Quantcast
Rammstein & Taylor Swift: Uma análise às duas das maiores produções ao vivo da actualidade

Rammstein & Taylor Swift: Uma análise às duas das maiores produções ao vivo da actualidade

Rodrigo Baptista
1.Inês Barrau - 2.TAS RIGHTS MANAGEMENT

Depois de termos visto os Rammstein, em 2023, na sua “Stadium Tour”, e agora, Taylor Swift na “The Eras Tour”, não restam dúvidas de que estas são duas das maiores produções ao vivo que se encontram neste momento na estrada. Numa análise ao behind the scenes das duas tours, apresentamos aqui números, factos e curiosidades que sustentam que estamos perante os dois maiores espectáculos musicais da actualidade.

Situados em espectros opostos do panorama musical, os Rammstein e Taylor Swift são um autêntico caso de estudo no sector dos concertos ao vivo. Superando as produções de bandas e artistas como Metallica, U2, Coldplay, The Weeknd, Ed Sheeran ou Beyoncé, em recursos humanos, materiais e, num dos casos, rentabilidade, são muitos os números que diferenciam e elevam a “Stadium Tour” da banda alemã e a “The Eras Tour” da estrela pop norte-americana.

RAMMSTEIN STADIUM TOUR

Nesta que é a sua primeira tour de estádios, os Rammstein propuseram-se a desenvolver uma produção capaz de superar todas as outras que já tinham apresentado nas arenas de todo o mundo ao longo dos últimos 20 anos. Apesar de ter sido iniciada em 2019, com vista à promoção do álbum homónimo, editado nesse mesmo ano, a tour ainda encontra-se na estrada até 31 de Julho de 2024, agora também em promoção do álbum “Zeit” (2022). No fim desta jornada, os Rammstein contarão com 141 concertos distribuídos por cinco legs que se limitaram a passar pela Europa e América do Norte. Para a posteridade, fica a passagem da “Stadium Tour” por Portugal, marcando assim o regresso da banda alemã ao nosso país após um período de espera de 10 anos. O concerto aconteceu no Estádio da Luz, em Lisboa, a 26 de Junho de 2023.

Os Números

O aspecto mais impactante da “Stadium Tour”, além da já reconhecida pirotecnia, prende-se com a dimensão e o design complexo que esta produção exige. Os números apresentados são deveras impressionantes e revelam um palco com 36m de altura e 60m de largura. Segundo uma entrevista que Bruno Fernandes, o português que trabalha como coordenador de produção dos Rammstein, deu ao podcast “Manhãs MyGIG” após o concerto dos Rammstein em Lisboa, o transporte do palco de país em país e cidade em cidade é feito em 93 camiões. No que diz respeito aos recursos humanos, Bruno revelou que a “Stadium Tour” dos Rammstein faz-se acompanhar de 203 elementos na equipa fixa de produção e 200 a 300 elementos de uma equipa contratada localmente para cada data. Já em termos de tempo de montagem e desmontagem do palco da “Stadium Tour”, são necessários cerca de quatro dias para colocar tudo de pé e um dia e meio para desmontar.

Nessa mesma entrevista o coordenador de produção revelou ainda uma história caricata que demonstra bem a dimensão e os números da produção da banda alemã. Em 2020, quando Bruno se sentou à mesa com a empresa que trata do transporte do equipamento da tour para determinar o que seria mais viável em termos de custos e praticidade, verificou que tinham apenas duas semanas a separar uma das legs europeias da leg norte-americana de 2022. Ciente de que o transporte por mar não seria compatível com a janela temporal decidiu, juntamente com os seus colegas de equipa, aligar sete Boeings 747 para realizar esse transporte. Bruno revela que foi nesse momento que se apercebeu que estava a lidar com uma produção estratosférica.

Por fim, para fechar a informação relativa aos números, importa referir que entre 2019 e 2022 os Rammstein conseguiram faturar 348 116 073$ (cerca de 321 081 048€) com a sua “Stadium Tour”. Não conseguimos apurar valores arrecadados em 2023 e 2024, mas o mais certo é que banda alemã tenha duplicado esse valor.

