Editado em 1988, “I’m Your Man” é imediatamente associado alguns dos maiores hit singles de Leonard Cohen, como a canção homónima do álbum ou “Ain’t No Cure For Love”. Contudo, é um álbum que reflecte os sinais dos tempos (ou a estética tão pronunciada da década de 80) e que determinou muitas mudanças na música do trovador canadiano. O sucesso do disco deve-se à forma tão suave, quase ilusoriamente imperceptível, como Cohen reajustou a sua matriz musical e a redefiniu para uma nova era, sempre com o seu distintíssimo carisma vocal como constante.
Em I’m Your Man a minha voz estabilizara e não me fazia sentir ambíguo. Podia, finalmente, emprestar a autoridade e intensidade necessárias às canções, Leonard Cohen (in Uncut)
Tendo atravessado a década de 80 quase sem editar um álbum, o único “Various Positions”, aliás, nem sequer teve edição norte-americana, Leonard Cohen foi trabalhando em projectos paralelos e na recriação do seu som. Para isso, Cohen reuniu três produtores (Roscoe Beck, Jean-Michel Reusser e Michel Robidoux) ao seu próprio trabalho, alternando entre Los Angeles, Califórnia, e Montréal, no seu Quebec natal, e passou a explorar elementos electrónicos como principal expressão instrumental (ao invés da tímida abordagem realizada no álbum anterior). O uso de sequenciação, drum machines, synclavier e sintetizações, expandiu o seu som e, em conjunto com elementos exóticos como o bouzoki, o oud ou o violino, tornou-o bastante mais rico.
Voltando um pouco atrás, um dos projectos em que Cohen trabalhou na década de 80 foi o tremendo “Famous Blue Raincoat”, uma colecção de canções suas interpretadas pela voz de Jennifer Warnes (após o enorme sucesso desta ao lado de Joe Cocker, em “Up Where We Belong”, a canção de “Oficial e Cavalheiro”). Jennifer Warnes, surgia agora em “I’m Your Man”, a comandar as teias melódicas dos coros em torno da voz de Cohen, fazendo despontar ainda a talentosa Anjani Thomas, naquele que foi o seu primeiro trabalho junto de Cohen.
A concentração de charme e talento presentes no disco, tal como a sua revolução sonora e o pico de maturidade de composição de Leonard Cohen, foi como uma tempestade perfeita, capaz de fazer emergir obras-primas aparentemente revestidas de ingenuidade como a canção que encerra o álbum, “Tower Of Song”, ou as marcantes e extraordinárias “Ain’t No Cure For Love” e “Everybody Knows”. “I’m Your Man” foi aclamado pela crítica como o primeiro álbum do seu “período tardio”, durante o qual, nas três últimas décadas, se exprimiu na sua melhor qualidade e produtividade.