Máquina do Tempo: Concertos Trágicos
A história da música está preenchida por concertos que acabaram em tragédia.
A concentração de massas gigantes de multidão ou a sobrelotação de espaços (pequenos ou grandes) é, normalmente, uma situação que exige cuidados. As variáveis e possibilidades que podem ser despoletadas por cada indivíduo são amplamente multiplicadas. Junte-se o fervor dos fãs pelas bandas, promotores sedentos de lucro e sem consideração pela segurança do público, simples estupidez, etc., e a probabilidade de ocorrer uma tragédia aumenta exponencialmente. Estes são alguns dos casos mais graves.
Altamont Free Concert, 1969 – São Francisco | 300 mil pessoas juntaram-se no “Woodstock do Oeste” para ver bandas como os Rolling Stones, Jefferson Airplane e Grateful Dead (que cancelariam a sua actuação, devido à escalada de violência). A organização teve a prodigiosa ideia de contratar o clube motard Hell’s Angels para fazer a segurança do concerto. Público e seguranças foram-se envolvendo em escaramuças. A multidão foi-se tornando mais hostil com os motards, aumentando a violência até à insustentabilidade. No concerto dos Rolling Stones, Meredith Hunter, no público, foi socado no rosto e puxou de um revólver, ao que membros dos Hell’s Angels o atiraram ao chão, pontapearam e esfaquearam repetidamente, até à morte. No total, 850 pessoas foram feridas e 4 morreram.
World Series Of Rock, 1979 – Cleveland | Os concertos World Series Of Rock sempre foram propensos à violência, mas este terá sido o mais extremo. Os Aerosmith eram os headliners na data no Cleveland Stadium e várias centenas de fãs acamparam no exterior do estádio, para poder assegurar os melhores lugares na abertura de portas. Vários criminosos viram uma oportunidade para assaltar as pessoas e daí resultaram 5 vítimas mortas a tiro. A organização foi acusada de falhas e insuficiências na segurança do evento. Foi o final dos eventos World Series Of Rock.
The Who, 1979 – Cincinnati | The Who estavam “em grande”. O Riverfront Coliseum estaria “à pinha”. Como costume no estádio, os organizadores usavam um sistema de lugares “primeiros a chegar” que já criara o caos em 77, num concerto de Led Zeppelin. 18,000 fãs concentravam-se e debatiam-se nas portas, para entrar e garantir bom lugar, acabando por arrombar algumas. As portas que não cederam foram paredes contra as quais dezenas de pessoas foram esmagadas pela multidão. Quando a polícia conseguiu controlar a situação, foram encontradas 11 pessoas esmagadas e mortas por asfixia. Os The Who não foram informados e deram o concerto.
Monsters of Rock, 1988 – Donington | 107 mil pessoas na maior edição de sempre do festival. Um terreno lamacento e os Guns N’ Roses no seu auge, “Appetite For Destruction” acabara de explodir neste lado do Atlântico. Quando se ouviram as primeiras notas de “It’s So Easy”, a multidão correu para o palco, esmagando quem estava na frente e pisando quem caía. O concerto foi várias vezes interrompido e Axl Rose repetia: «Don’t try to kill each other because we’d like to see you again». No final, várias pessoas sofreram lesões e duas acabaram por morrer asfixiadas.
Guns N’ Roses & Metallica, 1992 – Montreal | As duas maiores bandas do hard rock, na altura, numa digressão única. No dia 8 de Agosto, de 1992, no Olympic Stadium em Montreal, deu-se um dos maiores motins da história do rock ‘n’ roll. Os Metallica viram-se forçados a encurtar o concerto, pois James Hetfield foi queimado pela pirotecnia da produção. Os Guns N’ Roses não eram banda de cumprir horários e a paciência de 53,000 pessoas foi testada por mais de 2 horas. Quando, após uma hora de concerto, Axl Rose abandonou o palco alegando problemas vocais o estádio explodiu! Não houve mortos, mas a violência descontrolada dos motins alastrou para as ruas da cidade. Vandalismo, pilhagem, incêndios. As forças de segurança demoraram horas a restabelecer a normalidade.
Woodstock ’99, 1999 – Nova Iorque | A perversão completa do idealismo pacifista do festival original, em 1969. Desde logo, temperaturas elevadíssimas levaram várias pessoas a ser tratadas por exaustão derivada do calor. A água era vendida a preço exorbitante, as “casas de banho” eram notoriamente insuficientes para as 200,000 pessoas ali presentes. Instalou-se um ambiente de tensão que explodiu na noite de Sábado, a 24 de Julho. Durante o concerto de Limp Bizkit foram provocados incêndios, o vandalismo escalou e uma mulher acabou violada por um grupo de indivíduos no mosh pit. A polícia investigaria ainda outros quatro casos de violação após o concerto.
Roskilde Festival, 2000 – Roskilde | 50,000 pessoas estavam no festival dinamarquês, principalmente, para ver Pearl Jam. A meio do set da banda, a multidão carregou para tentar aproximar-se do palco, esmagando aqueles que estavam junto das barreiras do palco. 9 pessoas acabaram por sucumbir à pressão, morrendo por asfixia. Em memória da tragédia, os Pearl Jam escreveram na letra de “Love Boat Captain” a frase «Lost nine friends we’ll never know… two years ago today».
Great White, 2003 – West Warwick | Os Great White andavam em tour a fazer pela vida, duas décadas depois do seu período áureo. A pequena sala do Station Nightclub estava lotada para lá da sua capacidade. O tour manager da banda foi displicente a manusear os elementos pirotécnicos e deu origem a um fogo. O público demorou algum tempo a perceber que as chamas não faziam parte do espectáculo. Quando se tornou notório que havia fogo na sala, o pânico instalou-se e, na ânsia de chegar às portas, a multidão esmagou e espezinhou pessoas que cairam. 100 pessoas acabaram por morrer por sufocação, inalação de fumo ou queimadas pelo fogo, incluindo Ty Longley, o guitarrista da banda.
Family Values Tour, 2006 – Atlanta | Um profundo exercício de estupidez acabou num homicídio. Devido a excesso de álcool, vários fãs presentes no anfiteatro HiFi Buys, onde os Korn seriam headliners, foram provocando desacatos entre o público. Durante o concerto dos Deftones, dois indivíduos pegaram-se em pancada. Relatos do sucedido indicam que tudo começou porque Michael Scott Axley roubou o boné a Andy Richardson, que já teria pedido a Axley que tivesse cuidado com a mulher grávida e a criança que o acompanhavam. Axley acabou por esmurrar violentamente Richardson que, ao bater com a cabeça no chão, morreu. Axley acabou preso.
Love Parade, 2010 – Duisburg | Estima-se que 1,400,000 pessoas (outras fontes indicam menos) “invadiram” a cidade. Devido à concentração de pessoas junto a um túnel que dava acesso à área de concertos, instalou-se o pânico entre a multidão. A entrada no festival ainda estava vedada, mas continuavam a chegar pessoas para entrar, enchendo o túnel e pressionando aqueles na frente. Alguns procuraram escalar os muros, acabando por cair, para escapar ao caos. No total, morreram 19 pessoas no local e duas acabaram por morrer no hospital.