 O Palco

Centremo-nos agora no imponente palco da “Stadium Tour”. Desenvolvido numa parceria entre três empresas: Stageco, Brilliant Stages e WIcreations, este apresenta-se como uma monumental obra de engenharia e design.  A estrutura da grande torre central foi feita pela Stageco com recurso a aço preto. A mesma empresa também forneceu duas torres de PA de 23 m de altura para o palco juntamente com duas coberturas transparentes personalizadas, cada uma apoiada em quatro colunas que abrigam cabelagem para efeitos pirotécnicos. A Stageco forneceu ainda quatro torres de delay, risers de controlo FOH e todo o deck do palco. Por sua vez, a base do palco foi criada pela Brilliant Stages, que desenvolveu um palco Rolling House, bunkers tecnológicos, risers para a banda e para a bateria.
A empresa usou 150 m de tecido PUFC preto para garantir que todo o sistema fosse impermeabilizado, pois é um palco sem cobertura. Todo o palco foi coberto com Yorgrip, um alumínio especializado de alta aderência com um acabamento resistente e à prova de chamas, permitindo assim aos Rammstein a realização do seu espectáculo característico. Além dos elementos já mencionados, a Brilliant Stages também criou um elevador de palco multieixo capaz de levantar 500 kg que pode funcionar como uma rampa ou um elevador numa única unidade. Por fim, a WIcreations forneceu vários elementos de automação. Devido à magnitude da produção, a empresa optou por integrar o seu novo sistema WImotion, que proporcionou controlos precisos e sincronização de talhas de corrente móveis individuais e em grupo, usando o sistema SIL3 de monitorização de posição de grupo. A peça central da torre é uma tela de vídeo LED de 5 m por 9 m com capacidade de se mover para cima e para baixo na estrutura. A WIcreations também forneceu uma plataforma elevatória panorâmica que eleva todos os seis membros da banda 26 m acima do palco durante os fogos de artifício do final do concerto. Um total de 10 talhas SIL3 WImotion de 1.250 kg foram usadas para mover a tela de vídeo e a plataforma elevatória.

O Som

Com um volume sonoro que pode chegar aos 100 decibéis e facilmente escutado num raio de 15 km, os Rammstein têm no sistema de som uma da mais importantes valências da sua produção ao vivo. Para a “Stadium Tour” foi necessário fazer alguns ajustes, pois a passagem das arenas para estádios assim o exigiu. Com vista a uma resposta favorável ao estilo de mistura dos Rammstein que favorece uma ampla gama dinâmica, Olsen Involtini, técnico de FOH dos Rammstein, reuniu com Nick Pain, director da Audio Crew, para discutir a utilização de um sistema de PA capaz de suportar todas as exigências sonoras sem colocá-lo numa posição de esforço sónico. O resultado foi então a implementação de dois arrays principais de 18 L-Acoustics K1s e quatro K2s, com configuração lateral de 20 K1s e quatro K2s. Vinte subwoofers K1 foram suspensos ao lado do PA principal com mais 68 KS28s no chão. O preenchimento foi completado com 16 Karas com 16 ARC IIs para preenchimento frontal. Já a configuração das torres de delay varia consoante o local, mas o normal são quatro matrizes de 18 K1s e duas K2s. Todo o sistema é alimentado com LA12Xs, com quatro racks Triple 27u para o PA principal e subwoofers e quatro racks duplas 27u e oito racks únicas de 18u para os sistemas de delay. O fornecimento de todo este equipamento coube ao SSE Audio Group.

Porém, para que o equipamento funcionasse sem falhas ao nível do sinal, foi necessário desenvolver uma parceria com as empresas Luminex e L-Acoustics. Os switches GigaCore da Luminex forneceram a espinha dorsal da rede para o sistema, com 17 switches GigaCore 26i usados ​​para criar um sistema compatível capaz de suportar o enorme sistema de áudio.

O Vídeo 

De todos os elementos utilizados na produção da “Stadium Tour”, o vídeo foi aquele que menos impacto causou. Ainda assim, deixamos aqui algumas informações pertinentes sobre esta componente do espectáculo.

Com uma única tela anexada à torre central, este apresenta-se como um elemento adicional à já complexa produção dos Rammstein. A tela foi fornecida pela Solotech, a partir de um produto presente no seu catálogo: uma tela Saco 9mm. Para ajudar na integração da tela, todo as placas blackout foram retiradas da parte de trás, criando assim uma superfície semitransparente. Além das projeções animadas, a tela também é utilizada para mostrar imagens em tempo real do concerto. Para esse fim, são utilizadas duas câmaras com objetiva de longo alcance situadas na FOH e uma no pit, e várias câmaras robô para captar imagens mais próximas do teclista Christian ‘Flake’ Lorenz e do baixista Oliver Riedel. Por detrás do baterista Christoph Schneider está também um set up de câmaras Waterbird. O equipamento consiste num sistema Waterbird Multi Slider XL 3m com unidade de controle XL e controlador HMI com pedais.

(c) Inês Barrau

A Pirotecnia 

Para muitos fãs, o elemento mais importante de um concerto de Rammstein, a seguir à música, é a pirotecnia. Como já vem sendo habitual nas tours da banda, a pirotecnia na “Stadium Tour” ficou, mais uma vez, a cargo da FFP, empresa de efeitos especiais dirigida pelo responsável da produção dos Rammstein, Nicolai Sabottka. A FFP surgiu como uma resposta natural às necessidades da banda e hoje em dia apresenta-se como um elemento essencial aos concertos dos Rammstein. Aliás, a banda alemã faz mesmo questão de escrever nos contratos que sem pirotecnia não há espectáculo.

