem distrações». Da mesma forma que queria muito voltar a trabalhar com Fridmaan, porque «já não colaborávamos há muito tempo e continuamos com uma grande amizade. Foi tipo uma mudança de cenário de Glasgow» resume Burns.
O SOM ALÉM DE GUITARRAS
Mas, ainda que em território familiar, os Mogwai continuaram a procurar alargar as suas fronteiras estéticas. Afinal, aquilo que parece ser uma característica do novo álbum e, principalmente, nos primeiros singles que surgiram em promoção ao álbum, a maior preponderância de elementos electrónicos (passe a redundância), não se trata se um redirecionamento estético.
Burns, que se ocupa mais deste tipo de instrumentos, admite que se trata da banda a explorar novas sonoridades, mas que isso é somente um reflexo do contante exploração de sintetização e unidades de efeitos em estúdio, que os músicos acabam depois por comprar, «criando uma palete do que podemos usar. As guitarras já as tocamos há imenso tempo e torna-se agradável tocar outra coisa. Também usamos muito o piano, mas é agradável usar estes sintetizadores com mais frequência. E também é muito interessante quando outros membros da banda, que normalmente não tocam sintetizador o fazem, porque criam coisas que nunca me iriam passar pela cabeça… A cabeça do gajo do sintetizador».
Isto não significa que “Every Country’s Sun” não tenha momentos de maior peso, como se descobre aproximando-nos dos temas finais da tracklist, ainda que não tenha havido um planeamento para criar uma curva de crescente intensidade. «Gravámos apenas um par de músicas nesse estilo, por isso concentrámo-nos bastante nessas. Mas não falamos sobre o que queremos fazer com um álbum, vamos tentando e se não resultar não usamos», Burns explica, ao mesmo tempo que confessa uma estratégia diferente na promoção, com os singles como “Party In The Dark” ou “Coolverine” a procurarem maior consensualidade, sendo mais upbeat o primeiro e mais melódico o segundo: «Muito mais, mesmo. Acho que se lançássemos um dos sons mais pesados como single… Muita gente não ia curtir (risos)».
Um instrumento, por vezes, torna-se completamente avassalador no processo de composição. Temos usado um Dave Smith OB-6 em tudo o que temos feito ultimamente.
Numa conversa anterior entre a AS e Stuart Braithwaite, sobre o álbum “Rave Tapes”, o guitarrista apontou Barry Burns como principal culpado pela cada vez maior preponderância de sintetizadores no som dos Mogwai. O músico aceita a acusação com humor: «Bem… Talvez existam demasiados sintetizadores nesse projecto (risos). Acho que deixámo-nos levar um bocado e era mesmo esse o objetivo, porque queríamos ver como é que era a sonoridade, mas neste último álbum voltámos um pouco atrás e já nos focámos um pouco mais nas guitarras, mas não completamente! Por isso sim, existem montes e montes de sintetizadores neste novo álbum, mas também existem provavelmente muitas mais guitarras».
Uma unidade que o músico não tem largado e se tornou fulcral nos últimos trabalhos da banda é o sintetizador Dave Smith OB-6. Aliás, Burns assume que, por vezes, «um instrumento torna-se completamente avassalador» no processo criativo e que este «excelente sintetizador» tem estado presente em tudo o que os Mogwai têm feito ultimamente.
SINESTESIAS
Na imensa discografia dos escoceses pontuam imensas bandas sonoras. De facto, nos últimos anos o percurso da banda tem sido um fluxo constante “álbum/tour/banda sonora/tour/álbum/tour”. Readaptar o esforço da banda, principalmente, para um processo sinestésico poderá parecer complexo, mas Burns simplifica a questão e refere que os músicos da banda trabalham com a mente bastante descontraída, porque estão «a trabalhar para alguém que não é os Mogwai. Há muitas conversas que acontecem entre nós e os directores ou produtores do filme».
“Before The Flood”, o documentário de 2016 sobre as alterações climáticas, é um exemplo disto. Para se preparar para criar as suas composições (Trent Reznor, Atticus Ross, entre outros, também possuem temas seus na banda-sonora), a banda teve algumas sessões de estudo sobre o assunto, ainda que depois não tenha recebido indicações concretas sobre a música em si: «Encaixámo-nos, por assim dizer, nas paisagens que nos pediram para musicar. Creio que o resultado final, na relação com as composições dos outros autores, é muito homogéneo e deixou-nos muito satisfeitos».
Ávidos consumidores de cinema , os escoceses não são snob nas escolhas e Burns confessa que “Coolverine” é, sem espanto, uma referência a Wolverine, personagem da Marvel e do MCU: «Claro que é (risos). Estávamos a ver um filme, na altura em que estávamos a gravar o álbum, e aparece um gajo com uma pinta que parecia uma versão super m*rdosa do Wolverine. Com um corte de cabelo terrível e cenas assim, por isso… Sim (risos)».
Além disso, Barry refere-nos que os seus colegas são “agarrados” aos comics norte-americanos e que ele próprio não desdenha alguns volumes: «O Stuart [Braithwaite] e o Dominic [Aitchison] estão muito mais nessa cena que eu. Mas, às vezes, a minha mulher compra-me volumes daqueles que têm montes de banda-desenhada da Defiant. Não sigo nenhuma em particular, só vejo muito as que pertencem à Defiant».
PRIMAVERA
No dia 09 de Junho, os Mogwai sobem a palco no NOS Primavera Sound, no Porto. Contudo, há um ano atrás, na edição de Barcelona, a banda estreou “Every Country’s Sun”, um par de meses antes da data de edição, tocando o álbum ao vivo na sua forma integral, o nosso interlocutor admite que foi algo assustador «porque não costumamos fazer esse tipo de coisas. Quando vais tocar num festival, também tocas sempre um monte de músicas antigas, por isso foi bastante assustador. E houve muito trabalho de casa. Levámos quatro semanas a ensaiar para conseguir fazer o concerto. E depois, chegar lá, tocar o set uma vez e pronto… Já estava feito! Foi estranho».
O novo álbum terá, certamente, uma reprodução alargada no Parque da Cidade. Até porque, está entre os trabalhos favoritos dos Mogwai, para Barry Burns, que elege ainda “Happy Songs For Happy People” e a banda sonora de “Zidane” para o seu top três.