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A Naifa

As Canções d'a Naifa

Parlophone, 2013-11-04

Redacção

“As Canções d´a Naifa” assinala os dez anos de carreira do grupo e, ao mesmo tempo, serve para lembrar os “poetas que não deixaram morrer a coragem”. Uma ode a Portugal e a divulgação das nossas origens que, apesar de serem nossas, muitas das vezes caem em esquecimento. Para essa missão o quinteto pretende fazer-se ouvir nas ruas, ecoando as palavras marcantes de grupos que os inspiraram a fazer música. Evitaram o cliché de marcar a primeira década de carreira com um Best Of. Decidiram embarcar por uma mensagem mais sincera e de agradecimento. Algumas destas interpretações podem já ser conhecidas pelo público que já viu o grupo ao vivo, mas a verdade é que esta é a primeira vez que são editadas e gravadas em qualquer tipo de formato fonográfico. Este trabalho reúne temas de artistas como Amália Rodrigues, em “Libertação”, José Mário Branco, com a marcante “Inquietação”, Três Tristes Tigres, e a profunda “Subida aos Céus”, ou até mesmo a emblemática canção de 1985, “Sentidos Pêsames”, dos GNR.

Soando a guitarra portuguesa, “Sentidos Pêsames” é precisamente a canção que abre este registo. Cheia de emoção, a voz característica de Maria Mendes assenta bastante bem no lirismo que o tema pretende transmitir. Em compasso mais corrido, “Bolero do Coronel Sensível que faz Amor em Monsanto” é marcada por tempos pausados e belas dedilhadas de fado. Em homenagem ao mais típico bairro lisboeta, e berço de grandes fadistas e inspirações, “Alfama” é uma carta aberta à comunidade que se assemelha em muito a uma pequena aldeia. Mostrando que a criatividade pode ser simples quando a paixão fala mais alto. Palavras marcadas evidentemente pela instrumentalização.

Para apresentar estas novas canções, feitas com a ajuda de Sandra Baptista no baixo e Samuel Palitos na bateria, o grupo decidiu-se por “Tourada” como primeiro single. O referencial de Fernando Tordo. A fasquia estava elevada, pois é daqueles temas que (assim como os outros) marcaram uma geração e já quase toda a gente o ouviu, pelo menos, uma vez na vida. O resultado final ficou deveras interessante, mostrando novos métodos e quase batendo o pé a uma nova fase que se adivinha. Um dos símbolos da revolução de Abril que, nos dias de hoje, parecem fazer cada vez mais sentido. Esse sentimento prossegue em “Libertação”, onde as linhas da repressão são contagiadas de forma progressiva. A luta termina com a leitura de “Inquietação”, original de José Mário Branco. Como não podia deixar de ser, é mais um tema de intervenção e revolução. Mais uma obra cultural de destino, dolência e melancolia. Onde a complexidade rítmica casa de forma sublime com sussurros que exprimem a apoquentação e o desassossego, exigindo o final das utopias actuais. “As Canções d´a Naifa” carimbam mais uma vez o selo de qualidade do projecto lisboeta. Com a qualidade musical que apresentam, espera-se que continuem por muitos mais anos a “esfaquear” o povo português com boa música e com o seu poder de icentivo a (r)evolução.