ENTREVISTA | Thisquietarmy: Um homem. 50kg de equipamento.
Thisquietarmy (ou Eric Quach) é oriundo do Canadá mas viaja em direção ao Sabotage Club, em Lisboa, para um concerto dia 14 de Março.
Foto: Manon Cornieux
O criador de música experimental fabrica paisagens sonoras com um minimalismo repetitivo, variadas camadas de texturas e beats eletrónicos industriais. Estivemos à conversa com o canadiano que já soma mais de 500 concertos na bagageira e desvendámos alguns detalhes sobre a sua digressão, os processos aplicados nas performances ao vivo ou a realidade da cena musical no Canadá.
AS: Qual é o equipamento que transportas contigo durante uma digressão?
Demasiado, para o meu próprio bem, o que dificulta um pouco viajar apesar de ser apenas uma pessoa. Na maioria das vezes, tenho a minha Fender Jaguar, 17 pedais de efeitos/unidades e um mixer. Normalmente toco diretamente através do PA da sala se providenciar poder de amplificação e monição adequada, e também levo o meu portátil para os visuais. Por isso, por volta de 50kg de equipamento e todo o merch que conseguir levar.
AS: Usualmente improvisas nos teus concertos. Estás a planear fazê-lo nos próximos espectáculos na Europa?
É uma mistura entre improvisações e estruturas. A percentagem do que é improvisado varia muito de acordo com o contexto do concerto, o sistema de som, a intenção, a atmosfera do espaço, o meu estado de espírito, etc. Por exemplo, é fácil para mim estar motivado para tocar um set improvisado quando estou a tocar num local onde o som espacial da arquitetura adiciona outras dimensões ao meu som. Mas é mais fácil tocar um set estruturado com faixas que eu sei que são mais acessíveis quando estou a abrir para uma banda mais reconhecida, que tem um tipo de público diferente.
AS: A tua discografia é enorme. Algum truque específico para definir a setlist?
Álbuns de estúdio e performances ao vivo são dois meios de expressão completamente diferentes para mim. As performances ao vivo são muito limitadas em termos do que consigo tocar porque grande parte da minha performance é tocada em tempo-real. Se eu quisesse realmente recriar com exatidão a mesma sonoridade ao vivo seria como uma festa de escuta a partir de um portátil. No estúdio, as minhas peças são à base de improvisação mas depois são cortadas, editadas, moldadas e transformadas em algo novo. Posso ainda adicionar mais camadas e overdubs, desconstruir e reconstruir a peça por completo. O processo pode ser infinito, mas a versão final tem que me soar bem depois de todas as alterações necessárias. As performances ao vivo são na verdade re-interpretações e re-trabalhos de faixas finalizadas, e tenho que perceber como adaptá-las no contexto ao vivo com ferramentas limitadas. Algumas funcionam mesmo bem, e já as toco há anos, sei que têm um forte impacto no set e na manipulação de emoções do público. No entanto, em vez de tocar versões inferiores de músicas de estúdio específicas que estão completas como são, prefiro improvisar uma nova peça ao vivo, e vou procurando formas diferentes dentro do decurso da digressão. Eventualmente, transformam-se em ideias quando chega a altura de gravar novo trabalho.
Álbuns de estúdio e performances ao vivo são dois meios de expressão completamente diferentes para mim…
AS: Como é a cena musical no Canadá?
A cena é fragmentada e um pouco não-existente. Sempre foi, porque é um país muito largo com o tamanho da Europa e com a população de Tóquio. Consequentemente, há uma enorme distância entre as cidades principais e pouco a acontecer pelo meio. É difícil estar ligado nesse sentido, e saber o que se está a passar nas outras partes do Canadá. Tenho a certeza que há imensa coisa a acontecer em todo o lado, mas muita da música interessante tende a desaparecer antes de ser descoberta e as tentativas de interligação em comunidade são abandonadas rapidamente. Não existe muito interesse em música experimental em nenhum local, a não ser que te tentes exportar a ti próprio. É por isso que pessoas de todo o mundo pensam que temos uma boa cena musical, porque vêm muitos canadianos tocar nos seus países e é isso que têm que fazer se quiserem manter a sua arte viva e relevante, mas a verdade é que existem muitos canadianos que nunca ouviram falar de mim.
AS: O que é que sabes/conheces sobre música Portuguesa?
Não muito. Apenas as bandas com que cruzei caminhos na estrada como os Katabatic, 10000 Russos, Process of Guilt, e alguns artistas/bandas que me contactaram porque os inspirei de alguma forma.
Consulta, aqui, a programação completa do mês de Março no Sabotage.