Fender, California Girls
Regressámos, a convite da Fender, ao local de lendas da marca – a fábrica de Corona.
Devido a problemas de saúde, Leo Fender vendeu a Fender à CBS (1965). A pouca compreensão e falta de amor da gigante da comunicação pelo mundo da guitarra eléctrica foi desgastando a marca, mesmo numa altura em que a indústria dos instrumentos musicais estava no auge. Só em 1981 a CBS procurou reagir a isto, quando colocou William Shultz como presidente da Fender, mas logo em 1985 a CBS enfrentava uma crise financeira que ensombrava todos os seus negócios e, particularmente, a Fender.
1985, ANO DE INAUGURAÇÃO DA FÁBRICA DE CORONA
Shultz , o “segundo pai” da Fender, reuniu um pequeno grupo de investidores e funcionários apaixonados pela marca e comprou-a. Os instrumentos lendários passavam novamente a fazer parte de uma empresa apaixonada por eles, mas a FMIC (Fender Musical Instruments Corporation). O primeiro grande passo foi construir a fábrica americana. Ali iriam trabalhar alguns funcionários que estavam com a Fender desde os tempos de Leo, o que ia permitir um maior controlo de qualidade e a integração da extraordinária Custom Shop. Com todo o investimento feito e com a necessidade de reabilitar a marca aos olhos dos músicos, Corona tornou-se um local de exigência, de excelência e de instrumentos cujo preço obedece a essas premissas.
1987, ANO DE CHEGADA DA CUSTOM SHOP A CORONA
A primeira parte da visita leva-nos ao sector de corte e estampagem dos pickguards, aí o trabalho é feito recorrendo às máquinas de corte originais! Às primeiras que Leo Fender comprou e nas quais terá trabalhado! Não há muito glamour em trabalhar na fábrica da Fender, na verdade não deve haver muito glamour em trabalhar em fábrica nenhuma, mas enquanto avançamos pela área dos blocos que serão as escalas e os braços, onde vão ser inseridos os truss rods e é colada aquela madeira que irá acolher bendings, tapping, slide… Bom, os operários estão a trabalhar no duro, mas nós vemos os fantasmas de Hendrix ou de Stevie Ray Vaughan a tocarem aqueles blocos de madeira. Que magia há num quadrado maciço de madeira? Que voodoo? Não é o Diabo que o constrói na crossroads do blues, são pessoas, normais, concentradas. Mas ao tocar nos blocos de madeira, após o primeiro polimento que receberam, ainda antes do recorte dos contornos faz suspirar profundamente…
22 DIAS É O TEMPO QUE, EM MÉDIA, UMA GUITARRA DEMORA A SER FEITA EM CORONA
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Mas a magia que aqui se vive obedece a rigor metodológico. Há uma parede com o catálogo dos perfis de braço de cada um dos modelos Fender, lêem-se os nomes de James Burton, Eric Clapton, Geddy Lee, Jaco Pastorius, etc. São os braços completos que estabelecem o padrão para os modelos em produção. O controlo de qualidade é espartano em Corona, e há muitos braços derrotados pela exigência, colocados de lado.
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Não existe, exactamente, uma linha de montagem em Corona. Há convergências, para satisfazer necessidades de mercado, mas muitos dos trabalhadores da fábrica americana podem, a qualquer momento, abandonar o seu posto para se dedicarem a um pedido específico. Faz parte do seu treino. E essa é a antecâmara do local de lendas. O preâmbulo da Custom Shop. Depois de demonstrarem cuidado e talento nas várias funções, os funcionários podem ser escolhidos para aprendizes dos Master Builders, para o santuário onde trabalham John Cruz, Greg Fessler, Todd Krause, Jason Smith ou Dennis Galuzka.
400 GUITARRAS SÃO CONSTRUÍDAS, EM MÉDIA, A CADA DIA
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