[Entrevista Exclusiva] O ADN de Eddie Van Halen
Eddie Van Halen numa extensa entrevista sobre a sua filosofia sonora, os produtos EVH e os Van Halen!
Em 11 anos de Arte Sonora, um dos dias mais felizes foi quando recebemos a confirmação que teríamos o privilégio de fazer parte de um grupo de publicações a nível mundial com direito a fazer algumas perguntas a Eddie Van Halen. Não era o cenário mais íntimo, mas não deixava de ser um tremendo exclusivo: ser a primeira publicação portuguesa a poder fazer uma entrevista com, como disse Tom Morello, «o Mozart da nossa geração».
Assim que a EVH Gear confirmou que estaríamos ao telefone com o próprio Homem, foi difícil silenciar a excitação. O último Guitar God! Responderia a todas as questões reunidas pelos jornalistas europeus escolhidos para a conversa ou apenas a algumas? E o que poderia um maçarico perguntar-lhe? A título pessoal, jamais me esquecerei desse dia. 13 de Abril de 2016, pouco menos de um mês antes do meu primeiro filhote nascer. O Benfica de Rui Vitória, no Estádio da Luz, fez suar o Bayern de Guardiola na Liga dos Campeões e, num dia normal, teria estado a sofrer no estádio ou diante do televisor. Mas não era um dia normal e estava ainda mais ansioso do que normalmente se sente um adepto de futebol a ver um jogo importante da sua equipa.
Entrei em linha e cumprimentei colegas jornalistas e o Eddie. Fiquei a gravar a conversa e a tirar as minhas notas, até chegar a altura de fazer as perguntas a que tinha direito. Apresentei-me e à AS, excitadíssimo: «Olá, Eddie». Simpático e directo, disse: «Wow, acho que Portugal é uma estreia». Referia-se a uma entrevista para o nosso país. Não o posso confirmar, acredito que sim. Afinal, os Van Halen apenas tocaram uma vez no nosso país e a reboque dos Bon Jovi… Nesse dia soubemos que estávamos a fazer tudo bem e todo o esforço nos maus momentos estava a ser compensado.
Eddie Van Halen pegou no telefone e, durante mais de uma hora, falou sobre tudo e mais alguma coisa. Sobre o seu som e o som de Van Halen, sobre cada detalhe do seu som de guitarra e amps e a enorme paixão e compromisso que imprimiu na EVH Gear, a sua própria marca. Sabe-se, hoje, depois de termos dado a notícia que não queríamos dar, que foi a sua última grande entrevista (partilhada por algumas, poucas publicações em todo o mundo).
Um compromisso que reflecte a sua própria demanda sonora que, como o próprio refere em relação ao novo, na altura, 5150 IIIS, «é algo constante, evoluir está na natureza humana. Por exemplo, gosto da mudança do 5150 III para o 5150 IIIS, queria que o segundo canal e o terceiro partilhassem o mesmo som e qualidade».
O guitarrista, que foi sempre explicando a sua filosofia sonora com exemplos concretos que se reflectem no equipamento, continua a ideia: «Ainda que muita gente aprecie o facto do segundo canal ter uma ligeira diferença de qualidade sonora, pessoalmente, queria poder alternar entre o canal dois de ritmo e o terceiro para solos e não ouvir qualquer alteração sonora. Podes ter o melhor de dois mundos, passe a expressão. Usei o III antes de desenvolvermos o S, mas agora este é o meu amp principal. Na última digressão tive, provavelmente, o meu melhor som de sempre ao vivo. Os técnicos de sala diziam repetidamente que eu era o único tipo que não lhes dava qualquer trabalho, bastava micar-me pois soava de forma incrível. Isso é testemunho do som, qualidade e essência dos amps 5150. Mas estamos sempre a procurar ir mais longe».
É algo que está no meu ADN, estarei sempre numa demanda sonora, para mim tudo tem a ver com som.
Além do orgulho nos seus produtos, Eddie comentou também tópicos delicados (de um ponto de vista de marketing) como o emparelhamento das guitarras e amps EVH. Se soam melhor usados, exclusivamente, em conjunto ou se são mais-valias por si só. O guitarrista deixou de lado o politicamente correcto para afirmar que se «pode tocar qualquer guitarra através de um 5150 e ter um som de qualidade. Prefiro a Wolfgang porque é a minha guitarra, mas os amps estão feitos para que qualquer guitarrista os use». Claro que acabam por ser duas ferramentas simbióticas, profundamente ligadas ao próprio som do guitarrista e ao som da banda.
