Adele, Essa Sentimentalona
2016-05-21, Meo Arena, LisboaAdele veio pela primeira vez a Portugal para duas noites esgotadas. A Arte Sonora este presente na primeira. A fórmula de Adele já não é nova. Boas canções, refrões simples e hiper sentimentalistas e uma grande voz. Faltava a prova dos nove ao vivo.
Prognósticos «só no final do jogo», no entanto há sempre ideias e expectativas. Para o concerto de Adele, a expectativa seria de aborrecimento, com tanta “pieguice” amorosa. A própria Adele advertiu o público, logo no início, que seria difícil divertirem-se neste concerto: «só tenho duas ou três músicas divertidas.» Saberia que Lisboa é cidade de fado e sabe de melodramas como ninguém?
Com “Hello” começa um noite triunfante de comunhão perfeita entre o público e a cantora. O palco simples, minimalista, mas eficaz em termos de imagem e produção audiovisual onde a banda se enquadrava perfeitamente. Se muitas vezes se discute se realmente o meo arena é uma boa sala de espectáculos, em Adele o som estava bem definido e bom para um espectáculo como este. Adele é dotada de uma voz poderosa e ao vivo não houve falhas, mesmo no set mais acústico constituído por “Million Years Ago”, “Don’t You Remember” e “Send My Love (to Your New Lover)”.
Como referimos amiúde, num concerto em nome próprio, o frontman brilha ainda mais quando a banda desconhecida atrás de si é constituída de bons músicos. Em Adele destaca-se a secção rítmica, Aaron Draper na percussão e Derrick White na bateria. Músicas como “Rumour Has It”, “I Miss You” ou “Rolling in the Deep” ganham uma força imensa ao vivo.
Adele é uma tagarela!
Adele é uma tagarela! Uma contadora de histórias nata, ficámos a saber que adorou a comida portuguesa, que foi à praia, ao zoo, que andou nos copos no Rock in Rio – o “Boss” é um gentleman e deu-lhe um casaquinho para o frio – e que se levantou ás 5h da manhã, neste dia, por causa do filhote e mais uma dezena de histórias. Contou-nos que a sua música preferida é “When We Were Young”, e no concerto através do ecrã gigante partilhou fotos da sua infância e adolescência. Já se sabia que cerca de 6 mil bilhetes tinham sido comprados fora de Portugal e Adele não se cansou, durante todo concerto, de perguntar de onde vinha essa malta. Com Portugal no top de destinos de férias dos ingleses, muitos foram os conterrâneos que aproveitaram para vir dizer “Hello” a Adele.
Por vezes, tornou-se até um pouco chatinha, mas Adele é genuína, a gargalha é deliciosa, e temos vontade de sair dali e ir para pub inglês beber uma pint com ela. Adele confessa que nunca ouviu um público a gritar tão alto, «e já assisti a um concerto de One Direction», brincou. Já sabemos que o público português gosta de cantarolar e de acarinhar quem o acarinha de volta. Adele espalhou beijinhos voadores, acenou várias vezes, falou com este e com aquele, cantou os parabéns ao pequeno Pedro, de rabo para o ar, pousou e fez caretas para selfies. Se não tivesse sucesso como cantora poderia ter uma brilhante carreira em stand-up comedy.
Por vezes, tornou-se até um pouco chatinha, mas Adele é genuína, a gargalha é deliciosa, e temos vontade de sair dali e ir para pub inglês beber uma pint com ela.
Com apenas três álbuns, a cantora já tem numerosos hits sendo raros os momentos em que se percebe que o público arrefece e torna-se mero espectador. Em praticamente todas as músicas, Adele teve um coro constituído por milhares de pessoas. Com “Set Fire to the Rain” veio a chuva, literalmente, no centro do meo arena, Adele cantou rodeada por um cortina circular de água, mais uma vez um elemento cénico simples mas eficaz.
Para terminar, a música escolhida foi a maçadora – a culpa é das rádios – “Rolling in the Deep” e Adele confessou «best show in my live!». Do tecto caíram os já famosos confetis, mas desta vez com mensagens e excertos de músicas escritas à mão, um recuerdo fofinho para quem quis guardar. Lia-se «Hello», «Thanks for coming», «Regrets and mistakes they’re memories made», «It matters how this ends» ou «Everybody loves the things you do».
Numa altura em que as grandes vozes femininas internacionais – dentro deste género – com pouca frequência fazem tours, como Céline Dion, Mariah Carey, Gloria Estefan ou até mesmo pensando em Whitney Houston, não será exagerado dizer que a continuar com este percurso, Adele poderá ascender e colocar o seu nome lado a lado destas grandes vozes.
Foto de entrada: Facebook oficial Everything is New. Não foi permitido captar fotos do espectáculo.
SETLIST
- Hello
Hometown Glory
One and Only
Rumour Has It
Water Under the Bridge
I Miss You
Skyfall
Million Years Ago
Don’t You Remember
Send My Love (to Your New Lover)
Make You Feel My Love
Sweetest Devotion
Chasing Pavements
Someone Like You
Set Fire to the Rain - Encore
All I Ask
When We Were Young
Rolling in the Deep