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Evanescence, Uma Imensa (e Intensa) Catarse Musical

Evanescence, Uma Imensa (e Intensa) Catarse Musical

2022-12-12, Campo Pequeno, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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Passados 10 anos desde a sua última passagem por Portugal, os Evanescence regressaram a Lisboa para um reencontro recheado de emoções à flor da pele. Na bagagem trouxeram o seu mais recente álbum “The Bitter Truth”, mas foram os clássicos de “Fallen” que despertaram um maior apego entre o público e Amy Lee.

Quando falamos de indústria musical, falamos de um conceito com mais de 70 anos, que engloba várias entidades cuja finalidade é gerir a música enquanto atividade económica. Desta forma, fazem também parte deste núcleo todas as entidades que durante décadas foram ditando as modas relativas ao consumo de música por parte do público. Por sua vez, o conceito de moda é algo que remete para uma ideia de efemeridade, ou seja, algo cuja ação ao longo do tempo se apresenta como curta. Na música podemos fazer esse paralelismo com as correntes musicais, isto porque, em média, uma corrente musical apresenta uma esperança média de vida de 5 a 10 anos.

Se perguntar-mos a um músico com uma carreira extensa qual é que é o segredo para a sua longevidade, muitos certamente que responderão que o segredo está na capacidade de se reinventarem e de se manterem relevantes.

Os mais desatentos certamente dirão que os Evanescence são uma banda datada, que apresenta uma sonoridade desatualizada e que os seus tempos áureos já lá vão. Contudo, não poderiam estar mais enganados, isto porque apesar dos Evanescence se manterem fiéis à sua sonoridades original, estes têm também apresentado nos seus mais recentes trabalhos uma produção moderna, e muito se deve ao trabalho genial do produtor Nick Raskulinecz. Por outro lado, as letras de Amy Lee sempre demostraram uma capacidade inata para falar ao coração dos fãs e a todos aqueles que se sentem incompreendidos e é precisamente aí que os Evanescence fazem a ponte com a atualidade, aspetos como a saúde mental e a aceitação pessoal fazem parte da “componente teórica” dos concertos dos Evanescence e isso ficou bem patente durante o concerto do Campo Pequeno em Lisboa, nomeadamente através das várias intervenções altruístas de Amy Lee ou ainda com a receção em palco da bandeira arco iris. 

Sejamos sinceros, os Evanescence apresentam uma considerada falange de fãs em Portugal, contudo já não estão no seu auge. A realização do concerto na sala do Parque das Nações apresentava-se como um projeto extremamente ambicioso e com poucas probabilidades de alcançar os resultados desejados.

Como já tínhamos previsto, o Campo Pequeno apresentou-se bem composto e horas antes chegou mesmo a esgotar, no entanto, foi possível circular de forma desafogada na parte de trás da plateia, provavelmente porque muitos terão desistido devido ao alerta laranja lançado pelas entidades competentes. A transição do concerto da Altice Arena para o Campo Pequeno devido aos adiamentos provocados pela pandemia revelou ser a escolha acertada. Sejamos sinceros, os Evanescence apresentam uma considerada falange de fãs em Portugal, contudo já não estão no seu auge. A realização do concerto na sala do Parque das Nações apresentava-se como um projeto extremamente ambicioso e com poucas probabilidades de alcançar os resultados desejados. Desta forma, e tendo em conta as alterações realizadas ficámos com a ideia de que neste momento, face à dimensão dos Evanescence em Portugal, o Campo Pequeno apresenta-se como a sala ideal para receber a banda proveniente do Arkansas.

The Bitter Truth 

Para esta tour, intitulada Worlds Collide, os Evanescence optaram por combinar dois momentos referentes à sua carreira. O mais importante, diz respeito à celebração dos 25 anos da banda, que por motivos pandémicos, ficou adiada para este ano de 2022. O segundo momento de destaque prende-se com a apresentação do mais recente trabalho de estúdio “The Bitter Truth”, editado a 26 de Março de 2021. Muitas são as bandas que aquando dum lançamento dum novo álbum optam por tocar apenas duas ou três músicas desse novo registo, de preferência no princípio das atuações, para reservar o resto da atuação para os clássicos. Contudo, os Evanescence apresentam uma total confiança e apreciação para com o seu material mais recente, e prova disso esteve patente na escolha de 7 músicas de “The Bitter Truth” para rechear a setlist e temas debutantes como ” Wasted on You”, “Far From Heaven” ou “Better Without You” intercalaram na perfeição com os clássicos “Lacrymosa”, “Your Star” e “Call Me When You’re Sober”.

