Cobain: Montage Of Heck
O novo documentário, na perspectiva de um admirador…
A viva memória não se esquece. A amarga sensação não se perde. A eterna recordação do momento, aquela enorme desolação que ilude a passagem do tempo. Estávamos a 8 de Abril de 1994 e lembro-me do local, da notícia, de quase tudo. Kurt Cobain, líder dos Nirvana e símbolo maior de toda uma geração comete suicídio. A vida e obra do grande ídolo dos anos 90, o meu ídolo, chegara ao seu fim. Mas será que chegaria mesmo ao fim? Cobain: Montage Of Hech faz-nos querer que não!
Vinte e um anos passados da sua morte, o primeiro documentário oficial sobre Kurt Donald Cobain é íntimo, interessante e curioso, mas diga-se… Um tanto ou quanto controlado e pouco ambicioso. Com a realização a cargo de Brett Morgen e a produção com a mão e preciosa colaboração de Frances Bean Cobain. Uma vez mais, abrem-se as portas do coração e alma do músico de Aberdeen WA, desta feita por um conjunto de testemunhos, animações visuais e vídeos caseiros divididos entre a primeira pessoa e quase todos aqueles que o foram próximos. Organizado e montado da feliz infância à problemática adolescência, da crescente dependência à fatídica decadência. “Montage Of Heck” são 145 minutos da família à rebeldia, da ascensão à depressão. São um pouco mais de duas horas do filho, do pai, do homem e do incrível artista. Horas preenchidas e projectadas por diversas confissões, opiniões e imagens nunca antes divulgadas, imagens que representam o maior e o melhor apontamento de todo o documentário. Um novo registo biográfico, por vezes revelador e intenso, por vezes maçador e mais do mesmo, que agora se junta à infindável colecção de relatos conhecidos sobre o percurso de Kurt Donald Cobain. Uma nova descrição que chega a todos os admiradores que, como eu, no início da fita descobrem e questionam, no fim absorvem e se emocionam.
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Emocionam não porque “Montage Of Heck” seja uma caixinha de surpresas do primeiro ao último minuto, não porque seja algo que já não se saiba de trás para a frente ou porque tenha o final mais surpreendente e espectacular de sempre. Pelo contrário, o final é mesmo «muita parra para pouca uva» e a única sensação que remete é um valente «ora bolas»! Emociona, simplesmente, porque a inesgotável curiosidade e o apreço pela figura chegam e sobram para durante toda a visualização nunca perder a perspectiva e o gosto de um admirador. E na perspectiva de um admirador “Montage Of Heck” podia ser um pouco mais! Não é mau, mas não passa do assim-assim. Está longe de ser terrível, mas fica-se somente pelo “possível”. Destaca-se por juntar pela primeira vez a criança divertida, o jovem rebelde, o adulto paternal e o homem afectivo que foi Kurt Cobain. E ainda, a sua mãe confidente (Wendy O’Connor), o seu pai arrependido (Don Cobain), o seu amigo resignado (Krist Novoselic) e a sua mulher inconstante (Courtney Love).
Montage Of Heck” não é o documento audiovisual mais pessoal alguma vez criado sobre Kurt Cobain, mas podia ter sido.
Tudo isto misturado e alternado entre várias passagens e ilustrações do seu diário, umas partes a bom ritmo, outras partes nem por isso. Tudo isto com uma certa carência de novidade e raridade merecedoras de grande destaque, exceptuando a pretensão ideológica/revolucionária de Kurt Cobain e Buzz Osborne (Melvins), a audição de um primoroso cover acústico de “And I Love Her” dos Beatles e a gravação de “Smells Like Teen Spirit” (o ponto de viragem artístico) acompanhado por uma versão “coral” de fazer arrepiar os pêlos do corpo inteiro. “Montage Of Heck” não é o documento audiovisual mais pessoal e elucidativo alguma vez criado sobre Kurt Cobain, mas podia ter sido. Esse, seguramente, será “About a Son” de AJ Schnack, uma compilação de entrevistas caseiras realizadas pelo jornalista Michael Azerrad a Kurt Cobain entre Dezembro de 1992 e Março de 1993, onde toda a sua história e obra são contadas e reveladas na íntegra pela primeira pessoa.
“Montage Of Heck” é, unicamente, o mais familiar e exclusivo de tudo aquilo que já foi dito, escrito e projectado sobre aquele que será o eterno símbolo da geração de 90. Vale a pena, mas só…