Sobre a chave da sua filosofia sonora, confessa: «É algo que está no meu ADN, estarei sempre numa demanda sonora, para mim tudo tem a ver com som. É algo natural, mas algo que também tens que trabalhar para o desenvolver, usando diferentes tipos de equipamento. Por exemplo, foi por isso que criei a “Frankenstein”, pois nenhuma outra guitarra soava a assim. Precisava das ferramentas, obviamente, para executar o que tinha em mente». Foi, precisamente, pelas guitarras e pela Frankenstrat que começámos uma viagem ao âmago da filosofia sonora de uma das maiores lendas da guitarra eléctrica…
Com a Frankenstrat criaste, com liberdade de pensamento, um modelo de guitarra DIY. Antes de obteres os resultados que conhecemos, cometeste muitos erros?
Cometi muitos erros. O modelo de guitarra do it yourself surgiu porque nada do que se vendia em loja fazia o que eu queria fazer. Basicamente, queria cruzar uma Strat com vibrato com um som Gibson. Então coloquei um humbucker numa Strat. Claro que, ao desmontar a Strat, não fazia ideia de como tornar a ligar tudo de volta, para um circuito com comutador de três posições e com três potenciómetros. Então pensei se funcionaria se ligasse apenas o pickup humbucker directamente a um potenciómetro. E funcionou. BOOM! Estava feito e fiquei feliz. Na guitarra original preta e branca, no primeiro álbum, delineei um pickguard de Strat e fi-lo em plástico, apenas para tapar os buracos. Os erros foram sobretudo por não saber como tornar a montar tudo de volta. Mas foram excelentes erros porque, durante anos, tudo o que precisava realmente era do pickup de baixo, era essa a minha preferência na altura. Foi esse o erro com o single-coil no braço, não conseguia perceber como ligá-lo. A experimentação surgiu por necessidade e nunca estudei coisas sobre electrónica, aliás nunca estudei sobre música no geral. Nem para tocar, nada. Não li livros nem tive aulas e aprendi, de facto, da forma mais árdua. Lembro-me de abrir o meu Plexi uma vez para perceber no que podia mexer lá dentro, se havia algo que podia manipular e dar mais potência. E encontrei esta espécie de pequeno slide, que descobri mais tarde ser o controlo bias do amp, e decidi puxá-lo ao máximo para ver o que acontecia. A minha mão, com a chave de fendas, escorregou e toquei nesta enorme coisa azul que, mais tarde, descobri ser o capacitador, que mantém a voltagem mesmo quando o amp está desligado. Fui atirado de um lado ao outro da sala e quase tive um ataque cardíaco. Em retrospectiva parece ter graça. Pelo menos, desde aí comecei a usar calçado e luvas de borracha. Foi tudo tentativa e erro e fiz explodir coisas em casa, repetidamente.
No início, mudavas constantemente a guitarra. Era para que não te copiassem? Nesse sentido, o que te fez criar modelos de assinatura e até réplicas, passando de «não copiem as minhas coisas» para «aqui está»?
Nunca se tratou de fazer alterações para impedir que as pessoas me copiassem. Fui fazendo alterações para procurar evoluir para melhor. Mas a razão principal porque oferecemos as guitarras Striped Series é porque há imensas marcas a vender as suas guitarras usando o meu nome e acabamento sem a minha aprovação e sem que eu tenha estado envolvido de alguma forma com a construção. Sem sequer ter a oportunidade de observar a guitarra, para perceber se presta para alguma coisa ou não. Ao perceber a procura pelas guitarras “listadas”, pensámos porque não haveríamos nós de as fazer. Essa é a principal razão.
Existem agora melhoramentos nas réplicas que gostarias de ter aplicado nos anos 70/80?
Há um. Se soubesse como soldar os componentes isso tinha sido uma enorme ajuda. Ter solda fria e não fazer ideia de como funciona? Não descobri isso até muito mais tarde. Obviamente, hoje estão muito mais refinadas, apresentam uma pintura profissional, ao invés do péssimo trabalho que fiz. A cabeça do truss rod é facilmente acessível, tal como na Wolfgang, em vez de ter que desmontar o braço para o ajustar – algo que nunca percebi, pois quando acabas de ajustá-lo e instalá-lo na guitarra as cordas e a tensão precisam logo reajustamento. Tens que tornar a desmontá-lo e a refazer tudo. Agora temos uma versão mais refinada que a Frankenstrat original.
E quanto permanece dessas primeiras guitarras nas réplicas e nas Wolfgang?
Diria que permanece tudo. Comecei com essa guitarra e todos os elementos que dizem respeito à sonoridade e resposta à forma de tocar estão naquilo a que chegámos hoje em dia. Isso foi apenas o ponto de partida…
A entrevista está integralmente disponível na AS#59. Alargando-se por várias páginas, com Eddie a falar de mitos como a criação dos tremolos Floyd Rose ou do Brown Sound. A REVISTA NÃO É VENDIDA EM BANCA, ESTÁ À VENDA, EXCLUSIVAMENTE NO NOSSO SITE: VISITA A NOSSA LOJA.
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