Pedro Paixão, dicas de produção
O multi-instrumentista dos Moonspell partilhou-nos perspectivas sobre composição e produção.
Os Moonspell encontravam-se em estúdio a gravar o sucessor de “Alpha Noir”. Quando esse álbum saiu, a AS teve a oportunidade de passar longas horas à conversa com o multi-instrumentista da banda, Pedro Paixão. Nessa altura, apesar de várias páginas de entrevista, houve partes que acabaram por não surgir na versão final. Num dia em que o músico celebra o seu aniversário, recordamos algumas noções importantes de composição, produção e evolução em ambos os conceitos, na perspectiva de Pedro Paixão.
Não queiram fazer o melhor som do mundo sem trabalhar na composição, porque é impossível.
FEELING vs. HI-FI | Acho importante notar-se a não-distinção entre o factor musical de composição e o som. É importante que as bandas, mais do que os músicos, compreendam que não se pode querer um som muito diferente do que é a sua génese. E a nossa [Moonspell] procura foi dessa honestidade e dessa pureza, portanto, tentar encontrar o som como nós normalmente soamos. Como soamos ao vivo, como soamos em ensaio, como soamos como pessoas. Não queiram fazer o melhor som do mundo sem trabalhar na composição, porque é impossível. Podes ter dez coisas que soam muito bem individualmente, mas depois quando juntas todas é mais difícil. Quanto mais pior. Portanto, quanto mais perto da simplicidade, em geral, resulta mais.
COMPOSIÇÃO | A compor, no caso do “Alpha Noir”, optámos mesmo por não complicar um riff. Um riff é um riff, foi esta a nossa atitude. Não quer dizer que seja esta a atitude a tomar sempre, mas num projecto deste género tentámos ser fiéis àquilo que nos propúnhamos. E isso vem da composição, em primeiro lugar, e o som aparece como uma consequência e tem de ser uma ferramenta que potencie essa composição. Daí que tenhamos trabalhado com um produtor musical, para trabalhar as músicas, e para as tornar musicalmente mais apelativas, com a mensagem a ser mais clara. Como dizia o Pete Steele: «Nós damos o carvão para ele polir e tornar aquilo em diamante ou numa pedra lustrosa». E depois o produtor sonoro tem precisamente que potenciar.
Devemos sentir o máximo de experiências possíveis, como artistas, como músicos, como compositores, isso é de uma importância extrema.
INFLUÊNCIAS vs ESTAGNAÇÃO | Queria ressalvar a importância de se olhar para a frente. As pessoas, nomeadamente a nossa geração, têm tendência para ficar agarradas aos itens do passado, aos marcos que se desenvolveram musicalmente. Isso é uma coisa natural, e que acho perfeitamente positiva, mas não deve impedir que a pessoa continue a ouvir música nova e artes novas, de procurar sensações novas e coisas que nunca foram feitas. Independentemente de gostar-se ou não das novas tendências, porque há sempre pessoas com talento, e há sempre bandas com novos projectos, e há sempre música que te leva mais além do que o ponto a que já chegaste. E isso é muito importante como músico, não ficar parado num ponto. Também adoro ouvir as minhas bandas do passado, se fizer um top 10 das músicas que oiço, se calhar, nas dez aparecem bandas com álbuns com mais de dez anos, mas a verdade é que faço um esforço para continuar a acompanhar várias tendências musicais, dentro do metal, dentro do rock, e dentro de outros estilos, porque sentir é algo que nós não devemos oprimir. Devemos sentir o máximo de experiências possíveis, como artistas, como músicos, como compositores, isso é de uma importância extrema.
Carrega na imagem para veres a galeria. Fotos: Joana Cardoso
ARTE COMO RETRATO | Só inovação no teu ouvido te vai dar também inovação na forma como transcreves os sentimentos e causar realmente surpresa ou uma emoção nunca antes sentida no receptor. E aí sim, está-se a fazer verdadeiramente arte, e essa pertinência artística é aquilo que procuramos. Fazer repetições… Há álbuns de bandas que continuam a fazer sempre o mesmo som e ficam bons álbuns, mas a sensação de ouvir aquele álbum, naquele momento, nunca mais vai ser repetida. Tens é que criar outro álbum para este momento!
Foto de entrada: ©João P. Nogueira