God Is an Astronaut + Quelle Dead Gazelle
2013-10-09, TMN ao VivoUma fila de pessoas à porta do TMN ao Vivo à espera da sua vez para entrar na sala que recebe os God is an Astronaut, em Portugal pela enésima vez, é sinal de que a sala estará bem composta. Previsões confirmadas quando entramos e damos de caras com a sala praticamente cheia, a ouvir os primeiros acordes do concerto de Quelle Dead Gazelle.
O duo lisboeta, formado em 2012, tem vindo a ganhar nome no circuito do rock alternativo português, tendo sido este ano especialmente relevante para a banda, com alguns eventos que os fizeram romper algumas membranas: venceram o Festival Termómetro deste ano e tocaram no Optimus Alive!.
Abriram a noite com o seu som impregnado de inspirações muito díspares, desde momentos de pura energia rock, passando por equações mais math, chegando a incluir algumas africanadas, onde o ritmo convida à tímida dança de alguns dos presentes. Conseguir coesão sonora ao vivo apenas com guitarra e bateria não é tarefa fácil, mas os Quelle Dead Gazelle, apesar de serem uma banda ainda recente, conseguem cumprir com aquilo a que se propõem. Pedro Ferreira agasalha a guitarra com delays e pitch shifter, e o som fica preenchido. O duo tem daquelas músicas com partes em que a bateria, a cargo de Miguel Abelaria, não se limita a marcar compasso, mas cumpre com o seu próprio riff, a par da guitarra. Estamos certos ao dizer que para quem não conhecia, este foi um concerto para convencer.
God is an Astronaut entram em palco de seguida, após um curto interregno. Compreende-se pelas palmas, braços no ar, e assobios contínuos a excitação que percorre muitos dos presentes, que anseiam ser bafejados pelas camadas sonoras de uma das maiores referências do post-rock contemporâneo. “Olá Lisboa!” lança Jamie Dean, no sotaque típico de estrangeiro, e arrancam com a “Weightless” em crescendo.
Era de esperar que fossem focar muito o set em músicas do novo álbum “Origins”, a segunda música a ser tocada, “Transmission”, reforça essa intuição, mas a terceira contraria: “All is Violent, all is Bright” do álbum homónimo de 2005, faz o público responder com assobios e entusiasmados gritos, numa sala composta tanto por miúdos recém-chegados ao deslumbre do post-rock como por pessoal mais velho que admite já ter visto “os God uma porrada de vezes”.
Uma inovação neste novo álbum foi a utilização do vocoder, algo que a banda transporta para o espectáculo ao vivo e acaba por usar também em músicas antigas, o que acaba por causar alguma confusão e estranhamento para os fãs mais puristas. Em palco vemos uma Fender Jaguar, envergada pelo mais recente membro, Gazz Carr, duas Gibson ES 335 pelos os outros dois guitarristas e um Precision Bass.
O set vai avançando com músicas do “Origins”, mas, para a notória alegria de muitos, também com algumas revisitações de discos antigos: “Echoes”, “Fire Flies and Empty Skies” , “From Dust to Beyond” fazem parte do cardápio, e são os petiscos que muitos parecem mais apreciar.
Não vou dedicar atenção a trocadilhos com o nome da banda, mas foi efectivamente um concerto espacial. A começar pela t-shirt da Nasa de Jamie Dean e a acabar no próprio som da banda, não fosse um grito gutural que rompe do público a pedir comicamente para tocarem Slayer, não nos lembraríamos que, apesar de haver músicas mais heavy, que ao vivo ainda ganham mais peso, estamos perante uma banda que agrada a alguns metalheads do mesmo modo que agrada a “spaceheads”.
Depois de catorze músicas tocadas, e passada uma hora e tal, os God Is an Astronaut fazem ainda um encore de três músicas perante a insistência do público. “Let’s make this show the best one of our tour” grita entusiasmado Torsten Kinsella, pedindo para tirar uma fotografia ao público: toda a gente com as mãos no ar com aquele orgulho português de quando uma banda estrangeira atira uma destas.
O público, que se foi mantendo moderado no que toca a manifestações físicas de entusiasmo e contágio musical, agora no encore solta visivelmente “a franga”, havendo mais movimento, saltos e energia com o fecho da noite a cargo das músicas “Red Moon Lagoon”, “Suicide by Star” e “Route 666”, que servem de despedida aos God is an Astronaut, entre palmas, assobios, e alguns hi-fives entre os “astronautas gaélicos” e os fãs lusitanos. Vemo-nos do outro lado da órbita.