Roteiro AS: Vodafone Mexefest
No final da semana, a música volta a mexer na cidade, e trazemos-te sugestões de concertos a não perder.
Passam-se os anos e, sem surpresas, o Mexefest permanece uma das mais interessantes ofertas em matéria de festivais fora de época. Não obstante as inevitáveis variações de nível de cartaz, o evento mantém vasto o leque de estilos e proveniências, promove a saudável deslocação entre as várias salas da Avenida da Liberdade e, talvez o mais importante, lança artistas de mérito directamente para os alinhamentos de festivais de maior porte no país, o caso de Petite Noire, Savages, King Gizzard & the Lizard Wizard, Cloud Nothings, Sensible Soccers ou St. Vincent. 2016 não se fez excepção, pelo que traçamos aqui, com algumas alternativas possíveis, o caminho que deverão fazer os festivaleiros pelas intermináveis possibilidades que o coração de Lisboa proporciona – a começar pela música feita em Portugal e partindo depois para o resto do mundo.
Cantautores na Ribalta
Por muito que possa oferecer em termos de bandas e colectivos, o Mexefest não deixa de proporcionar belas oportunidades de conhecer alguns dos melhores projectos a solo activos em Portugal. No dia 25, espectros opostos dessa mesma vertente ocupam os palcos da Avenida: de um lado, a já veterana Lula Pena [19h30, Sociedade de Geografia de Lisboa] que, num registo acústico, une o autoral ao improvisado em longas passagens de uma melancolia irresistível; do outro, o lo-fi jovial de um Luís Severo [21h40, Palácio Foz] na vanguarda do movimento DIY português. O dia 26 dá a vez a Joana Barra Vaz [20h, Casa do Alentejo], outro recentemente descoberto talento a solo e à guitarra – também há espaço para o formato intimista na Liberdade.
Liberdade é Experimentalismo
Se os projectos a solo denunciam porventura uma faceta mais tradicional do português, registe-se que também há espaço para o moderno, o vanguardista e o experimental luso. À cabeça, no primeiro dia, estão Acid Acid [19h45, São Jorge – Montepio], projecto kraut-psych do radialista feito músico Tiago Castro, e o virtuosismo de Bruno Pernadas [21h, Tivoli], que vem apresentar a sua mais recente mescla de jazz e art-rock de nome “Those who throw objects at the crocodiles will be asked to retrieve them”. No dia seguinte, já perto do fim do evento, a dança instala-se com a electrónica infecciosa de Octa Push [23h30, Estação do Rossio], que também levam álbum novo na algibeira – “Língua”, lançado este ano.
As Damas de Vera Cruz
Num acontecimento sem precedentes na história do festival, os grandes nomes de peso do Mexefest 2016 são todos de origem brasileira – e todas mulheres. Do velho ao novo, a veteraníssima Elza Soares [22h10, Coliseu dos Recreios] contracena, no segundo dia de festival, com a estrela ascendente que é Mallu Magalhães [20h50, Tivoli], em Portugal como parte da digressão “Voz e Violão”. Já no primeiro dia, Céu [23h15, São Jorge – Manoel de Oliveira] apresenta a sua inortodoxa fusão da MPB e da electrónica – juntas, as três perfazem uma oportunidade rara de descobrir e testemunhar o que de melhor tem a oferecer o Brasil nas suas várias gerações de cantoras.
O Jazz e o R&B
Mais que um conflito de gerações, o Mexefest proporciona também uma confluência notável de géneros e proveniências. E o jazz e o R&B também estão representados, como não poderia deixar de ser: ao lado de Bruno Pernadas, um dos grandes expoentes do jazz no festival é o colectivo que dá pelo nome de TaxiWars [23h10, Casa do Alentejo], oriundo da Bélgica e liderado pelo frontman de dEUS, Tom Barman. Já a nova sensação da música negra americana, Gallant [20h20, Coliseu dos Recreios], tem sido chamado de “the next big thing in R&B” pelos colegas anglófonos, e promete ser um dos grandes destaques do evento – ambos no último dia de festival.
Cidade do Indie
Como bom festival urbano contemporâneo que é, o Mexefest não poderia deixar de albergar a corrente do indie rock, sempre à mão em eventos do tipo. O grande destaque vai para os nomes que, este ano, fizeram também parte do Vodafone Paredes de Coura, duas recentes revelações do género: de um lado, a simplicidade e pragmatismo dos Whitney [23h, Tivoli] no primeiro dia, que se impuseram como um dos actos a atentar este ano com “Light Upon the Lake”; do outro, o ex-baixista dos Woods e jovem prodígio musical Kevin Morby [21h10, Estação do Rossio] no segundo. Para além destes, outro baixista virá à capital apresentar o seu projecto a solo, o de Vampire Weekend desta feita: Baio [21h15, Estação do Rossio] vem apresentar “Endless Rhythm”, lançado no ano passado.
Psicadelismo que Mexe
Por fim, não faltarão motivos para se submergir no psicadelismo, ainda que ligeiro, que o Mexefest tem a oferecer. Das longínquas paragens da Austrália chegam-nos Jagwar Ma [00h25, Coliseu dos Recreios] para, no primeiro dia de festival, contagiarem o fim da noite dos festivaleiros com a electrónica fervente de “Howlin’”. Na mesma data, os novatos Sunflower Bean [23h20, Estação do Rossio], de Inglaterra, apresentam “Human Ceremony”, uma interessante mescla de indie, psicadelismo e pós-punk que tem dado que falar além fronteiras.
Os passes-gerais para o Vodafone Mexefest estão à venda pelo preço de 45€ até ao primeiro dia do evento, altura em que sobem para 50€.