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EVIL LIVE 2024 | Machine Head, A Fúria Avassaladora dos Verdadeiros Headliners

EVIL LIVE 2024 | Machine Head, A Fúria Avassaladora dos Verdadeiros Headliners

2024-06-29, MEO Arena, Lisboa
Rodrigo Baptista
Inês Barrau
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No primeiro dia do EVIL LIVE 2024, o fim das hostilidades ficou a cargo do projeto a solo de Kerry King, porém a medalha de cabeça de cartaz e de melhor concerto do dia vai, sem dúvida nenhuma, para os Machine Head. A banda de Robb Flynn exaltou os ânimos de uma MEO Arena despida, com um concerto demolidor onde reinaram os circle pits, os cânticos em uníssono e um jogo de apanha de cerveja.

Construir um cartaz de um festival de metal nos tempos que correm não é nada fácil. São muitos os subgéneros à disposição, assim como as diferentes faixas etárias com gostos variados. Nesse aspeto, o EVIL LIVE tem procurado agradar a gregos e a troianos, com um bocadinho de tudo em todos os seus lineups. Ao longo destes últimos anos, onde também incluímos o festival VOA, antecessor do EVIL LIVE, os fãs têm respeitado e aderido aos cartazes apresentados, contudo este ano sentiu-se um descontentamento geral face ao lineup apresentado, principalmente aquele que foi construído para o primeiro dia.

A falta de um nome capaz de encher uma MEO Arena era o ponto em que os fãs mais tocavam, assim como a escolha de um projeto ainda na sua génese, o projeto a solo de Kerry King, para ocupar o lugar de cabeça de cartaz. (Sabe a Arte Sonora que a escolha deveu-se ao facto de na noite anterior King ter tocado em Helsínquia, Finlândia, tendo feito uma viagem longa até Lisboa).

O resultado deste descontentamento acabou por revelar-se na fraca venda de bilhetes para o primeiro dia do evento, que acabou por intensificar-se com os vários problemas técnicos a nível sonoro que se fizeram sentir em alguns concertos.

Ainda assim, nem tudo foi defeituoso e prova disso foi concerto magistral que os Machine Head nos proporcionaram.

Ainda assim, nem tudo foi defeituoso e prova disso foi concerto magistral que os Machine Head nos proporcionaram.

De regresso a um festival português, após a sua passagem pelo mítico Optimus Alive 09, os Machine Head chegaram ao EVIL LIVE com uma pequena alteração na sua formação. Wacław “Vogg” Kiełtyka, que tinha entrado na banda em 2019 para substituir o guitarrista solo Phil Demmel, saiu do grupo em 2023 para dedicar-se exclusivamente à sua banda Decapitated. Desta forma, os Machine Head recrutaram Reece Scruggs que, verdade seja dita, desempenhou o seu papel de forma brilhante, particularmente nos solos mais intrincados. Aliás, as suas prestações têm sida tão boas, que até Robb Flynn já lhe cedeu um espacinho no set para Scruggs mostrar todas as suas valências num solo de guitarra. 

(c) Inês Barrau

Ainda a promover “Of Kingdom and Crown” (2022), os Machine Head apresentaram no EVIL LIVE uma setlist que percorreu quase todos os clássicos da banda de Oakland. Desta forma, só houve espaço para ouvir duas novidades.

A abertura foi ao som de “Imperium”. A faixa do icónico álbum “Through the Ashes of Empires” (2003) já tem honras de abertura há muitos anos. A sua introdução em crescendo resulta numa explosão de energia colossal, justificando assim a escolha desta faixa para o início do concerto. No EVIL LIVE não foi exceção, e sem que Robb Flynn abrisse se quer a boca para debitar as primeiras palavras, o público já tinha aberto uma enorme clareira para o primeiro circle pit do concerto. Sem tempo para respirar seguiu-se “Ten Ton Hammer”. Flynn costuma ser bastante falador nos concertos da banda, mas aqui o tempo estava todo contadinho e, afinal de contas, este não era um concerto “An Evening With Machine Head”, que a banda várias vezes apresentou em Portugal com um tempo de atuação a rondar as 3h.

“CHØKE ØN THE ASHES ØF YØUR HATE” foi uma das duas novidades apresentadas. Rápida, feroz e com um refrão enorme, foi recebida pelos fãs como um clássico.

