Desde que explodiu nos EUA e Reino Unido, a tradição do post-punk revival, hoje em dia abreviada como indie rock – para infelicidade daqueles que consideram indie rock o original dos anos 80 – tem estado tão presente em Portugal como nesses mesmos locais. Facto que tem levado, inversamente, a que muito desdém se tenha dirigido a novas bandas que reciclem esta já bem rodada sonoridade, geralmente com resultados bastante inferiores: não precisamos de mais uma cópia mal-fadada dos Arctic Monkeys a encher-nos a cabeça de coisas que já ouvimos vezes sem conta.
Liquid Springs cheira a tudo o que, não sendo propriamente inovador, é moderno.
O que não significa que tenhamos de menosprezar quem tente executar o infame indie rock com mais brio que os seus contemporâneos: precisamos, sim, de quem o toque com mais destreza que os Ganso ou que os Birds Are Indie, de quem materialize o revivalismo neste país com mais eficácia que os Golpes ou os doismileoito. E embora os Ditch Days não possuam a resposta para todos estes problemas, o seu disco de estreia aponta para a direcção correcta.
As suas composições geralmente bastante capazes e adequadas ao género são pontuadas por trejeitos dos Growlers, maneirismos do Mac DeMarco e toques ligeiros do neo-psicadelismo de Tame Impala, embora o grosso do trabalho se deva ao legado dos Strokes, tão influentes quanto se pode conceber nos dias de hoje. E enquanto os Pontos Negros outrora proferiam, com alguma autoconsciência, «Eu não me chamo Casablancas», Ditch Days abraçam com convicção a referência, chegando a convidar a emblemática voz do cantor a surgir em “Blue Chords”, de longe o seu melhor esforço. É com este sentido de pertença, algum humor e muita confiança à mistura que fazem do indie rock o seu indie rock – o que é mais do que se pode dizer da maioria dos grupos hoje em dia.