A ajudar Sabottka no departamento pirotécnico está Marcin Okupnik, que ocupou o lugar de chefe de equipa na entourage da banda durante vários anos. A eles junta-se também Daniel Hoffmann, que lidera a equipa de P&D da empresa e teve a responsabilidade de produzir muitos dos efeitos observados ao longo
do epectáculo. Por fim, temos Alexander Hammel, que co-projetou e programou o espectáculo pirotécnico. Hammel é também o responsável por disparar os efeitos pirotécnicos todas as noites. O controlo dos efeitos é realizado com recurso a um sistema Galaxis Advance e uma mesa MA Lighting dot2.

(c) Inês Barrau

THE ERAS TOUR – TAYLOR SWIFT

Os Números

Descrita como a tour de greatest hits de uma artista que ainda se encontra no auge, a “The Eras Tour” é sem dúvida nenhuma o projeto mais ambicioso que Taylor Swift alguma vez abraçou nestes 18 anos de carreira. Desenhada em parceria com o director criativo e designer de produção Ethan Tobman e com a sua produção a cargo da própria empresa da estrela pop norte-americana, Taylor Swift Touring, a “The Eras Tour” proporciona ao fãs um espetáculo de 3h e 15m, com 44 músicas provenientes de 10 álbuns, ou melhor, eras, 16 trocas de roupa, 15 bailarinos e uma banda de seis músicos e quatro vocalistas de apoio. A tour teve início em Março de 2023 e só terminará em Dezembro de 2024. No fim, serão contabilizados 152 concertos. À semelhança da “Stadium Tour” dos Rammstein, também a “The Eras Tour” passou por Portugal, e pelo Estádio da Luz, em Lisboa, para dois concertos completamente esgotados nos dias 24 e 25 de Maio de 2024. Para a história, fica também o filme concerto “Taylor Swift: The Eras Tour”, que capta o concerto que a artista deu no SoFi Stadium, em Los Angeles, e que se revelou um enorme sucesso nas bilheteiras de cinema de todo o mundo.

Já no que diz respeito aos valores monetários arrecadados, a “The Eras Tour” é a primeira tour na história a ultrapassar um bilião de dólares em receitas, tornando-se assim na mais rentável de todos os tempos.

O Palco

Com mais de 100 metros de comprimento, o palco da “The Eras Tour” é o maior que Taylor Swift já alguma utilizou nas suas tours. Além do palco base, situado num dos topos do estádio, existe ainda uma passadeira que se desdobra até ao meio do estádio e que se divide em duas secções, uma zona central em forma de diamante e uma zona, na parte mais dianteira, em forma de T. O palco está equipado com uma plataforma hidráulica, sendo que as zonas principal e intermediária possuem blocos móveis que se elevam ao centro para formar plataformas de diversos formatos. Ao todo são necessários 90 camiões para fazerem o transporte não só do palco, mas também dos equipamentos de som e iluminação, cenários e displays digitais para cada local.

Créditos: Lim Kaili

O Som

No que diz respeito ao equipamento de som foi necessário ter uma atenção especial tendo em vista a tipologia dos lugares vendidos na “The Eras Tour”. Com alguns swifties a dispor de bilhetes para lugares que se encontram ligeiramente atrás do palco, e que possuem apenas vista para a passadeira, foi necessário aplicar um sistema de PA composto por oito arrays, quatro no lado esquerdo e quatro no lado direito, para uma configuração sonora de, mais ou menos, 300º. Quanto ao conjunto de torres de delay, este é composto por quatro unidades, duas com dois arrays na zona intermédia da plateia, para servir as bancadas laterais do estádio, e duas com um array ao fundo da plateia para servir as últimas filas da plateia e toda a bancada de fundo.

O Vídeo 

Um dos grandes destaques da “The Eras Tour” é a extensa tela de vídeo LED, possivelmente uma Jumbotron, que cobre toda a largura do palco. Composta por vários painéis de grande resolução perfeitamente interligados, a tela permite várias configurações de projeção de animações e de imagens em tempo real do concerto. Por sua vez, também a base do palco, assim como toda a passadeira, estão cobertos com uma enorme tela de vídeo LED para ser utilizada como um recurso para projeções de vídeo mapping.

Créditos: Wikimedia Commons

A Tecnologia 

À semelhança daquilo que os Coldplay já tinham feito na sua “Music Of The Spheres World Tour”, que passou por Coimbra em 2023, também Taylor Swift decidiu trazer para a “The Eras Tour” as famosas pulseiras LED. Desenvolvidas pela PixMob, as pulseiras funcionam de duas formas: através de sinais de rádio frequência emitidos por uma mesa de luz que por sua vez está ligada a um transmissor ou através de infravermelhos cujo sinal é enviado através de transmissores robôs posicionados estrategicamente no palco e nas torres de delay.