“CHØKE ØN THE ASHES ØF YØUR HATE” foi uma das duas novidades apresentadas. Rápida, feroz e com um refrão enorme, foi recebida pelos fãs como um clássico. Já com uma produção mais trabalhada em relação às restantes bandas que já tinham subido palco no primeiro dia de EVIL LIVE, fomos brindados com um espectáculo repleto de pirotecnia, confettis, martelos e cubos insufláveis e projeções dedicadas a cada tema.

“Now We Die” manteve as vozes de todos bem afinadas, já “Is There Anybody Out There?”, o single editado editado em 2016, fez uso de uma cábula, a passar na tela de fundo, para que todos pudessem berrar um dos refrães mais emotivos dos Machine Head.

“Locust” é uma das composições mais bem conseguidas da banda. À semelhança de “Imperium” também ela faz uso de uma introdução em crescendo que vai desaguar num riff em oitavas colossal e extremamente melódico, proporcionando assim um bonito coro de vozes. Com as luzes verdes a iluminarem o palco, numa clara alusão à estética do álbum “Unto The Locust” (2011), esta foi uma das faixas em que o baterista Matt Alston brilhou ao reproduzir na perfeição os fills intricados de Dave McClain.

(c) Inês Barrau

“NØ GØDS, NØ MASTERS” foi a segunda, e última incursão, a “Of Kingdom and Crown”. Seguiu-se o solo de guitarra já mencionado de Reece Scruggs. A inclusão de um solo de guitarra na setlist de um concerto de festival é sempre questionável. Aliás, os Machine Head poderiam ter facilmente encaixado nesse espaço temporal mais um clássico. Todavia, Flynn poderá sentir-se na necessidade de dar algum protagonismo ao novato da banda e só por isso já devemos enaltecer este momento. 

Praticamente sem pausas para respirar dos circle pits ofegantes, foi necessário chegarmos à acústica/elétrica “Darkness Within” para acalmar os ânimos. Aqui, Robb Flynn já demonstrou todo o paleio que lhe é reconhecido. Entre agradecimentos, relembrou o dia de aniversário da sua falecida mãe e dedicou o tema a todos aqueles que já perderam alguém na vida.  Desde a saída do baixista Adam Duce em 2013, Jared MacEachern tem-se revelado o braço direito de Flynn nos Machine Head e ao vivo é um músico irrepreensível, não só na forma como toca todas as linhas de baixo, mas também na sua entrega. Além de tudo isso, MacEachern é um excelente vocalista e as suas harmonias em “Darkness Within” destacam exactamente essa que é uma das muitas características das malhas dos Machine Head.

(c) Inês Barrau

“Bulldozer” e “From This Day” levaram-nos à transição do milénio, quando o nu metal era a sonoridade predominante na discografia da banda. Headbang sincronizado, saltos a compasso e mais refrões orelhudos foi o prato servido nestas duas malhas.

Já quase na reserva de confettis e de pirotecnia, ainda houve tempo para disparar os dois maiores clássicos dos Machine Head. Primeiro “Davidian”, esse petardo do primeiro álbum do grupo, “Burn My Eyes” (1994), que foi tocado pela primeira vez em Portugal há precisamente 20 anos no Pavilhão do Dramático de Cascais, e “Halo”, o épico de 9 minutos de “The Blackening” (2007) que sempre que é tocado ao vivo parece resultar numa espécie de oração entoada a plenos pulmões por todos os Head Cases. O tema foi antecedido por cânticos futebolísticos e por um jogo de apanha de cerveja, com Robb Flynn a desafiar os fãs com maior destreza a apanhar os seus copos voadores.

Se este foi o melhor concerto de Machine Head em Portugal até à data? Não conseguimos decidir (ainda nos lembramos do concerto dado no Campo Pequeno!), mas foi, sem dúvida, um dos mais intensos, ruidosos e apaixonantes concertos que a banda já deu em Portugal e onde o lema “poucos, mas bons” se fez sentir com todo o seu significado.

SETLIST

  • Imperium
  • Ten Ton Hammer
  • CHØKE ØN THE ASHES ØF YØUR HATE
  • Now We Die
  • Is There Anybody Out There?
  • Locust
  • NØ GØDS, NØ MASTERS
  • Guitar Solo
  • Darkness Within
  • Bulldozer
  • From This Day
  • Davidian
  • Halo