The Gothic Nightingale

Afirmar que Amy Lee se apresenta como uma das vozes mais relevantes e carismáticas da cena rock/metal alternativa dos finais dos 90s e princípios de 2000s parece ser insuficiente para suportar toda a influência que a cantora californiana teve sobre uma nova geração de cantoras. Com uma tessitura vocal mezzo-soprano, Lee consegue assombrar-nos com o “simples” poder da sua voz ao combinar nuances melancólicas cheias de textura com uma projeção vocal reverberante e riquíssima em termos tímbricos. Aliás, todas as nossas expectativas estavam centradas na confirmação destas valências fora do contexto das gravações de estúdio, e temos a dizer que Amy Lee não desiludiu. É certo que ficámos algo apreensivos quando surgiu o comunicado por parte da banda a informar que Amy se encontrava doente e impossibilitada de cantar. Rapidamente se levantaram dúvidas quanto à continuidade do concerto de Portugal e quanto à rapidez de recuperação da sua voz . Afinal de contas, estávamos perante um hiato de 10 anos e tanto os Evanescence como o público português queriam não só vivenciar uma noite mágica, mas também poder ouvir Amy Lee a atingir todas aquelas notas imortalizadas no álbuns de estúdio. Totalmente recuperada ou não, não foi possível perceber, o que registámos foi a tal voz poderosa que todos conhecemos e sem sinais de fadiga, um aspeto bastante relevante tendo em conta que este foi o penúltimo concerto de uma tour que durou cerca de um mês.

Will Hunt

Todos reconhecemos que é  Amy Lee quem dirige o leme dos Evanescence, algo perfeitamente normal tendo em conta que é o único elemento que se mantém na banda desde a sua génese. Contudo Lee tem reunido à sua volta um conjunto de hired guns com bastantes credenciais. A Lisboa, Lee trouxe a mais recente formação que é composta por Troy McLawhorn e Tim McCord  nas guitarras, Emma Anzai no baixo e Will Hunt na bateria. E o que dizer de Will Hunt? Membro efetivo da banda desde 2009, Will Hunt já tocou em projetos como Skrape ou Black Label Society e apresenta-se como autêntico animal de palco. Dividindo o protagonismo com Lee (pelo menos para nós), Hunt apresenta um estilo que combina a energia jovial dum Arejay Hale com a destreza técnica dum Ray Luzier. Incansável e vistoso, Hunt apresentou-se como um autêntico metrónomo e sem falhar uma única batida também deliciou os presentes com alguns truques nomeadamente drum stick twirls e tosses.

E o que dizer de Will Hunt? Membro efetivo da banda desde 2009, Will Hunt já tocou em projetos como Skrape ou Black Label Society e apresentou-se como um autêntico animal de palco.

O Efeito Fallen

“Fallen” é indiscutivelmente o disco que marca a carreira dos Evanescence. Editado a 4 de Março de 2003, este apresenta-se como o registo que introduziu a banda ao grande público. Com várias músicas compostas quando Amy Lee ainda era uma adolescente de 15/16 anos a passar por uma relação abusiva, “Fallen” é descrito como um álbum impar na cena da música alternativa e faz hoje parte do cânone discográfico de vários movimentos musicais que marcaram a viragem do século nomeadamente os abrangentes Nu Metal e Metal Alternativo, mas também de outros géneros que com o surgimento dos Evanescence sofreram renovações, como é o caso do Rock Gótico ou do Metal Gótico. Prestes a celebrar 20 anos, “Fallen” conseguiu também atingir recentemente a rara certificação de disco de diamante, certificação que premeia os álbuns com vendas superiores a 10 milhões de cópias.  Temas como “Imaginary”, “Going Under”, “My Immortal” e “Bring Me The Life” foram as escolhidas para celebrar esse feito no Campo Pequeno, e a emoção que transbordou com os fãs a entoar cada palavra demonstrou bem a força e a vitalidade destas músicas, que, apesar de terem passado 20 anos continuam a aproximar novos fãs que procuram todo o conforto e compreensão que só as músicas dos Evanescence proporcionam.

A Despedida

Claramente impressionada com a moldura humana e sonora que se encontrava à sua frente, Amy Lee dirigiu-se ao público com vários agradecimentos em português e prometeu não demorar mais 10 anos para regressar a terras nacionais. Empunhando no ar a bandeira das quinas, a banda acabaria por abandonar o palco sob uma enorme chuva de aplausos e assobios. Era agora altura de regressar a casa e enfrentar um dilúvio de proporções bíblicas.

SETLIST

  • Broken Pieces Shine
    Made of Stone
    Take Cover
    Going Under
    Wasted on You
    Lacrymosa
    Lose Control/ Part of Me/ Never Go Back
    Far From Heaven
    Your Star
    End of the Dream
    Better Without You
    Call Me When You’re Sober
    Imaginary
    Use My Voice
    Blind Belief
    My Immortal
    Bring Me to Life